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17/10/07
E o circo vai começar
Do
Rio de Janeiro - Capital
Basta uma fita de vídeo
e um questionário com mil e perguntas, muitas de
cunho idiota, para você se tornar um BBB. Não
precisa ser inteligente, ter feito cursos dos mais inovadores
e intelectuais possíveis. Não precisa ser
poliglota, educado, gentil. Basta apenas ser cara de pau,
botar a cara a tapa e de preferência ter um corpo
escultural, sem celulites, manchas ou gordurinhas à
mostra. Se for loira sua chance aumenta em 90%. Se tiver
silicone, em 91%. Se tiver poucos neurônios então,
em 99%. Além disso, você ainda pode contar
com a sorte e não mandar fita nenhuma, nem responder
a nada, simplesmente ser “achado” pela produção
dos “brothers mais famosos do Brasil”.
Ilude-se quem pensa que deixar a toalha cair é sinônimo
de fama. Claro que a instantânea, aqueles 15 minutinhos
de alegria, todos eles têm, porém são
poucos, muito poucos, os que conseguem fazer alguma carreira
por terem sido um bobão vigiado. Não bastassem
as câmeras que se escondem pelos caminhos em que passamos
diariamente há aqueles que buscam um lugar ao sol
sendo vigiados por elas 24 horas por dia. É um caminho
mais curto e nem sempre implica em menos esforços.
Tem gente que tem que ralar, oh e como tem, para conseguir
chegar lá! Na sociedade do espetáculo, do
grotesco, nessa mesma em que vivemos, onde tudo, ou quase
tudo, se sobrepõe ao ser, o palco dos “brothers”
é o lugar perfeito para a extrema visibilidade e
oportunidades de se expor, nem que seja ao ridículo.
E quem consegue viver rodeado de gente estranha, nas quais
você acaba chamando de “amigos de infância”
em dois dias e que em uma semana se tornam “irmãos”
e, é claro, sabe ser político se aliando aos
que tem mais probabilidade de permanecer, tem a chance de
chegar ao pódio BBB e levar uma quantia exorbitante
pra casa, com direito a muitas fotos pelada e mais dim dim
no bolso. Uma grana que muitos que esforçam e trabalham
a vida inteira não conseguiriam nem que trabalhassem
até morrer! O pior é que nós os assistimos,
nem que seja para criticá-los. Somos nós,
sociedade medíocre, que torcemos para o bonzinho
ganhar, quem dá ibope para esta indústria
da imbecilidade que nos torna semelhantes a eles. Vivemos
mesmo no grotesco e é disso que nos alimentamos.
Não queremos nada que nos faça pensar, apenas
me ofereça músculos para ver, fofocas e intrigas
para preocupar e um controle remoto na mão para desligar
a TV quando os tímpanos estiverem prontos para explodir
com tanta bobagem.
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Patrícia Caldas
é uma carioca que ama Belo Horizonte, mas não
abre mão das lindas praias da cidade maravilhosa.
Sua alegria está em escrever e gritar para os quatro
cantos do mundo suas verdades. Além de ter esperanças
de um mundo melhor, ser irônica e perspicaz, é
jornalista. Escreve todas as quartas-feiras na coluna Diz
Tudo. E-mail: p.jornalista@gmail.com
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