
01/11/07
Isso aqui ÔÔ...
é um pouquinho de Brasil Iá, Iá...
Uma
visão recente e geral de um Brasileiro que está
descobrindo as diferenças e semelhanças de
Portugal
Portugal,
Ô pá! É uma experiência! Manuel?
Nenhum. Nuno, é o nome contemporâneo da terrinha.
Extremo ocidente da Europa continental. País da Península
Ibérica. População de aproximadamente
14 milhões de pessoas. Padeiros? Vários, mas
não é só isso que tem por aqui. Terra
de Camões e Fernando Pessoa, além de Eça
de Queiroz e Florbela Espanca. A poesia brota do chão,
praças e ruas em homenagem a poetas são constantes.
Mas a literatura não está apenas nas placas
e na memória. Hoje, além de Saramago, existem
outros grandes escritores contemporâneos pouco conhecidos
no Brasil, como Miguel Esteves Cardoso, Antônio Lobo
Antunes, Rui Zink e outros.
Fado?
Tem adolescente que nem deve saber o que é isso.
Escuta-se de tudo em Portugal, até o nosso axé
e o fabuloso Calipso dão o ar da graça por
aqui. Um dia uma grupo de portugueses, bêbados, me
chamou para conversar, quando perceberam minha nacionalidade,
fizeram um coro e cantaram: " Tõ ficando atoladinha",
com sotaque! Confesso que foi uma das melhores cenas da
minha vida. Tudo bem, Caetano Veloso, Chico Buarque e outros
artistas atravessaram o Atlântico. Seu Jorge, esse
mês, tem uma turnê pelo país...
E o Fado?
Fica para os Turistas, que também podem escutar boa
música eletrônica. O país, nesse quesito,
é destaque entre o restante da Europa. Música
portuguesa contemporânea? É difícil
encontrar, se você procura algo em Português.
Muitas das bandas de rock, por exemplo, cantam em inglês.
O país da rainha parece ter grande influência
por aqui.
Mas, voltando
ao fado, tem uma cantora moçambicana que está
resgatando um pouco dessa cultura no país, chama-se
Mariza.(http://www.lastfm.pt/music/Mariza).
Ela está regravando fados tradicionais com novos
arranjos. Isso tornou a moça famosa por todo o mundo.
Por falar em tradição, descobri que o famoso
cantor "português" Roberto Leal, aquele
do vira, nasceu no Brasil, um orgulho para eles, pois 10
entre 10 brasileiros que aqui estão, tentam tirar
onda com a peculiaridade do pseudo-tuguês.
O cinema
português ainda é uma interrogação
para mim. Durante toda minha vida só tive acesso
a um filme português, bizarro por sinal, mas interessante.
Chamava-se "O Fantasma", não, ele não
é do diretor Manuel de Oliveira, (cineasta português
mais aclamado pelos cinéfilos), é de João
Pedro Rodrigues. Dizem que esse filme custou milhões
de euros e boa parte foi censurado, por ser muito explicito
e com o conteúdo considerado "pesado".
(http://www.youtube.com/watch?v=B5kKVb0tm6s)
Ainda sobre cinema, alguns portugueses que conversei me
indicaram o diretor Pedro Costa, que segundo eles, fez o
melhor filme da cinematografia portuguesa contemporânea,
chamado "Juventude em marcha" (http://www.youtube.com/watch?v=c-W5H8095qg).
Ele competiu no Festival de Cinema de Cannes em 2006
Quanto ao cinema brasileiro em Portugal, é quase
inexistente. Com excessão dos filmes que chegam em
qualquer parte do mundo, como "Cidade de Deus",
"Carandiru" e "Central do Brasil", não
se vê muita coisa, a não ser uma vez por ano,
quando é realizado, em Lisboa, uma pequena mostra
do Cinema Brasileiro, mas, como o evento tem apoio da Globo,
todos os filmes são apenas os quais a Globo Filmes
distribui.
A mostra
desse anos aconteceu em 3 dias de outubro. Os filmes apresentados
foram: os 4 longas de Jorge Furtado (Houve uma vez dois
verões - 2002, O Homem que copiava - 2003, Meu tio
matou um cara - 2004 e Saneamento Básico - 2007),
os 3 de Daniel Filho (A partilha - 2001, Se eu fosse você
- 2006 e O primo Basílio - 2007), além de
Proibido Proibir (Jorge Duram, 2006), O céu de Suely
(Karim Ainouz, 2006), Dois filhos de Francisco (Breno silveira,
2005) e O ano em que meus país saíram de férias
(Cao Hamburguer, 2006). Estive em 4 sessões. Boa
parte vazia.
As novelas
que são bem faladas por aqui, quando cheguei, muitas
pessoas me perguntavam o que estava acontecendo em "Paraíso
Tropical", como não sou muito fã desse
produto brasileiro, decepcionava-os com a resposta: Não
sei. Um dia em uma de minhas aulas, teve um exemplo que
envolvia o Senhorzinho Malta. Achei engraçado ouvir
aquilo.
Economicamente,
depois da criação da União Européia,
Portugal tem crescido bastante. Estradas modernas, transporte
público eficiênte, grandes obras, centros históricos
restaurados, grande circuito cultural e noite excelente.
Muitos dos investimentos do país vem acompanhada
de um placa: "Aqui houve investimento da União
Européia".
Apesar
disso, há uma evasão da juventude Portuguesa
para o restante da Europa. Emprego aqui é difícil,
e paga-se mau, comparado com o restante do continente. Enquanto
na Espanha, o salário mínimo ultrapassa os
800 euros, em Portugal chegou a marca dos 400 há
menos de um mês. Cerca de 20% da população
é considerada pobre. A Saúde, para os padrões
europeus é um caos. Houve uma diminuição
dos investimentos públicos na área. Conversei
com uma senhora, em um Centro de Saúde, que me falou
que há alguns anos, não existiam filas e o
atendimento era melhor.
Quanto
a educação: Não existem faculdades
gratuitas. Mesmo as universidades públicas cobram
a chamada "propina" dos estudantes. Um curso de
graduação sem grandes custos, aqui, sai por
volta de 1000 euros o ano. As faculdades privadas são
consideradas ruins, com excessão da Católica,
que se paga uma furtuna para estudar.
Por incrível
que pareça, o que eles falam nessas terras é
o Português, e definitivamente, sem nenhum demérito
para nenhuma das partes, o que se fala no Brasil é
Brasileiro. Sim, isso é o que mais dizem por aqui,
na faculdade, não leio um texto em Português
quando esse é editado no Brasil, leio um texto em
Brasileiro. Ok, menos uma dependência estrangeira,
podemos ir para a próxima liberdade. Vamos declarar
a dependência da gramática?
Parece
que Portugal parece com o Brasil em vários aspectos.
Já vi o povo reclamar da política, da pobreza
e do desemprego, do preço da gasolina e do pão,
do trânsito caótico e da corrupção,
da dependência externa e do futebol (ô povo
fanático), porém, uma diferença que
vejo por aqui, e que considero crucial, é que os
Portugueses gostam e respeitam o lugar que moram, aproveitam
ao máximo os espaços públicos. Violência?
Existe em qualquer parte do mundo (Lógico, que a
quantidade e tipo variam, mas aqui também têm
os locais não indicados de ir sozinho, a noite, ou
se for criança). Acho que o problema, no Brasil,
é que a violência não está somente
nas ruas, mas na cabeça da população
e nas manchetes de jornal, todos pensam que vão ser
assassinados só de colocarem o pé para fora
de casa, com isso passam a não gostar e a desrespeitar
o lugar que vivem. Chega de prisões! Para o país
desenvolver, acabar com a violência e tudo mais, é
preciso que o povo vá para as ruas. Em todos os sentidos.
Seja para reclamar, ou para curtir. Assistir uma peça,
ou sentar em um bar. Andar a pé pela avenida que
só passa de carro, ou caminhar por uma praça
de bobeira. Seja para cuidar. Já pensou em cuidar
da sua cidade? Falta muito pouco. Falta muito pouco.
Saiam
as ruas.
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Marcelo Valadares é jornalista com sérias pretensões de se tornar escritor, poeta, professor universitário, crítico de arte, cineasta, prêmio Nobel da paz, pedinte, astronauta, músico, cantor de Fado, dançarino de Tango, mestre de Bateria e Neo-boêmio. Escreve para O binóculo todas as quintas. Fale com ele: marcelo_valadares@hotmail.com
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