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Quarta-feira - 14/03/07
Sábias crianças
Quando entrei por aquele corredor novamente vi que ele não era tão grande como parecia. E olha que ele se tornou diversas vezes pista de corrida e ciclovia para àquela bicicletinha cor de rosa com cestinha na frente e rodinhas atrás. E quantas foram às vezes em que as campainhas soaram e partíamos correndo feito desesperados. Tudo era perfeito. O dia durava muito mais que os de hoje. E olha que eram tantos afazeres! E claro, o cansaço era inevitável, afinal armar uma casinha de bonecas aqui, fazer a comidinha ali, ensinar as bonecas a cantarem, além de ser a professora da escolinha, era muito difícil. Sem contar que as brincadeiras variavam muito. Era um tal de carregar livros pra um lado, inventar novas roupinhas, nomes, ler historinhas...Meu Deus! A preocupação que tínhamos era se no dia seguinte teríamos mais tempo de brincar. Dormíamos com os anjos, sonhávamos com um mundo bom e com o que seríamos ao nos tornar “gente grande”.
Enquanto somos crianças ninguém se vê no direito de destruir nossos sonhos, afinal, somos apenas crianças. Mas depois, quando começamos a aprender o significado e o sentido das dificuldades, vamos deixando esses mesmos velhos sonhos de lado. Achamos que não somos capazes de realizá-los, que não temos isso ou aquilo outro. Procuramos defeitos e os achamos em nós a ponto de, muitas vezes, desistirmos.
Ou então nem é isso. O tempo simplesmente passa e passa depressa demais e quando notamos não temos tempo pra nada. As prioridades vão se distanciando daquilo que tínhamos certeza que era o que daria sentido à nossa existência e quando vamos ver a oportunidade passou, a vontade acabou e o que restou? Vai saber...
Uma vez eu ouvi uma história que falava sobre uma tartaruga. Ela estava disputando uma corrida com outros animais e ninguém dava nada por ela. Só que durante o percurso muitos desistiram, porque ouviam os animais que estavam ao lado dizerem que eles não eram capazes. E acreditando nisso, nem ao menos tentavam. Só que a tartaruga, além de lerda, era surda. Ela não ouviu uma palavra que eles disseram e na sua calmaria foi a grande vencedora.
Muitas vezes deixamos de acreditar em nós para seguir aquilo que os outros acham ou falam. Nos deixamos influenciar. Desistimos quando vemos que a montanha é grande e o caminho é árduo. Deixamos assim os nossos sonhos de molho dentro da gente por anos afio até o dia em que eles apodrecem. E o pior é que só percebemos sua morte quando começamos a exalar o cheiro da frustração. Será que se tivéssemos tentado, ao menos tentado... Gente grande tem dessas coisas mesmo.
Enquanto somos crianças carregamos os sonhos com mais cuidado. Mas sabe, a conclusão que eu chego nisso tudo é que grande mesmo são as crianças. Talvez elas sejam mais sábias que os adultos e as únicas que quando a onda do mar vem e desmancha o “castelinho de areia” dão gargalhadas. E sorriem felizes porque sabem que podem recomeçar. Assim é fácil entender porque para elas todos os sonhos são possíveis.
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Patrícia Caldas é uma carioca que ama Belo Horizonte, mas não abre mão das lindas praias da cidade maravilhosa. Sua alegria está em escrever e gritar para os quatro cantos do mundo suas verdades. Além de ter esperanças de um mundo melhor, ser irônica e perspicaz, é jornalista. Escreve todas as quartas-feiras na coluna Diz Tudo. E-mail: p.jornalista@gmail.com |
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