
13/10/07
Prazer número
3:
“Fuçar”
nas gavetas de Clarice Lispector...
Documentos, cartas, manuscritos.
Lembretes para seus livros em pedaços de papeis rasgados,
fotos e cartas ao presidente da república. Estas
são as surpresas da exposição temporária
do Museu da Língua Portuguesa; A hora da Estrela,
sobre a vida e obra de Clarice Lispector.
A tarefa do museu é introduzir o público no
universo e na subjetividade de autores que fizeram da escrita
seu mundo particular. E poucos escritores de nossa língua
criaram um estilo tão pessoal quanto esta escritora
ucraniana brasileiríssima, que pensava, falava, escrevia
e agia em português.
O foco da exposição é a palavra da
escritora. Suas frases atordoantes, sejam de seus livros
ou de suas falas, estão espalhadas nas paredes e
se casam com as fotografias que documentam a trajetória
da escritora que nasceu em Tchetchelnik e morou em Maceió,
Recife e no Rio de Janeiro.
Duas salas da exposição possuem as paredes
cobertas por gavetas, do chão ao teto, como um imenso
armário embutido. Quando as gavetas surpresas se
abrem, o público mergulha na vida de Clarice.
Destaque para a sua correspondência. As cartas trocadas
com grandes mentes da literatura brasileira nos revelam
um pouco da intimidade de cada um: o gosto de Rubem Braga
pelas mulheres, a insegurança de Carlos Drummond
face à escrita poderosa da amiga, que sempre escrevia
os livros que ele queria escrever e melhor.
O compadre Érico Veríssimo revela em uma de
suas cartas que não suporta mais os mexericos desta
gente pequena que frenquenta a alta sociedade brasileira.
Outro momento lúdico é a exibição
das imagens da entrevista de Clarice, feita por Julio Lerner
em 1977. A voz grave da escritora é pertubadora,
o tom, muito confundido com sotaque, é na verdade
produto de sua língua presa e o olhar é de
uma leoa que encara aquele que a arrancou de seu sono.
A exposição Clarice Lispector – A hora
da estrela é uma homenagem à autora no trigésimo
aniversário de sua morte. Esclarece alguns mistérios
de Clarice, já que a explicação do
enigma é a repetição do enigma e cria
novos, algo bastante normal já que ela confessava
ser um mistério para si mesmo.
A repetição do enigma, para quem ainda não
o viu, se encerra neste domingo, dia 14, das 8 às
18 h, na estação de metrô Luz em São
Paulo.
Leia
também:
01/10/07
- O Saldo da Bienal
15/09/07
- Prazer número dois
01/09/07
- Pequeno Prazer número
1
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Liana Carvalho é jornalista especializada
em Telejornalismo pela
Universidadde Anhembi Morumbi de São Paulo. É
uma afixionada pela combinação de vinhos e
comidas, e se tornou Sommelier pela ABS - Associação
Brasileira de Sommeliers. Trabalhou por cinco anos no jornal
Correio Braziliense e hoje colabora com jornais e revistas
na capital
paulista. Fale com ela:
leecarvalhius@yahoo.com.br
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