
27/10/07
Leiam Paulo Coelho
Inicialmente, quero elucidar ao leitor que promovo essa
querela não para defender a literatura superficial
de Paulo Coelho ou sua pífia narrativa. Todavia,
é necessário explicitar que este é
um dos escritores brasileiros mais respeitados (sic) no
exterior. Às favas com isto, também concordo
que tal “olimpianismo” ocorre, apenas, tendo
em vista sua garbosa (leia-se esplêndido merchandising)
vendagem de exemplares. Mas devo argumentar que, provavelmente,
dois entre dez que excomungam o bruxo-letrista-escritor-performer
(nessa ordem, sendo o último acrescido sob o prisma
de que todos os atuais artistas se dizem tal, apesar de
poucos saberem o que palavra realmente significa) nunca
o leram. Ou seja, são influenciados, quiçá
demovidos, pelo senso comum.
Não venho aqui acastelar
o “escritor”, mas ilustrar a necessidade de
alguma leitura por parte do maior quinhão da população,
seja ela qual for – acredito que é sempre melhor
ler do que não ler, se o texto é bom já
são outras carambolas. Desse modo, Paulo Coelho pode
suscitar, naquele desavisado ou iniciante leitor, outras
leituras e, assim, descobrir Hesse, Rosa, Rilke, Leminski,
Campos de Carvalho, Foucault, Blanchot, De La Barca, Rimbaud,
Nabokov, Suassuna... e isto já valeria a existência
do “letrista”. Vide a Bíblia Sagrada.
Dentre aqueles que a discutem (heterodoxos, ortodoxos, paradoxos),
provavelmente, poucos efetivamente a leram. Mas todos já
têm uma opinião formatada e estruturada sobre
o livro sagrado e suas histórias maravilhosas (lembrei-me
de um filme agora, alguma relação?).
Apesar disto, venho ressaltar
a importância de Paulo Coelho na literatura nacional.
Não sua relevância para a formação
crítica e intelectual do indivíduo que lê
o “bruxo” – posto que uma bula de remédio
seria mais profunda –, mas o que representa a figura
do mesmo dentro do imaginário popular. Pergunta:
um autor brasileiro? Resposta em 83,25%, segundo pesquisa
do Instituto Vizibelli de Estética: Paulo Coelho.
Atualmente, e bota-se atualmente
nisso, Paulo Coelho é tão senso comum que
soa mais estranho ouvir dizer que alguém o leu do
que ouvir que os seus livros são de auto-ajuda. Ora,
como engendrar um juízo de valor sem conhecer aquilo
que é julgado? É o mesmo que bradar às
paredes que água de cachoeira é gelada sem,
contudo, nunca ter nadado em uma. Ou não comer jiló
porque é amargo e comida de passarinho sem ter traçado,
alguma vez, uma porção da hortaliça-fruto.
Depois de todo esse discurso a pergunta, inerente e inevitável,
surge: e você, caro colunista, já leu algum
livro de Paulo Coelho? Respondo. Sim, três ou quatro,
e sou obrigado a concordar com o senso comum: é uma
merda. Mas leiam.
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Leonardo Rocha
é jornalista, ator e cineasta. Fale com ele: E-mail:
nadorocha@yahoo.com.b
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