
23/02/08
Senhor Tempo
Durante uma de minhas palestras
um grupo de jovens perguntou sobre fórmulas para
construir uma carreira de sucesso. Eles viam em mim um executivo
de uma multinacional, um sujeito que fala em público
com facilidade, um escritor, um radialista, enfim, e queriam
descobrir o que fiz e como fiz para chegar até ali.
Cada um tem sua história
de vida e já está mais do que provado que
duas pessoas parecidas, por mais similares os ambientes
onde cresceram e foram educadas, acabam encontrando diferentes
caminhos na vida. Fórmulas não existem. Existem
métodos, existem processos, existem dicas. Sabe aquelas
coisinhas que a gente aprende quebrando a cara?
E uma das coisas que mais gosto de dizer - para decepção
da garotada - é que um dos atributos mais importantes
para explicar o sucesso que as pessoas obtêm em suas
carreiras é muito comum e todo mundo tem em igual
intensidade: o tempo.
Meus jovens interlocutores
tinham mais vigor físico, mais velocidade, mais ânimo,
mais beleza, mais capacidade de aprender do que eu. Mas
eu tenho mais tempo de vida...
Aquele executivo que falava
para eles é produto de meio século de experiências,
de tentativas e erros. Está por aqui desde a metade
dos anos cinqüenta. Planta desde os 16 anos de idade.
E por isso colhe. Qualquer garotão de trinta anos
pode ter mais cursos, mais empregos, mais namoradas, mais
filhos, mais viagens do que eu. Mas nunca terá mais
tempo de vida. E, acredite, isso faz diferença quando
temos consciência de que a passagem do tempo é
um processo de aprendizado, de polimento.Quem
tem essa consciência trata o tempo como aliado.
O tempo adiciona à razão
uma carga de emoção que só conseguimos
equilibrar quando chegamos à idade madura, lá
pelos quarenta anos.
Num recente artigo da jornalista Maia Szalavitz na revista
Psicology Today, encontrei uma informação
curiosa, pois sempre achei que seria o contrário:
pesquisas recentes demonstraram que quando um jovem é
colocado diante de uma decisão que envolve determinados
riscos, como usar drogas para ganhar massa muscular ou dirigir
embriagado, usa certas regiões do córtex cerebral,
responsáveis pela razão. E sua análise
racional determina muitas vezes que os ganhos em estética
corporal valem o risco das drogas. Ou que a diversão
naquela festa vale o risco da direção insegura.
Já os adultos usam regiões
do cérebro mais ligadas à emoção.
Pesam os prós e os contras de forma racional e emocional
e por mais que os ganhos sejam atraentes é a decisão
emocional que diz: não!
Nós, adultos, baseados
na emoção, consideramos sempre o pior cenário.
- Nossa, pai, como você é trágico!
- Mãe, você acha
que eu sempre vou me estrepar!
Nossos filhos consideram sempre
o melhor cenário. Tudo vai dar certo, tudo vai correr
bem, tudo é tranqüilo. Eu sei. Fui um deles.
Mas um dia o Senhor Tempo me transformou em pai...
Infelizmente (ou felizmente)
não há como apressar o tempo. É impossível
acelerar o amadurecimento do processo de tomada de decisão.
São a prática e a repetição
que aperfeiçoam nosso processo de julgamento emotivo.
Senhor Tempo. Democrático senhor tempo! Homens ou
mulheres, pretos ou brancos, ricos ou pobres, todos têm
a mesma quantidade. Não dá pra emprestar.
Não dá pra comprar. Não dá pra
alugar. Só dá pra viver. A diferença
é o que cada um escolhe fazer com ele.
Terminei a palestra com uma
frase de Charles Darwin que é mais um de meus motes
de vida:
O homem que tem coragem de desperdiçar uma
hora de seu tempo não descobriu o valor da vida.
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Luciano
Pires é jornalista, escritor, conferencista
e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização
do Brasil, acesse www.lucianopires.com.br.
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