
19/01/08
Tirando a tampa
Qual a principal lição
que você aprendeu em relação a liderar
pessoas? Foi uma das perguntas que recebi de um grupo
de jovens executivos, todos em posição de
liderança de equipes, após uma de minhas palestras.
Respondi na lata:
- Tire a tampa.
E então contei a história
de um vizinho, também jovem executivo, que sempre
conversava comigo nos finais de semana. O rapaz começou
na empresa como estagiário e durante um bom tempo
passou por várias áreas, sempre em torno da
função que queria desempenhar no futuro: engenharia.
Até que foi promovido para gerente. E estacionou.
Era figura apagada, sempre calado nas reuniões, o
tipo de pessoa que, se não aparecer na festa, ninguém
nota...
Já o chefe do rapaz
era aquele tipo de sujeito opiniático,
que tem resposta pra tudo. Suas frases sempre começavam
com um não. Depois vinham as explicações,
a maioria justificando a razão para não fazer
algo acontecer. Ou então dizendo que aquilo já
havia sido feito em tal lugar, que ele participara do processo
e que estava tudo sob controle. E ai de quem discordasse...
Debaixo dessa figura, meu jovem amigo permanecia apagado.
Até que um dia...
Uma das fábricas da
empresa estava em dificuldades e precisava de alguém
treinado para gerenciá-la . Meu jovem amigo foi designado.
Mudou de escritório. De cidade. E de chefe. E da
noite para o dia começou a mostrar brilho nos olhos.
Energia. Vontade de fazer acontecer. Pegou um pepino gigantesco
que descascou aos poucos, trombando aqui, quebrando a cara
ali, acertando acolá, como em todo processo de aprendizado.
E deu certo. Até que um dia ele foi promovido a gerente
geral da operação.
O garoto apagado havia se transformado
numa estrela brilhante. Dava gosto falar com ele. Curioso,
tentei encontrar a razão para uma mudança
tão forte e repentina. E não deu outra...
O novo chefe do rapaz, como o antigo, era opiniático.
De personalidade forte. Com resposta pra tudo... Mas diferente
do anterior, tirou a tampa. Ou melhor, jamais serviu como
tampa.
Nunca ficou sentado sobre os
talentos de seus colaboradores, micro controlando. Sempre
serviu como chama, fervendo as pessoas que - sem tampa -
transbordavam...
Essa figura - tirar a tampa
- virou uma espécie de mantra em minha vida: tire
a tampa...tire a tampa...tire a tampa...
Passei a aplicar também
em minha casa, com meus filhos. Tirando a tampa. Ampliando
seus limites. Dando-lhes responsabilidade. Deixando que
transbordem.
Vão cair, é claro.
Vão se queimar. Vão escorregar... Mas existe
outra forma mais eficiente de aprender?
Líderes que agem como
tampas costumam permanecer por 20, 30, 40 anos nas empresas.
Elas gostam de gente assim. Essas pessoas acham que agindo
como tampas, estão protegendo seus comandados. E
estão certas, tampas servem para proteger. Mas também
para conter, impedir que o conteúdo saia.
Meus jovens interlocutores
ouviram atentos, saboreando cada palavra que eu dizia. Depois
despediram-se pensativos. Eu sabia o que se passava em suas
jovens cabeças.
Eles estavam se perguntando...
- Sou fogo ou tampa?
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Luciano
Pires é jornalista, escritor, conferencista
e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização
do Brasil, acesse www.lucianopires.com.br.
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