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Baby Boom
     
 
 
     

Como a expectativa já não era tão grande (uma vez que o único remanescente da formação original da banda é o próprio Mustaine, e é sabido que ele não canta mais como antigamente), o que se esperava era, no mínimo, um show forte e agressivo, como a personalidade do frontman.

 

13/06/08
Metal enferrujado?

“Quero meu dinheiro de volta, porra!”, grita um camarada de trinta e poucos anos, cabelo comprido, cavanhaque, tatuagens e blusa preta do Megadeth, um dos fãs que foram ao Chevrolet Hall, no último domingo, 8/6, conferir a apresentação da banda norte-americana de trash metal. Difícil acreditar que o grito tenha sido ouvido após o show de uma banda-ícone como o Megadeth, e logo na esquecida Belo Horizonte (evento quase tão surreal quanto o show do Slayer, em 2006). Contudo, a revolta do público era totalmente fundamentada: somando os diversos aspectos negativos, tanto técnicos como no tocante à performance da banda, o frustrante resultado obtido foi uma apresentação nota seis, entre mediana e ruim, recheada de falhas, desânimo e má vontade.

Um dos músicos mais frustrados do metal, o guitarrista e vocalista Dave Mustaine fundou o Megadeth em 1983, com o objetivo uno de formar uma banda maior que o Metallica – seu grupo anterior, do qual foi “chutado” devido aos seus problemas com drogas e sua personalidade difícil, fato que o fez tomar ódio dos ex-companheiros de palco por anos a fio. Mustaine não conseguiu o que queria, mas passou perto. Formou uma banda que, rapidamente, se tornou notória no cenário do metal mundial e conquistou uma legião de fãs xiitas (à lá fãs de Iron Maiden), que defendem o frontman com unhas e dentes. No entanto, até esses fãs saíram do Chevrolet Hall, no mínimo, decepcionados.

Para quem freqüenta shows de metal, era notável que havia um público estranho ali. Muitos pequenos adolescentes (entre 12 e 14 anos) gritavam o tempo todo antes do show, inclusive ovacionando os roadies da banda (!), protagonizando uma cena ridícula e constrangedora. Aos poucos, o Chevrolet enchia, e fãs um pouco mais habituais de metal iam enfeitando a casa. Marcada para 19h, a apresentação começou com apenas dez minutos de atraso, mas sem nenhuma banda de abertura (e o Overdose? E o Chakal?).

Ao som do primeiro riff de “Sleepwalker”, do último CD, “United Abominations” (2007), o susto: o som estava péssimo – não que seja uma novidade em se tratando de Chevrolet Hall, mas estava fora do comum, incrivelmente ruim. Acompanhado de James LoMenzo (baixo), Chris Broderick (guitarra) e Shawn Drover (bateria), Mustaine seguiu com “Wake Up Dead” e “Take No Prisioners”, até parar o show, falar meia dúzia de palavras inaudíveis (por causa do som ruim e da rapidez com que o frontman fala sua língua) e sair com a banda do palco.

A agonia da espera pela volta do Megadeth durou cerca de 15 minutos, enquanto aqueles adolescentes, do começo do show, batiam os coturnos no chão e gritavam o nome da banda, parecendo não entender a situação. No entanto, o xilique de Mustaine foi exagerado, impróprio e em vão, uma vez que, ao voltar, o som da banda estava fraco da mesma forma, se não pior. O show continuou com grandes hinos do metal, como “Skin O' My Teeth”, “In My Darkest Hour”, “Hangar 18” e “She Wolf”, mas com um Mustaine mais desanimado que o normal, que dava a impressão de estar ali por completa obrigação. Tudo bem que, se fosse eu, também ficaria revoltado com a qualidade do som, tendo em vista o padrão dos shows da banda. Mas o público presente e pagante – diga-se de passagem, R$70 a meia-entrada, só para lembrar – nada tinha a ver com isso. Os fãs sofreram de um lado, com a estrutura técnica, e do outro, com o mau-humor de Dave Mustaine. Destaque para o guitarrista Chris Broderick, ex-Nevermore, que toca muito e era o único empolgado no palco.

Na dobradinha “Symphony of Destruction” / “Peace sells”, um dos momentos mais esperados do show, a impressão que se tinha era que você estava ali, curtindo o som e, de repente, colocavam um tampão em suas orelhas. O som das músicas ficava abafado e inaudível por um tempo, e depois (ao tirar o tampão), voltava ao “normal”. Isso durante o tempo inteiro, situação que incomodava tanto os fãs quanto os músicos. O que estava acontecendo naquele PA? Ninguém conseguia entender. Tendo em vista que o Megadeth também teve problemas no show de São Paulo (lá o xilique durou meia hora), provavelmente o defeito veio de avião, junto com a banda.

Após os dois clássicos, a banda sai novamente do palco, para voltar com a maravilhosa “Holy Wars” e encerrar o show. Após mais um falatório rápido e inaudível (Mustaine só interagiu com o público duas vezes), a banda agradece, dá as mãos e sai do palco. Fim de papo. Os headbangers se dividem: alguns, emocionados, dizem que valeu a pena ter visto Dave Mustaine e o tão falado “show do Megadeth”; outros, frustrados, xingavam o frontman e teciam críticas mil ao show e à banda.

Como a expectativa já não era tão grande (uma vez que o único remanescente da formação original da banda é o próprio Mustaine, e é sabido que ele não canta mais como antigamente), o que se esperava era, no mínimo, um show forte e agressivo, como a personalidade do frontman. Contudo, o que os mineiros viram foi um Mustaine mais chato e desanimado que o normal, que deu indícios de que, apesar de renovada a sua trupe, o metal do Megadeth, infelizmente, parece ter enferrujado.

Set-list:

Sleepwalker
Wake Up Dead
Take No Prisoners
Skin O' My Teeth
Washington Is Next!
Kick the Chair
In My Darkest Hour
Hangar 18
She Wolf
A Tout Le Monde - Chris's solo
Tornado of Souls
Symphony of Destruction
Peace Sells
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Holy Wars



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Lucas Buzatti é jornalista desde moleque, mas só foi descobrir a profissão mais tarde. Cismado a escritor, é apaixonado e curioso por contracultura, cultura pop, música, cinema e literatura. Acredita que o bom jornalismo deve ser feito com emoção e criatividade, e idolatra Hunter S. Thompson. Tem o péssimo hábito de escrever muito, até mesmo em descrições de pé de página. Fale com ele: lbuzatti@yahoo.com.br

   
 

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