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13/02/08
Máscaras
A chegada do carnaval me fez
recordar aqueles bailes de antigamente. Não que eu
os tenha freqüentado com veemência ou coisa e
tal, mas cheguei a pegar uma época em que colocávamos
fantasias e máscaras e saíamos, junto com
nossos pais, de mãos dadas, rumo ao clube. Lá
dentro, com confete e serpentina nas mãos pulávamos
e festejávamos a festa da carne, do pecado e das
orgias popularmente conhecida como carnaval. Ao som das
marchinhas, vendo a alegria movida a álcool, não
compreendia muita coisa e na verdade nem era essa a intenção,
mas pude perceber o brilho e o fascínio das máscaras.
Por traz de cada uma havia um rosto e um misto de sentidos
e sentimentos, que naquele momento se ocultavam por detrás
das purpurinas.
Enfeitadas ou não, as
máscaras nos acompanham quando o baile termina. Estão
presentes quando a vontade é chorar, mas apresentamos
um belo sorriso amarelo. Estão no dia-a-dia, seja
ele chato, difícil ou excelente. Em todo tempo, até
quando estamos sozinhos. Até quando é preciso
encarar a nós mesmos. Vivemos com elas, fazemos trocas,
permutas e é nesse meio tempo que algumas caem, saem
do ajuste e molde do rosto. Mas não permanecemos
muito tempo sem elas. Quantas vezes temos que aparentar
que está tudo bem, quando na verdade a alma e o coração
estão em conflito? Quantas vezes somos surpreendidos
por situações nas quais há outra pessoa
esperando respostas que só você pode dar? E
nós damos. Colocamos a máscara adequada e
seguimos em frente. Felizmente ou não, elas fazem
parte do calendário e da vida de todos. Uns sabem
usá-la com decência. Outros desconhecem seu
uso, mas o que todos pelo menos deveriam saber é
cada um traz a sua grudada na face.
É triste perceber que
ninguém está verdadeiramente preparado para
se mostrar tal como é ou gostaria de ser. Sempre
escondemos, ou pelo menos ocultamos o que sentimos, desejamos,
pensamos. Quem nunca escondeu segredos, contou meias verdades
ou falou uma coisa pensando em dizer outra? Quem nunca magoou
alguém por usar as palavras erradas? Quem já
foi forte o suficiente para não deixar o orgulho
dominar a mente nos momentos insanos? Jamais consegui retirar
do rosto uma única máscara e só hoje
entendo por que.
Na verdade as máscaras
são os sentimentos que afligem a alma e atordoam
o espírito refletidos na face de quem vive a pensar
que viver é estar em um eterno baile, em que nem
sempre toca a música que queremos ouvir.
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Patrícia Caldas
é uma carioca que ama Belo Horizonte, mas não
abre mão das lindas praias da cidade maravilhosa.
Sua alegria está em escrever e gritar para os quatro
cantos do mundo suas verdades. Além de ter esperanças
de um mundo melhor, ser irônica e perspicaz, é
jornalista. Escreve todas as quartas-feiras na coluna Diz
Tudo. E-mail: p.jornalista@gmail.com
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