
11/08/07
Só os poetas
podem ser insatisfeitos
Ei você! Sim, você!
Você mesmo que está lendo esse texto. Sei que
não me conhece, nunca escrevi por aqui, mas já
vou te falando uma coisa: Você não pode ser
insatisfeito. Não, não adianta discutir. Você
não pode. Simplesmente não tem o direito.
Não pode!
Por que? Porque você
não é poeta. Só eles podem ser insatisfeitos.
E só os exclusivamente poetas podem reclamar o dia
todo. Caso você seja um poeta e músico você
pode ser 50 % insatisfeito e essa proporção
vai diminuindo caso ocupe outras funções.
Só os poetas conseguem
transformar a insatisfação em algo bonito.
Somente eles sabem transformar a reclamação
em prazer! Você? Você não! O máximo
que sua insatisfação pode gerar é mais
coisas ruins, para você e para os outros. Diga-me,
sua insatisfação vai gerar algo assim?
“A vida esta cheia de
interferências indébitas, de acasos estúpidos,
de personagens errados, que travam conosco desencontrados
diálogos de surdos. A vida esta atravancada de pormenores
inúteis. A vida parece um romance mal feito”.
Esse poema é de Mário
Quintana e o nome é um clássico das reclamações:
“Ah,vida...”, quem nunca pronunciou esse som
vazio seguido da palavra vida para reclamar dela? Quintana
fez mais que isso. O cara era o mais poeta de todos. Em
maioria de suas entrevistas ele estava sempre reclamando,
mas, cada frase era um poema. E foi dele que tirei a idéia
desse texto. Uma vez ele falou que era insatisfeito “o
poeta satisfeito não satisfaz a ninguém”,
justificava. Sua insatisfação era produtiva.
Depois de três vezes tentar uma cadeira na Academia
Brasileira de Letras e não ser eleito, o que para
muitos seria uma derrota, ele transformou em um de seus
mais conhecidos versos:
“Todos esses que ai estão
atravancando meu caminho. Eles passarão, eu passarinho”.
A perfeição que
todo mundo deseja é tão irreal e no final
é isso, tudo vai passar, e a única coisa que
dá para fazer é transformar os problemas diários
em poesias cotidianas, e ser feliz como der, passarão
ou passarinho. Sobre o padrão de vida perfeito o
poeta ainda faz algumas outras observações,
escolhi uma:
“Buscar a perfeição?
Não seja vulgar. A autenticidade é muito mais
difícil”.
Tente um estilo de vida Quintana,
autêntico. Quando for reclamar, faça uma poesia,
dessas, cheias de esperança e pessimismo, uma poesia
triste e alegre, que mostre que a vida é isso mesmo,
nem boa, nem ruim, mas, pode ser levada com muita graça.
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Marcelo Valadares é jornalista, com sérias pretensões de se tornar escritor, poeta, professor universitário, crítico de arte, cineasta, prêmio Nobel da paz, pedinte, astronauta, músico, cantor de Fado, dançarino de Tango, mestre de Bateria e Neo-boêmio. Escreve para O binóculo todas as quintas. Fale com ele: marcelo_valadares@hotmail.com
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