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Retratando o cotidiano de forma política e apurada, numa vida composta de boemia e tragédias, Noel Rosa marcou sua época com ironia, inteligência, sinceridade e poesia
Filho de Manoel de Medeiros e Marta de Azevedo Rosa - responsável direta pela carreira musical do filho, já que fora ela que o ensinara a tocar bandolim -, tinha o apelido de queixinho entre os colegas do Colégio São Bento, no qual estudava quando criança. Era o instrumento que compensava na sua baixa auto-estima, já que junto às canções tocadas pelo jovem nas rodas colegiais vinham o status e o prestígio. Letras como São coisas nossa e Onde está a honestidade? sintetizam o caráter politizado do cantor que, embora buscasse viver a vida intensamente e de forma bem humorada, parecia predestinado ao sofrimento. Após o complicado parto e o complexo do queixo (ou a ausência desse), o músico teria duras perdas: sua avó, que se suicidara enforcada em uma árvore no quintal da casa onde moravam, quando Noel ainda era criança e, anos mais tarde, o suicídio de seu pai, em 1935, quando Noel se encontrava em Belo Horizonte para tratar de sua tuberculose. Na breve passagem pela capital mineira, não existiu tratamento médico que o segurasse. Fora a boemia a responsável direta pela formação artística de Noel, que logo no segundo dia em BH já se sentia a vontade com os malandros das alterosas. Noel teve pouca ou nenhuma atuação na cena musical belo-horizontina. Apenas alguns contatos e visitas as rádios da cidade, diz o músico e professor Marcelo Dolabela. Apesar disso, a experiência em terras mineiras deu origem a magistral carta em rima ao seu médico, por nome Graça Melo: Já apresento melhoras/ Pois levanto muito cedo/ E deitar as nove horas/ Para mim é brinquedo/ A injeção me tortura/ E muito medo me mete/ Mas minha temperatura/ Não passa de trinta e sete! (...) Creio que fiz muito mal/ Em desprezar o cigarro/ Pois não há material/ Para o exame de escarro! (...). Cada vez mais o anti-herói contrariava o sonho de sua família, que queria vê-lo doutor, formado em medicina. Era na vida noturna, com bebidas e mulheres, que Noel achava se encontrar, mesmo, muitas vezes, se perdendo, como ele mesmo bem definiu na música Feitio de oração: Quem acha vive se perdendo/ Por isso agora vou me defendendo/ Da dor tão cruel desta saudade/ Que por infelicidade/ O meu peito invade. Além das infelicidades, angústias e desamores, eram as constantes doenças que minavam a vida do poeta, que volta para a sua cidade natal, muito debilitado fisicamente. No dia 4 de maio de 1937, aos 26 anos, uma das figuras mais marcantes do Brasil, aquele que tinha como espelho os bêbados, andarilhos e tudo aquilo que era repelido pela sociedade criando um vasto e intenso recorte social, que em seu curto tempo de vida deu origem a mais de 200 sambas - agoniza em sua casa, em Vila Isabel, deixando um abismo que jamais será preenchido em seus admiradores. Dica:
Polêmica Noel Rosa X Wilson Batista. Lp de
dez polegadas lançado pela Odeon em 1956 e interpretado
por Roberto Paiva e Francisco Egydio. Em ordem cronológica,
contém as músicas Lenço no pescoço
(Wilson Batista), Rapaz folgado (Noel Rosa), Mocinho
da Vila (Wilson Batista), Palpite infeliz (Noel Rosa),
Frankenstein (Wilson Batista), Feitiço da Vila
(Noel Rosa e Vadico), Conversa fiada (Wilson Batista),
João ninguém (Noel Rosa), Terra de cego
(Wilson Batista). Boa degustação!
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