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Quarta-feira - 28
/03/07
Parafraseando a “vaquinha”

Sempre quando penso na evolução do homem, e não me refiro aqui aos primórdios da Terra, me lembro da vaca, que por sinal é um animal sensacional. Veja só. Se eu pudesse escolher, lá em cima, antes de adentrar o rol dos humanos, eu optaria por ser vaca. O bicho come o dia todo, engorda, fica pastando e não ta nem aí. Não se preocupa com moradia, contas a pagar, se o dólar aumentou ou não, se é feia ou não, se tem estrias, celulites ou uns quilinhos a mais. Não ta nem aí pra nada. Não se importa de ter tetas, de comer capim e nem de ser chamada de “vaca”. Quem dera se nós, racionais, fôssemos assim.

E o Seu João, lá do interior de Minas, tinha uma vaquinha, a Mimosa. Ela era o estereótipo das que vemos nos filmes: sininho no pescoço, preta e branca e do tipo leiteira. A esposa e os três filhos, já crescidos, compunham aquela família, que tinha a vaca como sustento principal. E eles passaram a vida toda dependo dela. Tiravam o seu leite, vendiam e com ele também se alimentavam. Eram preguiçosos, de poucos bens, poucos mesmo, quase nada. O que tinham de valor era a vaca.

Um belo dia o vizinho, o Seu Antenor, resolveu dar um fim naquela vaca gorda. Ele e o Seu João haviam tido uns atritos, coisas da roça, e aí, para se vingar, ele foi lá, na calada da noite, e a matou. Quando a família do Seu João acordou, veio à surpresa. Estirado no chão, o cadáver da vaca. E lá do outro lado da cerca, Seu Antenor sorria pela desgraça do vizinho. Mal sabia ele que o mal veio como benção...

Mimosa foi muito mais significativa na vida deles morta que viva. Enquanto ela viveu e serviu de sustento à família eles permaneceram preguiçosos. Acomodaram-se com o que ela lhes oferecia. Nunca progrediram, porque sempre tiveram a “vaquinha” para se apoiar. A partir do momento em que ela lhes foi tirada a vida deles começou a mudar. Eles se mexeram. Arrumaram emprego. Mudaram de vida. Enriqueceram-se. Nem se lembram mais da roça. O mal que o Seu Antenor quis lhes causar foi o melhor “bem” que eles puderam receber.

Muitos de nós estamos assim, feito o Seu João. Não progredimos enquanto sabemos que temos aquilo ali, que cabe e está ao alcance de nossas mãos. Não arredamos o pé da preguiça, porque temos com quem contar, porque temos “tetas” pra mamar.

Estamos progredindo? Que bom. Mas podemos fazer mais? Podemos fazer melhor? É preciso otimismo e muito mais que isso, força de vontade. É preciso coragem para deixar as Mimosas partirem, essas que vemos aí, todos os dias, infiltradas no congresso, no plenário, nas bancadas, nas emissoras, nos políticos, nos governantes...

O Brasil nasceu em berço esplêndido e esqueceu que a vida exige muito de quem está de pé. Temos que evoluir enquanto cidadãos, enquanto pessoas. A vida espera algo de nós. Somos jovens de 10, 40, 70 e 100 anos. Temos a força nas nossas mãos. Somos povo, somos sociedade. Somos nós os responsáveis pelo rumo das coisas. É preciso desamarrar a corda e deixar as Mimosas partirem. É preciso disposição para isso. Eu to dentro. E você?

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Patrícia Caldas é uma carioca que ama Belo Horizonte, mas não abre mão das lindas praias da cidade maravilhosa. Sua alegria está em escrever e gritar para os quatro cantos do mundo suas verdades. Além de ter esperanças de um mundo melhor, ser irônica e perspicaz, é jornalista. Escreve todas as quartas-feiras na coluna Diz Tudo. E-mail: p.jornalista@gmail.com

 

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