
24/09/07
Espiões para todos
os gostos
Por incrível que pareça,
James Bond está na ativa até hoje. São
mais de 40 anos de carreira cinematográfica e o personagem
já está no seu sexto intérprete. E
o mais improvável: suas aventuras ainda têm
fôlego. Cassino Royale (2006) mostra o espião
em início de carreira e em plena forma, correndo
e brigando como um rapazinho. Nem parece ter a idade que
tem. Em 2002, foi apresentado ao público um rival
à altura. Criação de Robert Ludlum,
Jason Bourne conseguiu dar vida nova ao mundo da espionagem.
Na pele de Matt Damon, o sujeito estrelou três filmes
em cinco anos, todos com ação ininterrupta.
Bourne, depois de descobrir um pouco sobre si próprio,
é obrigado a se defender de quem o caça e
acaba se tornando o caçador. É uma trilogia
que se mantêm por cima até o seu epílogo,
O Ultimato Bourne (2007), que fecha bem a história
iniciada em A Identidade Bourne (2002) e desenvolvida em
A Supremacia Bourne (2004).
Fugindo da correria desses quase atletas, vemos com cada
vez mais freqüência filmes de espiões
estrelado por burocratas. O que não é melhor
ou pior que as aventuras de Bond ou Bourne: são tão
interessantes quanto. Filmes como Quebra de Sigilo (1992)
já ousavam com a idéia de um executivo que
realiza pequenos trabalhos escusos, como invasões
de sistemas ou mesmo arrombamento de escritórios
e roubo de informações. No ano passado, Robert
De Niro dirigiu O Bom Pastor (2006), longa coincidentemente
estrelado por Matt Damon. Mas, desta vez, o ator não
precisou fazer as manobras arriscadas de Jason Bourne: ele
passa a maior parte do tempo em conversas de corredor ou
sentado atrás de uma mesa. E acaba tendo uma influência
bem grande no destino do país. Seu personagem, Edward
Wilson, tem papel importante na formação da
CIA, agência de inteligência americana, e sacrifica
sua vida por isso. Mesmo tendo uma vida, digamos, mais monótona,
ele não pode evitar sempre olhar para trás.
Metódico e extremamente focado, Wilson corre tanto
risco de vida quanto qualquer outro espião do cinema.
O que é até mais fascinante é saber
que ele não está restrito à ficção,
já que é inspirado em um sujeito que está
do lado de cá da tela.
Este ano, entrou em cartaz a vida de um norte-americano
que há pouco estava nas páginas policiais
dos jornais. Robert Hanssen é um ex-agente do FBI
que hoje amarga anos de cadeia, condenado por entregar segredos
de estado aos russos, tradicionais inimigos dos EUA. Interpretado
com louvor por Chris Cooper (o vizinho de Beleza Americana),
ele é seguido de perto pelo novato Eric O’Neill
(Ryan Phillippe), colocado debaixo de sua asa para vigiá-lo.
Mesmo sendo um burocrata e tido como antiquado, Hanssen
é responsável por um prejuízo grande
a seu governo e tem nas costas a morte de contatos que estavam
infiltrados em organizações vermelhas. O que
torna sua história tão atrativa quanto as
pirotecnias de James Bond, talvez até mais. Quem
lia os jornais de 2000 já sabe como termina a história,
mas os pormenores são a parte mais interessante:
o que importa é como um agente iniciante, O’Neill,
que começa a respeitar e admirar seu chefe, passa
a suspeitar daquela fachada impecável, de um agente
com longa e premiada ficha de trabalho e uma bela e sólida
família de valores tão religiosos.
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Marcelo Seabra é jornalista
e pós-graduando em História da Cultura e da
Arte. Tem como objetivo tentar sempre manter alta sua média
de filmes assistidos, músicas escutadas e livros
lidos. Para falar com ele escreva para:
mseabra@gmail.com
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