
14/01/08
A Corrupção que Acompanha o Poder
Um sujeito idealista, que espera
ajudar seu povo, começa a ensaiar uma carreira na
política local. Ele descobre, então, que é
difícil lutar contra os figurões já
estabelecidos e perde sua primeira eleição.
Com muita força de vontade, ele estuda por conta
própria, se forma advogado e começa a aparecer
um pouco mais, com a ajuda dos casos que defendeu. Assim,
continua tentando ingressar no governo até que, fechando
alguns acordos aqui e ali, consegue ser eleito governador
do estado. Fica a dúvida: será que certos
deslizes, pequenos ou não, podem ser justificados
sob o jargão Precisamos quebrar os ovos para
fazer um omelete?
Vencedor do Oscar de Melhor
Filme, Ator e Atriz Coadjuvante e indicado a outros quatro,
A Grande Ilusão (All the Kings Men) foi lançado
em 1949, mas permanece atual, como podemos notar pela premissa
acima. Tão atual que o livro de Robert Penn Warren,
que deu origem ao longa, foi adaptado novamente, com um
elenco liderado por Sean Penn, Jude Law, Kate Winslet e
Anthony Hopkins. O novo longa foi lançado em 2006,
chegou por aqui em 2007 e passou batido, indo direto para
as prateleiras das locadoras.
Willie Stark, o protagonista
da fita, é ligeiramente inspirado em Huey Long, governador
da Louisiana entre 1928 e 1932 e eleito senador em seguida.
A presidência era seu próximo passo e ele até
escreveu um livro no qual se colocava no lugar de Franklin
D. Roosevelt, o verdadeiro presidente na época. Pouco
depois de anunciar que concorreria contra Roosevelt nas
eleições de 1936, Long foi assassinado, fato
que permanece cercado por rumores. A versão oficial
atesta que um opositor atirou contra o senador e foi abatido
em seguida, mas as balas podem não ter sido disparadas
pelo tal sujeito. Outra suposição é
a de que ele teria sido morto no hospital, pelos médicos
que deveriam tê-lo ajudado. Qualquer que seja a verdade,
o fato é que Long morreu lamentando não ter
feito tudo o que podia, como alegou sua irmã. Seja
isso bom ou ruim.
É clara a mudança
de comportamento de Stark e de seus aliados durante a projeção,
já que todos são afetados pelos atos e decisões
do político. Quem é mais atingido é
o assessor Jack Burden, antes um jornalista que via em Stark
um homem íntegro que merecia chegar ao poder para
cumprir o que prometia. Logo, ele se vê como braço
direito do protagonista, ficando responsável por
descobrir os podres dos desafetos de seu chefe, caso do
Juiz Stanton, ferrenho opositor ao governo. Quando Burden
começa a conhecer as reais dimensões do monstro
que havia ajudado a criar, era tarde demais. Fica a esperança
de que, na vida real, o problema da corrupção
não chegue ao ponto que chegou na ficção.
Se é que já não chegou.
Outra lição
que podemos tirar, agora da refilmagem, é que não
basta ter um grande elenco, um livro ganhador do Pulitzer
e uma primeira adaptação premiada: faltou
algo a este, ficou um longa frio, monótono. Tanto,
que passou longe dos Oscars, algo que parecia óbvio
ao projeto, desde a sua concepção. Americanos
adoram refilmagens, parece que têm preguiça
de ler legendas (quando trata-se de filmes estrangeiros
a eles) e preconceito contra o bom e velho preto e branco.
Se você ficou curioso, vá direto ao original,
muito mais charmoso.
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2007
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Marcelo Seabra é jornalista
e pós-graduado em História da Cultura e da
Arte. Tem como objetivo tentar sempre manter alta sua média
de filmes assistidos, músicas escutadas e livros
lidos. Para falar com ele escreva para:
mseabra@gmail.com
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