
12/01/08
A empresinha
Eu odeio a TIM. Quando cheguei
em casa, de volta do réveillon, no dia 4 de janeiro,
encontrei um pacote com um celular da TIM, acompanhado de
nota fiscal e contrato de venda. Era a segunda vez que isso
acontecia. O detalhe é que eu não havia comprado
celular nenhum... Imediatamente liguei para a TIM, para
devolver o aparelho que não comprei. Fiquei longos
minutos ao telefone, sendo jogado de um atendente para outro.
Quando o sistema não caía, estava lento. Uma
tortura. E depois a ameaça: esta conversa está
sendo gravada. Lembrei daqueles cartazetes das repartições
públicas, que ameaçavam: é proibido
ofender o servidor público...
Foram horas ao telefone. Horas de tempo, horas de vida.
Como se eu não tivesse mais o que fazer com minhas
horas. Até que uma atendente abriu um protocolo de
cancelamento, me passou o número e me tranqüilizou:
- Vamos mandar retirar o telefone
que o senhor não comprou.
Ufa! Mas se ela pode resolver,
por que as outras atendentes não puderam?
No dia seguinte recebo ligação da TIM. Uma
moça diz que a empresa não aceitará
o protocolo de cancelamento, pois eu havia superado o prazo
para reclamação, que era de sete dias... O
telefone que eu não pedi foi entregue entre o Natal
e Ano Novo, quando eu estava viajando. E, quando cheguei
de viagem, nove dias haviam se passado. Gritei, esbravejei,
ameacei e nada. Pedi que chamassem o supervisor. Não
tem. Pedi o gerente. Não tem. Pedi outro atendente:
- Todos são treinados
igual.
Pedi o telefone da ouvidoria.
Não tem.
- A operadora passou todas
as informações. Posso ajudar em mais alguma
coisa?
Com o sangue fervendo desliguei
o telefone na cara da atendente. No processo, devo ter falado
com 12 ou 13 pessoas diferentes. Para cada uma repeti toda
a história, o CIC, o RG, endereço...
Liguei para meu advogado: vamos ao Procon. Ele aconselha
a esperar a TIM mandar meu nome para o SPC, assim buscaríamos
uma indenização monetária, cerca de
40 salários mínimos. Mas então tive
uma idéia. Procurei, entre os 27 mil endereços
eletrônicos que recebem meus artigos, os que tinham
TIM. Encontrei oito. Mandei um e-mail pedindo ajuda. Dois
responderam, solicitando mais dados para encaminhar a reclamação
internamente. No dia seguinte recebi um e-mail da responsável
pela área de televendas, pedindo desculpas em nome
da TIM e dizendo que mandariam retirar o aparelho que eu
não comprei. Hoje levaram o dito.
O que ocorreu? Só posso imaginar uma coisa. Os vendedores
de telemarketing têm que fechar uma cota mensal. Quando
chega o fim do mês e o número não fechou,
pegam os dados de algum cliente antigo (meu caso) e fazem
a venda à revelia do cliente. Fecham a cota do mês
e o cliente que se vire para devolver o telefone que não
comprou. A devolução acontece em outra área
da TIM e ninguém fica sabendo da malandragem. Vigarice.
O sujeito da logística tem que fazer as entregas
dentro de um tempo determinado. Se o cliente não
está, entrega para a empregada e ele mesmo assina
o canhoto da nota. Falsidade ideológica. Os atendentes
têm que ouvir os clientes e tentar resolver com aquilo
para que são treinados: nos 20% dos problemas que
geram 80% das reclamações. Saiu fora, não
tem como. E não existe a quem recorrer. Mau atendimento.
Pobre de quem não tem
27 mil leitores...
Aquelas propagandas milionárias
constroem uma imagem mentirosa que é destruída
pela atendente incompetente e pelo sistema que não
funciona. Se a TIM usasse o dinheiro que gasta em propaganda
enganosa num atendimento decente, ganharia muito mais. Mas
não. Dá mais prestígio ver o filminho
engraçadinho na Globo. E ser enganado pela planilha
do Gerente de Operações, que mostra que as
reclamações caíram 1% no ano que passou,
faz parte da comédia corporativa.
Mas eu não vou ficar quieto, não. Você
trabalha ou trabalhou na TIM ou outra operadora? Conhece
alguém que trabalhou e que possa me contar o que
se passa lá dentro? As sacanagens? Escreva-me. Garanto
o sigilo.
Quero escrever um artigo devastador que escancare a incompetência,
jogo de interesses, desonestidade e falta de ética
dessas empresinhas.
Depois mando um e-mail pra
TIM pedindo desculpas.
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Luciano
Pires é jornalista, escritor, conferencista
e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização
do Brasil, acesse www.lucianopires.com.br.
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