
20/10/08
Mazela
encefálica
Imperativa e sem cerimônias ela apresenta-se, é
imprevisível. Aos poucos apropria de todas as partes.
Desperta a neura, as dúvidas, faz refletir. Por quê?
Mexe com os sentidos, aperta, pulsa, lateja.
Na última vez,
chegou no meio da noite trazendo náuseas, incômodos
e desconfortos. Entre voltas e reviravoltas, causava delírios.
Nenhum prazer; estava a poucos segundos do inferno. As veias
pareciam romper-se a cada lance de sangue que era jorrado
nas minúcias do meu ser. Envolvia-me em cólera.
Severa e intensamente,
ela me desconcentrava. Não conseguia mover os olhos,
tampouco levantar. A cama era o que seguramente me sustentava.
Lutava contra.
Permaneci ali, intacta,
às vezes até sem respirar, acreditava que
passaria. Não passou. Para descrevê-la seria
como algo perfurando toda a extremidade superior do corpo.
Levantei. Tudo escuro, o silêncio pairava no ar. Uma
ambigüidade; sossego versus martírio, agonia.
Remediar, opção
única que restava. Um Tilenol de algumas, não,
muitos miligramas, afastaria, pelo menos por instantes,
aquele desespero. Tomei, deitei. Longe dos devaneios e embriagada
de dor, pus-me a fazer os exercícios de respiração.
Uma, duas, três vezes até que o sono fez-se
o senhor do cenário.
Acordei, e em mim ainda
havia resquício do sofrimento de uma noite insone
e “dolorida”. A sede do pensamento, nesse dia,
não trazia lembranças de sonhos e nem disposição
para suportar as próximas 24 horas. Trespassava o
esvaecimento.
O sangue, em seu percurso,
no indo e vindo das veias encefálicas, circulou por
horas em meio a desalento e desconcentração.
De horas em horas um agente analgésico era aplicado
na dor.
Cefaléia,
dor de cabeça, coisa ruim, sabe-se lá mais
do quê se pode nomeá-la. O certo é que
para não perder o rumo é imperioso um doutor
e uma rotina lenta, com a presença indispensável
e recorrente de muita, mas muita, endorfina.
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Nisdey Araújo é formada em
Letras e pós-graduada em Revisão de Textos
pela Puc Minas. Gosta de revistas, internet, música,
letras, dançar e muito, muito, chocolate.
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