
20/08/07
A
lista da discórdia
Em 2004, a revista Rolling
Stone, conhecida como a Bíblia da música norte-americana,
soltou uma lista com as 500 maiores músicas de todos
os tempos. A equipe da publicação se reuniu
para definir quais seriam as mais relevantes e importantes
canções em inglês, quais teriam tido
maior influência no mundo, no showbizz e nas mentes.
Quando se fala em revolução cultural e inovação,
o primeiro nome que me vem à mente é o de
Bob Dylan, e não deu outra: Like a Rolling
Stone encabeça a lista. O próprio Dylan
afirmou, no fim de 1965, que era sua melhor composição.
A música seguinte é
diretamente influenciada por Dylan, trazendo uma crítica
cínica à América consumista e expressando
a frustração de seus autores. Satisfaction
foi gravada por uns garotos que tiraram o nome de sua banda
de um velho blues: os Rolling Stones (esse nome deve dar
sorte, não é possível!). E, daí,
a lista segue com John Lennon, Marvin Gaye e vários
outros grandes nomes. O interessante, aqui, é observar
a importância de cada escolhida para sua época,
em seu contexto. Mas é impossível concordar
com tudo.
Para começar, os Beatles
aparecem em oitavo com a interminável Hey Jude.
OK, é uma ótima música, ficou nove
semanas no primeiro lugar da Billboard, significou muito
para Lennon e McCartney. Mas eu vejo aí dois problemas:
o fato dos garotos de Liverpool só aparecerem em
oitavo (atrás dos Beach Boys, por exemplo, com Good
Vibrations e dos próprios Stones) e logo com
Hey Jude. Convenhamos, há músicas mais trabalhadas,
mais divertidas, mais marcantes.
Ao longo da lista, encontramos
muitos clássicos. Mas há exemplos bem insossos,
também, caso de People Get Ready, com
The Impressions (de Curtis Mayfield). A mensagem pacifista
está lá, mas seria o suficiente para garantir
à música o 24º lugar? Enquanto isso,
uma das músicas mais regravadas da história,
Youve Lost That Loving Feeling (originalmente
com os Righteous Brothers), fica humildemente na posição
34. O rei do rock, Elvis, aparece apenas em 19º, com
Hound Dog, voltando em 45º com Heartbreak
Hotel.
Ao mesmo tempo que suscita
essas questões, a lista pode originar outra discussão:
como estipular um valor para uma música? Como uma
pode ser mais importante que a outra? Fazer
esse tipo de lista é como entregar o Oscar: sempre
haverá injustiças. E você, leitor, pode
não concordar em nada com o que escrevi acima.
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Marcelo Seabra é jornalista
e pós-graduando em História da Cultura e da
Arte. Tem como objetivo tentar sempre manter alta sua média
de filmes assistidos, músicas escutadas e livros
lidos. Para falar com ele escreva para:
mseabra@gmail.com
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