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20/02/08
Falsidades humanas
Todos querem ser o protagonista
da vida. O bonzinho, correto, que não faz mal a ninguém
e que ainda por cima tem uma boa vida, estabilidade, um
amor correspondido e é feliz. Se por detrás
disso há mentiras, então que elas sejam bem
feitas. Se por detrás disso há traição,
que sejam bem escondidas. O que importa é mostrar
para o outro aquilo que você não é,
mas acredita ser. O que vale é apenas a aparência,
ainda que ela englobe muito mais que vestes e orgulho. O
que vale é aparentar estar feliz, afinal jogar tudo
pro alto e admitir que em algum momento você fracassou
nos retira da posição confortável que
é achar que estamos bem. Fingimos-nos de bobo para
viver. Quem nunca fez isso?
Revelar-se é para poucos,
talvez para os idiotas que acreditam na honestidade e verdade
acima de todas as coisas. É para aqueles que não
agüentam esconder do outro seus defeitos, por mais
negros e assustadores que eles sejam ou pareçam ser.
É para aqueles que não suportam o peso da
culpa nos ombros. Dói ser honesto, dói não
se reconhecer nas atitudes, dói crescer forçado.
Dói falar e ouvir que se errou. Ninguém gosta
de admitir erros, de ser apontado como o vilão da
história, como se toda a responsabilidade fosse única
e exclusivamente sua. Ser honesto não te redime dos
erros. Pelo contrário, é estar certo de que
muitos pedregulhos serão lançados em sua direção.
Porque apontar o erro dos outros é a coisas mais
fácil e mais corriqueira que fazemos, afinal quando
enxergamos o erro alheio não paramos para pensar
nos que nós mesmo cometemos.
É fácil retirar
o foco de si e pôr no outro, difícil é
tentar entender o outro lado das coisas. Difícil
é conviver com coisas e pensamentos que te atormentam
e que você não gostaria de tê-los com
você. Difícil é reconhecer que se está
perdido. Difícil é reconhecer que tudo se
perdeu. Difícil é estender as mãos,
oferecer um colo, um abraço para um coração
despedaçado. É fácil estarmos mal e
cobrarmos do outro, difícil é estar bem e
ver que o outro precisa de nós. Difícil é
esperar que nossos amigos estarão lá quando
mais precisarmos e notarmos que poucos são os que
se aproximam. Em muitos casos são os que nós
menos esperamos. É fácil aparentar que se
está feliz. Difícil é ser feliz de
verdade. A única coisa que eu sei é que de
todo amor o que nos resta é apenas o cinismo.
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Patrícia Caldas
é uma carioca que ama Belo Horizonte, mas não
abre mão das lindas praias da cidade maravilhosa.
Sua alegria está em escrever e gritar para os quatro
cantos do mundo suas verdades. Além de ter esperanças
de um mundo melhor, ser irônica e perspicaz, é
jornalista. Escreve todas as quartas-feiras na coluna Diz
Tudo. E-mail: p.jornalista@gmail.com
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