
02/02/08
Pequeno prazer número oito:
Comer diferentes tipos de comida, na rua.
E não ter uma infecção alimentar.
PS: hoje a coluna é
dedicada às pessoas que ficaram atordoadas por causa
do ataque de um sem teto armado à comitiva do prefeito
de São Paulo, logo na Sé! Onde os manos
só atacam mauricinhos de terno Armani e com relógios
Rolex no braço.
Tirando isto; se você
acertar no traje, separar um dinheiro para o assaltante
e tiver um espírito aventureiro, você pode
encontrar muita diversão no centro desta metrópole.
Começando pela comida.
Há variedades para todos os gostos. Você pode
ir para o metrô comendo um milho cozido, ou devorar
um acarajé da baiana de Jesus enquanto volta para
o escritório. Pode também se render aos coreanos
com suas woks de três rodas e almoçar um yakisoba
deliciosamente feito no meio da rua.
Mas nada supera a iguaria que
enche os olhos de todo paulistano: o churrasco grego. São
50 quilos de carne enrolada em um grande espeto, girando
durante 24 horas! Você paga 1 real e come o churrasco
em um pão com salada de tomate e repolho e ainda
ganha um copo de suco de uva.
Antônio, 62 anos , que
prefere não dizer o sobrenome, é o dono de
um dos pontos do centro da cidade há 8 anos. Não
é grego, mas aprendeu o ofício durante os
anos em que trabalhou em restaurantes pela cidade. Ele migrou
do Ceará nos anos 70 e o churrasco já fazia
sucesso. Depois de juntar um dinheiro resolveu abrir seu
negócio.
Seu pequeno restaurante a céu
aberto nunca fecha. À noite vai para casa dormir
e um funcionário assume até às 6 horas
da manhã, quando Antônio volta com mais um
espeto pronto temperado por ele mesmo. O tempero é
o grande segredo do sucesso.
O churrasco grego vendido na
capital paulistana, é uma versão do prato
turco Kebab; um assado de carne de cordeiro temperado com
especiarias e servido em lascas. Foi nos anos 70 que os
imigrantes turcos na Alemanha começaram a enrolar
a carne em pão sírio, com alface e tomate.
No mesmo período a receita chegaria ao Brasil, mas
aqui seria servido no pão francês e com o repolho
substituindo o alface.
O churrasco fez muito sucesso
entre os trabalhadores que tinham pouco tempo e nenhum dinheiro
para comer. Em sua fase de glória, Antônio
vendia mais de mil churrascos por dia e já foi até
entrevistado por Jô Soares, lembra orgulhoso. Hoje
teme o desemprego, pois o prefeito de São Paulo,
Gilberto Kassab, quer a cidade limpa e ameaça tirar
todos os vendedores ambulantes do centro de São Paulo.
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2007
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Liana Carvalho é jornalista especializada
em Telejornalismo pela
Universidadde Anhembi Morumbi de São Paulo. É
uma afixionada pela combinação de vinhos e
comidas, e se tornou Sommelier pela ABS - Associação
Brasileira de Sommeliers. Trabalhou por cinco anos no jornal
Correio Braziliense e hoje colabora com jornais e revistas
na capital
paulista. Fale com ela:
leecarvalhius@yahoo.com.br
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