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16/04/08
Joana e a faca
Joana cansou. Cansou das camas
sem conteúdos.Camas sem estantes, sem autores, sem
música, cinema. Cansou de foder com vibradores ambulantes.
Joana pensou em ser freira e entregar sua buceta à
Jesus. Porém, tinha coração e buceta
demais para isso. Era pagã. Puta. Iria acabar fodendo
os padres. Não queria esse tipo de hipocrisía.
Queria entregar sua buceta a alguém, para que esse
alguém tomasse conta. Ela não queria apenas
falo.
Joana queria se livrar da necessidade
de dar sua vulva para qualquer um. Queria acabar logo com
aquele fogo molhado que lhe subia pelo ventre. Durante um
tempo deu somente para si, porém, além dos
dedos, nada mais de seu corpo poderia possuí-la.
Insatisfeita, achou egoísmo com seu resto. E era
justamente no resto de Joana, que Joana pensava ao pensar
em sua vulva. Um dia, depois de mais uma cama, decidiu matar
sua vontadade. Sua buceta não seria de mais ninguém.
A questão passou a ser o confronto de sua vagina
com o seu Ser. Não era uma questão moral.
O fato era que a buceta de Joana tinha mais personalidade
que ela. Isso a incomodava.
A faca entrou na vida de Joana,
justamente quando ela se questionava sobre a função
da buceta no seu corpo. Joana e a faca. Ela tinha diversas
opções. Uma delas, deixar a faca onde estava.
Joana e a faca. A faca na mão de Joana. Nesse momento
sua vulva gritou. Gritou o grito de alguém em desespero,
ficou molhadinha, um pranto de quem está a beira
da morte. Um desejo pela faca tomou conta de Joana. O desejo
pela faca. A faca tomou a buceta de Joana.
Joana agora, é só
Joana. Sem buceta.
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2007
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Marcelo Valadares é
jornalista e mestrando em Ciências da Comunicação
pela Universidade Nova de Lisboa. Escreve para O binóculo
todas as quintas. Fale com ele: marcelo_valadares@hotmail.com
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