
22/10/07
De Ace Ventura a Andy Kaufman
Jim Carrey é um cara
legal. Obviamente, não o conheço pessoalmente
e a minha opinião pode ser diferente da de quem o
conhece de fato. Mas acompanho sempre sua carreira e posso
falar apenas pelo que é passado nas telas. E, assim,
digo que ele é um cara bacana.
O primeiro trabalho de Carrey
que vi foi Procura-se Rapaz Virgem (1985), no
qual ele é o fracassado protagonista. Dirty
Harry na Lista Negra (1988) também traz o ator,
agora numa pequena participação (creditada
como James Carrey) que ninguém notou. Isso, porque
seu personagem é morto logo de cara, trazendo mais
problemas para o durão Harry Callahan de Clint Eastwood.
Pontas foram várias e até um papel destacado
em um filme para a televisão, Casos de Família
(1992), como o filho alcoólatra de uma família
problemática.
A virada começou com
Ace Ventura, Um Detetive Diferente (1994), uma
hilária comédia sobre um detetive de animais
que procura pelo mascote do time Miami Dolphins. Depois
disso, Carrey viu seu nome subir às alturas com O
Máscara, produzido no mesmo ano e que tornou
seu rosto bem conhecido. E teve Debi e Lóide,
tudo isso em 1994.
Em 1995, veio a oferta dos
sonhos, um papel que já havia passado por vários
candidatos, como Robin Williams e John Malkovich: o Charada,
vilão da terceira aventura de Batman. Mas basta dar
muito dinheiro a Joel Schumacher para ver o diretor perder
a mão. Para muitos, o bandido foi a única
coisa aproveitável do longa, uma bomba alegre e colorida
que tomou o rumo oposto aos trabalhos de Tim Burton, se
aproximando da famigerada série dos anos 60. Na pior
das hipóteses, rendeu a Carrey um convite de George
Martin para gravar I Am the Walrus em uma homenagem
aos Beatles. Uma grande honra que produziu um cover bem
engraçado, diga-se de passagem.
Nos anos seguintes, em meio
a filmes como o segundo Ace Ventura (1995), o incompreendido
O Pentelho (1996), os divertidos O Mentiroso
(1997) e Todo Poderoso (2003) e as besteiras
Eu, Eu Mesmo e Irene (2000) e As Loucuras
de Dick e Jane (2005), o comediante foi mais longe
e fez belos trabalhos dramáticos, como O Show
de Truman (1998) e Cine Majestic (2001).
Mas o grande marco está em Man on the Moon
(ou O Mundo de Andy, de 1999), no qual ele encarna
o comediante Andy Kaufman (e seu alter-ego Tony Clifton).
Pode ser, claro, a diferença que faz um grande diretor
(no caso, Milos Forman), mas o ator está brilhante
no longa. Ele desbancou atores do porte de Edward Norton
e não saiu do papel nem mesmo para convencer a viúva
de Dr. Seuss a deixá-lo viver O Grinch
(2000), produzido em seguida. Conseguiu o contrato e amargou
três horas de aplicação de prótese
e maquiagem por dia para dar vida ao monstro verde que queria
roubar o Natal, mas foi vitorioso com o sucesso do projeto.
Carrey caiu nas graças
do público mais sensível e/ou cult com Brilho
Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004),
uma romântica história dos criativos Charlie
Kaufman e Michel Gondry. Mas voltou a se encontrar com Joel
Schumacher, provando novamente que se sai bem até
com um roteiro besta. E é a isso que se resume O
Número 23 (2007): uma interpretação
firme em um suspense medíocre. Um de seus próximos
trabalhos será a história do aventureiro Robert
Ripley, o antropólogo e cartunista criador da popular
série Acredite se Quiser. O que, mais
uma vez, mostra que Jim Carrey não se prende a fórmulas,
o que torna seus filmes muito interessantes.
Leia também:
08/10/07
-
Novelas de Ontem e Hoje
24/09/07
-
Espiões
para todos os gostos
10/09/07
-
Discutindo
a arte
20/08/07
-
A
lista da discórdia
06/08/07
-
Valorizando o PIB
_________________________________________________
Marcelo Seabra é jornalista
e pós-graduando em História da Cultura e da
Arte. Tem como objetivo tentar sempre manter alta sua média
de filmes assistidos, músicas escutadas e livros
lidos. Para falar com ele escreva para:
mseabra@gmail.com
|