
07/09/07
Cinquentona enxuta
De pastelaria à carro hippie, de transporte escolar
ao alternativo; a Kombi completa meio século de vida
como um verdadeiro veículo mil e uma utilidades

No último domingo (02/09), a Kombi fez 50 anos, e
nós do O Binóculo não poderíamos
deixar de homenagear um veículo que fez parte da
construção do Brasil moderno.
Na década de 50, o Brasil passava por uma das maiores
transformações de sua história, era
tempo de trabalho, construção e mudanças.
Na ocasião precisávamos de indústrias
para alavancar a economia do país, talvez uma fábrica
de automóveis. Tivemos mais do que isso, ganhamos
um veículo prático, econômico e trabalhador,
e o melhor: fabricado aqui. Assim veio a Kombi, em 1957.
O nome Kombi vem do alemão Kombinationfahrzeug que
quer dizer "veículo combinado" (ou "Veículo
Multi-Uso"). Desenvolvido pelo holandês Ben Pon
na década de 40, o projeto pretendia unir o confiável
conjunto mecânico do Fusca com os atributos de um
veículo de carga leve. A produção do
modelo começou na Alemanha em 1950. O destaque era
a carroceria de bloco único, suspensão reforçada
e motor traseiro, refrigerado a ar. No Brasil, a Kombi foi
lançada em meio às obras da fábrica,
que seria inaugurada somente dois anos depois. Com um índice
de nacionalização de 50%, a Kombi tinha motor
de 1.200 cilindradas. Menos de quatro anos mais tarde chegou
ao mercado o modelo seis portas, nas versões luxo
e standard, índice de nacionalização
de 95%. A versão pick-up surge em 1967, já
com motor de 1.500 cc e sistema elétrico de 12 volts.

Em 1975, a Kombi foi símbolo de liberdade, e foi
adotada pela comunidade hippie como principal meio de transporte
e até mesmo de moradia. Nessa época veio uma
nova restilização, a Kombi passa a ser equipada
com o motor 1.6 e, três anos mais tarde, o modelo
ganha dupla carburação. O motor diesel 1.6,
a água, surgiu em 1981, mesmo ano do lançamento
das versões furgão e pick-up com cabine dupla.
No ano seguinte surge o modelo a álcool e em 1983
a Kombi apresenta um novo painel e volante, além
da alavanca do freio de mão, que sai do assoalho
e passa para debaixo do painel. Nessa época, a Kombi
já era a queridinha dos donos de padarias e dos feirantes.
Na altura do campeonato, todos já tinham um reconhecimento
pelo o que este veículo representou na construção
do Brasil até o momento
A maior mudança veio em 1997, quando a Volkswagen
adotou as portas corrediças e o teto alto.
No final de 2005, a Kombi foi além para atender às
exigências específicas do seu público
e passou a ser equipada com o inédito motor 1.4 8V
Total Flex (refrigerado a água), que gera até
80 cavalos de potência, cerca de 25% mais potente,
quando abastecido com 100% a álcool, além
de ser até 30% mais econômico que o antecessor
refrigerado a ar, segundo dados da fábrica. Continuou
com a incrível capacidade de carregar até
uma tonelada de carga. As mudanças externas foram
mínimas: apenas a inscrição "TotalFlex",
e a grade do radiador na cor preta instalada em sua dianteira,
que particularmente, achei muito feio e tirou a originalidade
da Kombi, mas não tinha outro jeito por causa do
novo motor.
Curiosidades
-- Numa versão amarela e um pouco enferrujada,
a Kombi participou de todo o filme "Pequena Miss Sunshine".
Na produção cinematográfica, a família
Hoover reafirma o simbolismo de independência dos
anos 1960 e 1970 trazidos pela velha van.
- Ainda nas telas do cinema, Fillmore, uma Kombi hippie
de 1960, dava lições ambientais no filme "Carros",
como por exemplo, o uso do bio-combustível.
- Os principais mercados externos da Kombi foram Argelia,
Argentina, Chile, Peru, México, Nigéria, Venezuela
e Uruguai. Na Nigéria, a Kombi era conhecida como
Kombi-Taxi na versão 6 portas. Era exportada em grande
volume para a Argélia na versão Ambulância
com inscrições em árabe no painel dianteiro
e na tampa traseira.
- Atualmente, a Volkswagen exporta cerca de 200 unidades
para o mercado de colecionadores na Inglaterra. A versão
que segue para lá é a Standart. O importador
transforma a Kombi em uma pequena cozinha durante o dia
e um dormitório a noite. A empresa faz as transformações
da Kombi com direção para o lado direito,
atendendo ao rígido mercado inglês.
- Com 1.383.557 unidades produzidas, a Kombi nunca perdeu
a liderança do seu segmento e suas vendas já
alcançaram as 1.290.502 unidades (de 1957 a julho
de 2007). Atualmente, responde por 7,2% do segmento de veículos
comerciais leves, com 13.259 unidades comercializadas nos
primeiros sete meses do ano.
- No salão
internacional do automóvel, no ano passado em São
Paulo, vimos uma Kombi psicodélica, que servia de
atelier para o artista plástico Reynaldo Berto criar
suas obras.
Como é fabricada:
Produzida na fábrica Anchieta, localizada em São
Bernardo do Campo, sua linha de produção é
composta por 322 empregados diretos, sendo 137 na Montagem
Final e 185 na Armação, além da Pintura
que atende aos demais modelos produzidos na unidade (Gol,
Saveiro, Polo, Polo Sedan e Fox Exportação).
A linha de produção da Kombi trabalha em um
turno (das 6h00 às 15h19), onde são fabricadas
90 unidades do modelo por dia.
Até hoje, a Kombi é popular para vários
tipos de serviço. Ela é usada por exemplo,
como transporte escolar, lotação, viatura
policial, carro de reportagem, lanchonete, feira, pastelaria,
e o que mais a criatividade deixar.
A Kombi está disponível em quatro versões:
Standard(9 passageiros), Furgão (2 ou 3 passageiros),
Lotação (12 passageiros) e Escolar (15 passageiros).
Atualmente, a versão Standard corresponde a 75% do
mix de produção, com 10% cabendo à
Furgão e 15% aos demais modelos.
Mesmo não sendo um exemplo em conforto, aerodinâmica
e tecnologia, a velha Kombi continua fazendo fãs
por sua praticidade.
Que venham mais 50!
ERRATA
Na edição
passada, onde avaliamos o Volvo C30, informamos
que um de seus concorrentes, o BMW 120i, é vendido
por R$ 145.000 com câmbio mecânico. Na verdade,
esse valor se refere ao modelo equipado com câmbio
automático. A versão mecânica custa
cerca de R$ 10.000 a menos.
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Marcello Oliveira é
jornalista.
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