
17/07/08
O Cavaleiro das Trevas
Nunca se tratou
tão bem as adaptações cinematográficas
de histórias em quadrinhos. E, nesse filão,
ninguém foi tão longe quanto Christopher Nolan.
É o que fica atestado ao final da sessão de
Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), que estréia
na próxima sexta-feira em todo o país. Todo
o respeito que o diretor tem pelo material fica claro nas
atuações que ele conseguiu de seu elenco,
no roteiro bem amarrado e no cuidado da produção,
que enche os olhos. E assistir a isso tudo em pré-estréia
com direito a pipoca e refrigerante só ajuda –
agradecimentos à Juliana!
Bruce Wayne (Christian Bale) segue em sua luta para limpar
Gotham, iniciada em Batman Begins (2005). Mais do que nunca,
ele tem o apoio de Jim Gordon (Gary Oldman), um policial
de destaque que parece ser o único incorruptível
da corporação. E há uma figura nova
que pode reforçar o time: Harvey Dent (Aaron Eckhart),
o promotor que promete moralizar a polícia, mandando
a parte podre da força para a cadeia. Quando tudo
parecia estar se encaixando, aparece alguém prometendo
a Gotham uma nova classe de criminosos: o vilão mais
esperado dos últimos tempos, Coringa (Heath Ledger).
Tim Burton, assim como Richard Donner, tem todo o mérito
por ter dado um enfoque menos infantil a histórias
de super-heróis. Os dois são constantemente
tidos como os responsáveis pela valorização
desse tipo de produção. Mas, mesmo tentando
atrair um público mais adulto, os longas ainda eram
bem fantasiosos, com situações totalmente
inverossímeis. Com essa nova proposta, temos atos
e conseqüências que, de tão plausíveis,
até surpreendem.
No longa anterior, ao escalar o protagonista e seus coadjuvantes,
Nolan já havia mostrado que não estava para
brincadeiras. Agora, além de Christian Bale, Michael
Caine, Morgan Freeman, Gary Oldman e Cillian Murphy, somos
surpreendidos pelas grandes performances de Aaron Eckhart
e, principalmente, Heath Ledger. O Coringa é tudo
o que um psicopata do cinema precisa ser: aparentemente
louco, com o simples propósito de trazer o caos à
cidade. E, mesmo afirmando não fazer planos, ele
tem uma ótima estratégia, que remonta diretamente
à Graphic Novel A Piada Mortal, de 1988. Como já
aconteceu em diversas edições, sua origem
nunca fica clara, já que o próprio Coringa
brinca com supostos fatos de sua vida pregressa. Essa foi
a escolha de Nolan para ter um personagem “absoluto”,
o que lhe confere imenso charme e mistério. Outra
história bastante usada é O Longo Dia das
Bruxas, de onde foram tiradas várias idéias
para o Duas-Caras, inclusive o slogan usado na campanha
promocional do longa: “Eu acredito em Harvey Dent”.
É um tanto difícil escrever sobre O Cavaleiro
das Trevas com imparcialidade, sendo um grande fã
dos quadrinhos. Mas, ao mesmo tempo, qualquer desavisado
ficará maravilhado com o que fizeram os irmãos
Nolan, que escreveram o roteiro com ajuda de David S. Goyer.
Não é problema tecer vários elogios,
já que todos serão devidos. Acima de tudo,
é um filme corajoso, que toma os rumos necessários
para uma conclusão mais que satisfatória.
O espectador chega a temer pela integridade física
e psicológica dos personagens, já que realmente
não dá para prever o que acontecerá
com eles.
O contrário do que foi feito em Batman Begins, esta
seqüência não deixa um gancho tão
óbvio para uma próxima. Mas deixa, claro,
várias possibilidades. E, como aconteceu aqui, os
roteiristas têm cada vez mais liberdade para focar
a ação, já que a mitologia do personagem
está formada. Os primeiros filmes costumam seguir
a regra da história de origem. E, assim como aconteceu
com Homem-Aranha e X-Men, o segundo tem meios para ir mais
longe. Resta esperar que a franquia do Morcego não
siga os passos das outras duas, que se enfraqueceram no
fechamento da trilogia.
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Marcelo Seabra é jornalista
e pós-graduado em História da Cultura e da
Arte. Tem como objetivo tentar sempre manter alta sua média
de filmes assistidos, músicas escutadas e livros
lidos. Para falar com ele escreva para:
mseabra@gmail.com
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