
26/01/08
Em quem we trust
A maior empresa de relações
públicas do mundo, a estadunidense Edelman, elabora
desde 1998 um índice de confiança, chamado
de Trust Barometer. Anualmente ela entrevista
mais de 3.000 formadores de opinião em 18 países.
Os entrevistados possuem formação superior
e idade entre 35 e 64 anos. Fazem parte dos 25% da população
com maior renda familiar em seus países. A pesquisa
recém apresentada baseou-se em entrevistas telefônicas
de 30 minutos, realizadas em Outubro e Novembro de 2007,
nos Estados Unidos, China, Reino Unido, Alemanha, França,
Itália, Espanha, Holanda, Suécia, Polônia,
Russia, Irlanda, México, Brasil, Canadá, Japão,
Coréia do Sul e Índia.
A pesquisa quer saber em que
as pessoas confiam. Geralmente os produtos e as empresas
dos países emergentes despertam desconfiança
e as companhias brasileiras ficaram na 15ª posição,
somente diante das chinesas, mexicanas e russas. Na Polônia
e na Irlanda, apenas 9% e 13% dos formadores de opinião
têm uma imagem positiva de nossas empresas. Na Suécia
e na Inglaterra, só19%. Nos Estados Unidos, 34%.
Na União Européia, 20%. Na Ásia, 44%.
Na América Latina estamos melhor, com um índice
de confiança de 69%. Já no Brasil, 73% dos
entrevistados acreditam nas empresas brasileiras, enquanto
88% confiam nas japonesas.
Imediatamente lembrei-me de
uma pesquisa realizada por uma empresa global de propaganda
no ano 2000. Foram cerca de 80 mil pessoas que nos Estados
Unidos, Japão, França e Alemanha disseram
que achavam que o Brasil era único, distante, divertido,
amigável, diferente, dinâmico, que se destacava,
avançado e tradicional. Que bom, não é?
Mas a pesquisa perguntava também o que elas achavam
que o Brasil não era. E elas disseram: atualizado,
inovador, honesto, confiável, sincero, de alta qualidade,
útil e arrogante. Acham que somos divertidos, mas
não honestos...
Um colega, transferido para
a Inglaterra na época, dizia que cada vez que um
carregamento de peças importadas do Brasil chegava,
dava frio no estômago. Sempre vinha algo em desacordo,
mal arrumado, mal embalado, faltando ou sobrando partes,
sem documentação...
Noutra ocasião um dos
gringos presentes a uma reunião global colocou na
tela um mapa mostrando o mundo dividido entre EUA, Europa
e ROFA: Rest Of the xxxxing Area ...
Globalização.
Oito anos atrás o Brasil entrava nela de cabeça.
E de lá para cá o que fizemos? Evoluímos
em qualidade; aumentamos as exportações; damos
retorno aos investidores como pouquíssimos países.
Como acontece na educação e na saúde,
temos diversos indicadores quantitativos excelentes! Mas
e os qualitativos?
Continuamos como grandes exportadores
de commodities, que não têm marca.
Nossas redes de televisão tiveram seus sinais espalhados
para o mundo ajudando a fazer com que o Brasil do Cidade
Alertae do PCC ficasse mais conhecido. Milhares de
imigrantes brasileiros mal preparados - ou simplesmente
mal educados - contribuíram para uma percepção
pouco respeitável de nossa gente lá fora.
Fomos amadores, incompetentes e relaxados com nossa imagem
no exterior. Nossas iniciativas em comunicação
focam na natureza, nas praias e no carnaval. E são
neutralizadas cada vez que um turista é assassinado
em nossas cidades. E, para piorar, Lula e Cia colaram a
imagem do Brasil a Fidel Castro, Hugo Chávez e uns
africanos cujos nomes não sabemos, numa mistura venenosa
de ideologia com negócios... O resultado está
na pesquisa da Edelman.
Você faria negócios com alguém divertido,
mas não confiável?
Nem eu.
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Luciano
Pires é jornalista, escritor, conferencista
e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização
do Brasil, acesse www.lucianopires.com.br.
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