
17/03/08
Melô do Congresso
Meu título de eleitor já tem 33 anos. E nesse
tempo todo em que treinei minhas habilidades como eleitor,
parece que o atributo que mais desenvolvi foi a desconfiança.
Não sei como é com você, mas em ano
eleitoral eu sinto uma espécie de angústia.
Quero conhecer os candidatos, mas não sei direito
onde procurar as informações. E quando as
encontro, não sei se acredito. Todos parecem ter
um passado a esconder ou um futuro a desconfiar. E quando
encontro algum que julgo merecer meu voto, logo vem alguém
dizendo que não é bem assim, que o primo da
tia do vizinho da cunhada dele ouviu dizer que a pessoa
tem rabo preso... Que dureza!
A única certeza que
tenho é que urna não é lixeira. Voto
não é brincadeira. O voto é a única
arma para liquidar com os bandidos. E sabe o que mais? O
bandido está lá, ocupando aquela cadeira porque
nós a deixamos vaga. Não gostamos de política.
Eles gostam...
Milhões de pessoas vendem seus votos, negociam sua
vergonha. Outros milhões optam por desistir, por
lavar as mãos, como Pilatos. Mas muitos milhões
não aceitam ser reféns da negociata, da bandidagem,
da enganação. Em qual milhão você
se insere?
Pois bem... Apesar de minha
angústia e incertezas, decidi fazer alguma coisa
para evidenciar a importância das escolhas nas eleições.
Em 2004 criei uma ferramenta para tratar desse assunto de
forma irreverente e séria ao mesmo tempo: as melôs.
Parodiando músicas conhecidas e sob forma de pequenos
filmes protagonizados por bonecos de uma egüinha e
três vaquinhas, que cantam e dançam de forma
engraçada, as melôs foram feitas para serem
distribuídas como um vírus pela internet.
Os bonecos são manipulados
por profissionais bonequeiros da companhia Trucks. São
fascinantes. Você pode até não gostar,
mas sua filha gosta...
Muito bem. Tudo isso para apresentar
o novo lançamento, a Melô do Congresso. Baseada
na música Felicidade, de Lupiscínio Rodrigues,
com letra de Junior Poli, Labi Mendonça e eu mesmo
e arranjos e interpretação de Sérgio
Sá, a Melô do Congresso vai direto ao ponto:
Honestidade foi-se embora
/ E a vergonha no Congresso já não mora /
Esperança no Brasil, só piora / Porque sei
que a falsidade lá vigora
O deputado já começa
aproveitando / Mete a mão, vai desviando
E não pára de roubar / E o dinheiro do hospital
/ Vai pra boiada, / Pra amante e o novo carro / Que o Juninho
vai comprar
Moralidade foi-se embora
/ E a maldade no Congresso é lá que mora /
E é por isso que o nosso só se explora / Porque
sei que a pilantragem lá vigora
O deputado fala errado
/ Ri à toa, se fingindo de inocente / E começa
a enrolar / E o coitado que votou nessa pessoa / Lembra
o voto, que vergonha / Quatro anos pra aturar
Seriedade, foi-se embora
/ O picareta virou dono, e nos devora / E o povo inteiro
já percebe, a ilusão / De que a política
em Brasília / É enganação
Daqui a pouco é
eleição e lá vêm eles, / Com
sorriso, abraço e beijo / Pro meu voto conquistar
/ E eu mando à merda, não sou burro nem palerma
/
Ninguém mais me passa a perna / Eu vou botar pra
quebrar
Renovação
vamos embora / Que a limpeza do Congresso, não demora
Não sou trouxa, tô cansado / Vou à forra
/ Porque sei que a falsidade não vigora
O vídeo já está disponível em
meu site ou no YouTube, em http://br.youtube.com/watch?v=hfGo5GecgeY.
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Luciano
Pires é jornalista, escritor, conferencista
e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização
do Brasil, acesse www.lucianopires.com.br.
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