
11/02/08
Prazo Expirado
Alguém já viu
uma música com data de validade? Acontece de me perguntarem:
Você ainda escuta isso? e eu sempre me
espanto. Tudo bem que a maior parte do que escuto é
da década de 60 e que meus cantores favoritos estão
todos enterrados, com raras exceções (Dylan
está firme, forte e vindo ao Brasil!). Mas é
estranho como, hoje, as bandas e cantores de pop/rock vêm
e vão. Parece que os 15 minutos de fama preconizados
por Andy Warhol foram reduzidos a sete, seis...
Os jovens de hoje, que escutam
coisas como Nx Zero e CMP-22, nem chegaram a conhecer Sugar
Ray, por exemplo. Não é bem uma banda marcante,
mas teve seu sucesso a partir do segundo disco, Floored.
Fundado em 1992, o grupo americano até lançou
um álbum chamado 14:59, como quem diz ainda estar
aproveitando os tais 15 minutos de fama. Com músicas
como Every Morning, Someday, Even Though e Falls Apart,
eles foram indicados a prêmios e têm conseguido
sobreviver, por assim dizer. Mas só quem tem uns
20 anos sabe quem são. Mark McGrath, o vocalista,
apresenta programas de televisão, preservando sua
visibilidade.
Antigamente, as bandas lançavam
vários sucessos seguidos e se mantinham sob os holofotes
por períodos prolongados. Não havia essa necessidade
de escândalos para se manter na mídia (apesar
de alguns acontecerem, de fato). Hoje, cantores em decadência
aparecem por brigarem com a família, por ter filhos,
por perder os filhos, por estar em boa forma física,
por estar fora de forma etc. A coitada da Britney Sperms,
por exemplo, tem freqüentado as manchetes constantemente.
Mais que qualquer pessoa, ela precisa de uma ajuda do Tarantino
para voltar a aparecer, o que pode acontecer se o louco
diretor conseguir levar pra frente sua refilmagem de Faster,
Pussycat! Kill! Kill! (1965). Detentora de alguns recordes,
como a ser a única cantora a ter seus cinco álbuns
entre o top 5 na parada da Billboard e ainda a mais jovem
cantora, aos 21 anos, a ganhar uma estrela na Calçada
da Fama, ela teve seu primeiro single lançado há
exatos 10 anos. E já está no fundo do poço.
Dizem que problemas mentais têm contribuído
com sua desgraça. Talvez, viver uma stripper fugitiva
no cinema melhore sua situação.
Outro que estreou bem e nunca
mais foi visto é Gregg Alexander, líder (e
único membro fixo) dos New Radicals. O primeiro single
do sujeito, You Get What You Give, chegou ao quinto lugar
nas paradas do Reino Unido. Mas ele se cansou de fazer turnês
e divulgação e desfez a banda, se contentando
com os US$ 600 mil que levou pelo contrato do único
disco lançado.
Para casos como esse, existe
a expressão One Hit Wonder, as bandas-sensação
que lançam um grande hit e desaparecem. Isso é
exatamente o que é mostrado no filme The Wonders
(1996): a formação do grupo, o sucesso rápido
e massivo com uma música (That Thing You Do), as
discussões que logo começam e o inevitável
fim. Só conhece o resto do repertório dessa
banda fictícia quem tem a trilha sonora do longa
(que vale o preço, diga-se de passagem). Nas rádios,
só se ouve That Thing You Do.
Grandes bandas não
morrem, assim como boas músicas não ficam
datadas. Ao menos, é o que eu penso. Claro que eu
já não ouço Legião Urbana como
ouvia há um tempo atrás, mas nada impede que
eu coloque um CD para tocar ocasionalmente. Tudo tem sua
época de maior destaque, concordo. Mas não
é proibido ouvir Every Morning de novo,
por exemplo. Afinal, cresci nos 80 e me prendi aos 60. E,
convenhamos, o que é produzido atualmente não
me pega, com poucos U2s e REMs para confirmar a regra.
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Marcelo Seabra é jornalista
e pós-graduado em História da Cultura e da
Arte. Tem como objetivo tentar sempre manter alta sua média
de filmes assistidos, músicas escutadas e livros
lidos. Para falar com ele escreva para:
mseabra@gmail.com
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