
01/09/07
Quando
escolhi o nome da minha coluna no site O Binóculo,
nao poderia ser outro senão "Prazeres Mundanos".
A primeira vista pode parecer que o assunto estaria relacionado
ao prazer carnal ou prazer pagão, como diriam meus
colegas teólogos. Não é bem isso. O
que você vai encontrar por aqui são narrativas
de pequenos prazeres encontrados mundo afora. Mas eu, que
sou propensa a contradições, não deixaria
de fazer este pequeno trocadilho ... Para sanar as dúvidas
há um pequeno trecho do livro: Ah! Os lugares onde
você irá, do Dr. Seuss que traduz bem o espírito:
" Você tem cérebro na cabeça. Você
tem pés nos sapatos. Você pode caminhar na
direção de que mais gostar." Boa leitura!
Pequeno
Prazer número 1:
Aprender uma nova língua,
o italiano, e descobrir que há muitas palavras em
comum com a língua que você já sabe:
o espanhol por exemplo! Como compleaños (aniversário),
pero (mas) e Yo (eu).
Desprazer ( os desprazeres
nós não contamos):
Receber um novo rótulo,
além dos que já temos.
É que nós, os brasileiros, ao aportarmos em
terras européias, além de bons de bola e samba
no pé, ganhamos um subtítulo: “Extra-comunitários”.
Teoricamente extra-comunitário é todo aquele
que vem de países que não fazem parte da União
Européia ou Comunidade Européia. Mas, na prática
o conto é outro! Extra-comunitário: é
esfomeado, é pobre, é vândalo.
É claro que esta regra vale para extra-comunitários
de países de terceiro mundo como o nosso, os ricos
norte-americanos ou árabes petroleiros são
tratados de forma muito diferente. Se o brasileiro tenta
misturar o italiano com português é maltratado,
se falar um italiano sofrível é ignorado,
agora se falar em inglês, haverá uma grande
diferença. Até mesmo os comerciantes mais
velhos nos atendem bem em inglês.
Quando estive em Gênova, na italia, não me
espantei ao saber que os brasileiros radicados lá
preferem, em algumas situações, usar o inglês
para ser melhor atendido. A nossa anfitriã: a estilista
Rozilane Fernandes, é brasileira, casada há
10 anos com um italiano e residente em Gênova há
três. Fala italiano perfeitamente, mas quando saíamos,
ela nos pedia para falarmos em inglês a fim de evitar
os maltratos dos italianos! Ela mesma, como nos contou,
já passou por inúmeras situações
constrangedoras. Bastava que o vendedor percebesse que ela
era brasileira para trata-la de forma rude. Tudo culpa dos
rótulos!
Em Gênova, onde a maioria dos imigrantes são
albaneses, africanos ou mulçumanos, a população
encontrou um subtítulo para cada etnia. Os genoveses
têm um para cada tipo de gosto: Albaneses: Trambiqueiros.
Muçulmanos: Vândalos. Africanos: Traficantes.
Mulheres com roupas esquisitas: Ciganas! Confesso que a
última categoria eu criei porque me chamaram de cigana
quando estava andando na praça com um saia rodada
e de várias cores...
Como não há muitos brasileiros em Gênova,
nosso subtítulo é o mais carinhoso: pobres!
E como conseqüência: burros!
A onda de animosidade presente em grande parte da população,
casa com as novas políticas adotadas pelo governo
italiano, que deve apertar as regras para a concessão
de cidadania ainda este ano. Anteriormente, o país
possuía uma das regras mais flexíveis da União
Européia ao conceder a cidadania a todos os descendentes
de italianos por parte de pai, mesmo com ascendência
distante. A nova regra restringe a concessão à
filhos e netos de italianos.
O contraponto está no fato de que o país é
constituído, em sua maioria, por idosos e carece
de mão-de-obra. E durante muito tempo encorajou os
descendentes da pátria, nascidos em terras distantes,
em idade produtiva, a voltarem às “origens”
para movimentar a economia do país. Em bom português:
os brasileiros lá residentes foram convidados a se
instalar para ajudar o governo a aumentar a produção
de capital no país, já que uma campanha de
incentivo a natalidade (como faz a Irlanda), levaria muito
tempo e dinheiro para dar resultados.
Meu mantra na Itália : Chamaram os brasileiros porque
os italianos não deram conta!
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Liana Carvalho é jornalista especializada
em Telejornalismo pela
Universidadde Anhembi Morumbi de São Paulo. É
uma afixionada pela combinação de vinhos e
comidas, e se tornou Sommelier pela ABS - Associação
Brasileira de Sommeliers. Trabalhou por cinco anos no jornal
Correio Braziliense e hoje colabora com jornais e revistas
na capital
paulista. Fale com ela:
leecarvalhius@yahoo.com.br
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