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Baby Boom
     
 
 
     

"Existe, neste momento, em Portugal, uma procura, por parte das gerações mais novas, de uma identidade que não é a dos nossos pais e avôs. Os valores que eles tinham não fazem sentido atualmente e creio que na música se passa um pouco isso, até mesmo com os chamados "novos fadistas" existe uma procura dessa identidade". Dead Combo

 

 Deolinda
 

 Dead Combo
 



 Wraygunn – Banda de Rock nascida em Coimbra, cantam em inglês...
 

Sérgio Godinho – Cantor e Compositor, já gravou com diversos cantores brasileiros.
 

Margarida Pinto - vocalista da banda Coldfinger tem um lindo trabalho solo em que canta alguns poemas de Fernando Pessoa.
 

Maria João- Canta MPB, além de outros estilos.
 


Antônio Variações – Irreverente e fora de seu tempo. Teve uma vida curta. Uma espécie de Cazuza português.

 

31/10/08
Entrevista / Deolinda e Dead Combo
DOBRADINHA PORTUGUESA

O Binóculo entrevistou as bandas Deolinda e Dead Combo, originais de Lisboa, para tentar descobrir qual é o futuro da música portuguesa e qual a relação com outras culturas. Não conhece nada de música portuguesa? Então, siga em frente.

Como as bandas se consolidaram no cenário da música em Portugal?

Dead Combo: Foi um processo que demorou 5 anos, desde o nosso primeiro álbum (Vol. 1.) ficamos um pouco espantados com a recepção que tivemos por parte da crítica. Visto a nossa música ser instrumental, sempre pensamos que seria um trabalho para um pequeno grupo de pessoas, mas com o passar do tempo e com os vários álbuns, vemos que afinal, esse pequeno grupo não é tão pequeno assim.

Deolinda: Começamos em 2006, com alguns shows ao vivo, que correram bastante bem. Depois disso as pessoas começaram a fazer a famosa propaganda boca-a-boca e assim o público nos shows foram aumentando. Em 2007 tivemos uma agenda cheia de apresentações ao vivo e no final do ano, gravamos o nosso álbum de estréia, "Canção ao Lado", que entrou para o Top Nacional na primeira semana e que, até agora, tem marcado presença semanal no Top.

O fado tradicional, hoje, não é muito valorizado pelos jovens portugueses. Vocês têm a influência deste estilo em suas músicas. A intenção é fazer um resgate? Existe um movimento que pensa neste resgate da tradicional música portuguesa?

Dead Combo: Existe, neste momento, em Portugal, uma procura, por parte das gerações mais novas, de uma identidade que não é a dos nossos pais e avôs. Os valores que eles tinham não fazem sentido atualmente e creio que na música se passa um pouco isso, até mesmo com os chamados "novos fadistas" existe uma procura dessa identidade. Sem relegar o passado, mas afastando-se da idéia nacionalista que fomos obrigados a viver durante décadas (A ditadura em Portugal começou no dia 28 de Maio de 1926 e terminou com a Revolução dos Cravos em 25 de Abril de 1974) . O que nós tentamos fazer é integrar de alguma maneira uma certa Portugalidade na música, sem recorrer a instrumentos tradicionalmente ligados ao Fado. Costumamos dizer que já que aqui vivemos então porque não aproveitar esse fato e torná-lo uma vantagem?

Deolinda: Nos últimos anos, uma nova geração de músicos portugueses trouxe uma nova dinâmica para a música tradicional e popular, a qual também inclui o fado. Tal como a Deolinda, são muitos os grupos que surgiram e que de certa forma, encaram a tradição musical portuguesa como um desafio criativo e artístico. O tempo dirá se é um movimento ou não.

Como o fado esteve presente na vida de vocês?

Dead Combo:O Fado está sempre presente na vida de qualquer português. Ao andares na rua, ouves pequenos rádios das casas das pessoas a cantarolar fados, nascemos a ouvir Fado. O que não quer dizer que o Fado seja uma influência consciente na nossa música. Acho que aquilo que fazemos é pegar em melodias e ritmos associados ao Fado e transportamo-los para o nosso universo musical por meio de filtros da nossa maneira de tocar.

Qual a importância de Carlos Paredes na música de vocês? ( O primeiro albúm do Dead Combo foi uma homenagem ao músico)

Dead Combo: O Carlos Paredes tem uma influência enorme na nossa música. Para teres idéia, os Dead Combo surgiram a partir de uma homenagem ao proprio. O Tó foi convidado para participar em um disco de homenagem e convidou-me a gravar com ele, a experiência correu tão bem que dura até hoje!! O legado musical desse gênio da guitarra portuguesa é audível na nossa música, seja na maneira como tocamos os ritmos ou mesmo nas melodias dos nosso temas.


Algum Bairro especifico em Lisboa que vocês tem mais inspiração para compor?

Dead Combo: O Bairro Alto, em Lisboa. É por excelência o bairro onde a vida cultural se faz mais sentir. Existem centenas de artistas de todas as áreas que aí vivem, dezenas de bares, clubes, galerias, restaurantes, todos eles com muitas histórias para contar. Ao mesmo tempo ainda há uma parte da população do bairro alto que vive lá desde sempre, desde o tempo em que era um bairro cheio de prostitutas e proxenetas, fadistas e bandidos. Tanto eu como o Tó sempre estivemos em contacto com o bairro. Ambos vivemos nele...

A cidade entra na música?

Deolinda: Lisboa é a nossa cidade. Todos os elementos da Deolinda vivem em Lisboa. Naturalmente Lisboa é o cenário de algumas das histórias que a Deolinda conta. Lisboa bairrista, Lisboa suburbana, Lisboa antiga e moderna... a Deolinda canta todas estas "Lisboas"... Lisboa é uma fonte inesgotável de inspiração.

Da cultura portuguesa, quais são os aspectos que vocês acham que deveriam ser mais conhecidos fora de Portugal?

Dead Combo: A arte em geral. Temos artistas de várias áreas que nunca foram reconhecidos, nem mesmo em Portugal. Atualmente nota-se que a geração mais nova já não tem o preconceito de ser português e afirma-se no Mundo com aquilo que fazem. Existem dezenas de bandas que fazem música incrívelmente boa e que lentamente estão a caminhar para fora do país. Deveria sim haver um esforço por parte do Estado no sentido de exportar a cultura como um todo, mas nunca tal aconteceu e não acredito que aconteça brevemente.

Deolinda: Há muitos aspectos positivos a realçar na cultura portuguesa. Portugal é um país de virtudes (embora, por vezes, tenha o defeito de não as saber reconhecer), destacamos, entre muitas, a música, a gastronomia, a história, a literatura e a poesia...

Qual vocês acham ser o futuro da música portuguesa?

Dead Combo: Um belo futuro! Acho, como disse à pouco que deixamos de ser preconceituosos em relação ao que se faz por cá. Durante anos a música e muitas outras artes eram sempre comparadas, negativamente, com o que se fazia no resto do mundo. Houve pessoas que quebraram essas barreiras, que arriscaram e conseguiram provar que aquilo que fazem é de qualidade em qualquer lugar. Isso serviu de exemplo para as novas gerações que já não se olham como portugueses, mas sim parte do mundo e na música temos vários exemplos recentes disso: os Buraka Som Sistema, Moonspell, etc.

Deolinda: A música portuguesa atravessa uma fase de grande dinamismo e fulgor com muitas bandas novas com projetos interessantes a aparecer. A tal fenómeno não deverão ser alheios espaços como o myspace e o youtube, onde se pode promover a música sem custos e que têm sido fundamentais também na divulgação do nosso trabalho.

Além da cultura portuguesa vocês têm influências de estilos de fora de Portugal. É uma tendência dos novos músicos do país?


Dead Combo: Creio que sim. Nós somos pessoas muito ecléticas no que toca à música. Ouvimos de tudo um pouco. Acho que essa abertura permite-te incorporar elementos de outras músicas sem que seja uma colagem, mas sim uma incorporação natural. Como Portugal viveu fechado ao resto do mundo durante décadas, a reação agora é de abertura total ao que se faz no resto do mundo.

Alguma influência que seja mais evidente?

Deolinda: Temos influências de outros artistas portugueses, como Madredeus, António Variações, Zeca Afonso, Amália Rodrigues, Alfredo Marceneiro... E de músicas de outros países, como do Brasil.

A parte gráfica do Albúm da Deolinda é inspirado em Histórias em quadrinhos. O português tem uma paixão pela HQ. Como essa paixão nacional entrou no trabalho de vocês?

Deolinda: Todos na banda são fãs de HQ e foi algo que acrescentamos ao projeto de uma forma natural. O próprio conceito da banda, uma personagem feminina fictícia, lisboeta, solteira, de meia-idade, que conta as suas histórias e as histórias de vida dos seus vizinhos, que observa da janela, pedia uma ilustração. O João Fazenda é um dos melhores ilustradores do país e também é nosso amigo, daí que a imagem da Deolinda surgisse de uma forma quase espontânea e natural.

O número de imigrantes em Portugal tem crescido nos últimos anos, no aspecto cultural, veêm algo de bom nisso?

Dead Combo: Claro que sim. Sendo os portugueses um povo emigrante, acho que compreendemos bem o que isso significa. Culturalmente acho que Lisboa, por exemplo, nunca foi tão diversificada como agora o que só por si é excelente. Poder ouvir na mesma noite músicos brasileiros, angolanos, russos e de outras paragens é uma dádiva da imigração!

Deolinda: Claro! Vemos com muitos bons olhos. O fluxo de imigração favorece o intercâmbio cultural. Surgem novas idéias. Surgem novos caminhos. A expectativas só podem ser as melhores. Daqui a uns anos, quando se fizer um balanço cultural desta época que vivemos, estamos em crer que o saldo será bastante positivo.

Previsão de shows no Brasil?

Dead Combo: Para já não. Não estabelecemos ainda contatos nesse sentido e creio que teremos de esperar um pouco para dar a conhecer a nossa música.

Deolinda: Ainda não há nada certo, mas a Deolinda ia adorar!

Mais informações:

www.myspace.com/deadcombo

www.myspace.com/deolindalisboa

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2007


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Marcelo Valadares
é jornalista e mestrando em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa. Fale com ele: marcelo_valadares@hotmail.com



   
 

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