OPPERAA
 
Baby Boom
     
 
 
     

De jornalista a diretor de cinema. De graduado a ciências sociais a crítico de cinema. Agora em uma nova, mas não tão nova assim, função. Cléber Eduardo é o responsável desde o ano passado a realizar a curadoria dos filmes exibidos na Mostra de Tiradentes.

Foto: Diavulgação

 

13/02/08
Atrás das cortinas de uma Mostra de Cinema

Entrevista - Cléber Eduardo parte I

De jornalista a diretor de cinema. De graduado a ciências sociais a crítico de cinema. Agora em uma nova, mas não tão nova assim, função. Cléber Eduardo é o responsável desde o ano passado a realizar a curadoria dos filmes exibidos na Mostra de Tiradentes. Nessa entrevista, divididas em duas partes devido ao tamanho, ela vai abordar todas as nuances de Tiradentes, além da sua opinião sobre inúmeros outros aspectos relativos ao cinema.

Essa é a segunda vez que você é o curador da Mostra de Tiradentes. Como aconteceu o contato da Universo Produções?

Foi um convite que aconteceu antes da 10ª Mostra e de certa forma surpreendente, pois não tinha tanta proximidade com a Raquel (Hallack – coordenadora geral do evento). Eu tinha vindo duas vezes anteriormente para participar de mesas de seminários e em 2006, quando estava no Festival de Brasília, a Raquel me ligou e perguntou se estava interessado em realizar a curadoria e eu aceitei após uma conversa, pois gostaria de saber as condições que seria feito isso, qual seria minha liberdade em tentar estabelecer um perfil de programação, se isso seria possível. Assim, as duas partes se entenderam e a gente realizou a primeira no ano passado. Claro, admito que tinha algumas irregularidades dentro da programação, dentre outros motivos porque a safra não era tão rica quanto foi a desse ano para a gente montar a programação, depois disso aconteceu o CineOP em Ouro Preto, o CineBH, e para essa segunda em Tiradentes já tinha a experiência de três curadorias e, dessa maneira, evidente que já se tem um traquejo maior, existe mais ou menos uma noção em como desenhar a programação, da possibilidade de ousar um pouco mais em alguns filmes, pensar numa comunicação com o público em outros.

No caso de curtas e vídeos, em que faz curadoria com outras pessoas, como funciona o processo?

Ano passado não tive nenhuma relação com a programação de vídeos, esse é o primeiro ano. Esse ano, assumindo como curador geral, assumi a curadoria de vídeos também com mais três pessoas, que fizeram uma pré-seleção em um primeiro momento, afinal eram 450 inscritos. Depois disso ficaram cento e poucos vídeos e logo em seguida juntei aos três para a gente chegar as sete sessões que dá ao todo 40 e poucos vídeos.

O processo de curtas foi bem tranqüilo e assim como ano passado fiz com o Eduardo Valente que edita a Cinética (www.revistacinetica.com.br) comigo. Sei mais ou menos como é o olho dele, ele conhece quais são minhas, digamos, manias, cada um escolhe o que quer, cada um diz os curtas que realmente quer que esteja aqui e isso já dá um número razoável do total de curtas selecionados e aí a gente discute caso a caso as discordâncias que a gente tem. A partir disso, acontece uma negociação, sempre pensando em como construir a sessão, em que lugar colocar os filmes, esse filme fica melhor numa sessão que na outra, e dentro da sessão se esse filme é melhor como segundo ou terceiro, há essas discussões sobre, vamos dizer assim, arquitetura da grade.

Nesse quesito a de vídeo já foi mais complicada, afinal são mais três pessoas, eu não tive acesso ao primeiro volume que foram 450 vídeos. A distância também dificultou (Rafael Ciccarini e Beth Miranda são de Minas Gerais, Luiz Carlos Oliveira Júnior é do Rio de Janeiro, enquanto Cléber Eduardo reside em São Paulo) e assim trabalhamos muito através de e-mails, não houve oportunidades de muitos encontros, conversas. Dessa maneira, basicamente o que fiz foi colocar dentro da programação os vídeos que cada um queria muito que entrasse, não tem nenhum vídeo que algum curador queria que estivesse aqui e não esteja. Depois de colocar os preferidos de cada um a gente tentou chegar num acordo também já pensando nas sessões, em como torná-las minimamente coerente dentro da programação.

O tema da 11ª Mostra é a Contemporaneidade do cinema nacional. O que aconteceu primeiro: a escolha dos filmes e assim percebeu esse tema em comum ou essa escolha foi baseada no tema?

O tema surgiu da produção, o tema nunca nasce da minha cabeça, ele nasce do cinema disponível. Na verdade não é nenhuma novidade, afinal nos anos 2000 o número de filmes sobre jovens ou com personagens jovens cresceu muito, cada vez mais, e ao longo do ano passado eu já sabia que iriam estrear vários filmes sobre esse universo. Já em janeiro do ano passado eu tinha uma lista dos filmes que iriam passar pela primeira vez, que iam ficar prontos em 2007, e assim tentei acompanhar essa produção, convidar alguns filmes que tinham essa temática, outros se inscreveram, quer dizer, óbvio que quando via um filme que era centrado nesse universo ele já tinha um interesse maior da minha parte. Mas não foram todos dentro desse universo que entraram. Teve tanto filmes que se inscreveram e não foram selecionados, embora tivessem jovens na equipe, jovens no elenco, como teve filmes que eu poderia convidar, mas não fiz, pois não encaixava com o resto da programação.


Fato: Pedro di Lorenzo

A Mostra começou na sexta, dia 18, e hoje é o último dia. Pelo que pode observar, você acredita que o público esteja satisfeito com suas escolhas?

Olha, o público que eu tenho retorno é quem vem falar comigo, é quem fica até o final da sessão. Aí você tem o aplauso, o “aplausômetro”, vamos dizer assim, como um índice de aprovação, ou não, e também o retorno das pessoas que vem pessoalmente falar comigo. O sujeito que saí no meio da sessão, vai embora pra casa e não se manifesta evidentemente que suponho que ele não tenha curtido o que viu até a hora de sair, mas também se ele não se manifestar também não vou saber o que se passava pela cabeça, pela sensibilidade dele. Agora o que eu levo em conta não é o número de pessoas que saem, mas o número de pessoas que ficam. Então, se eu pegar os dois filmes, digamos, mais complicados enquanto linguagem, para um público mais amplo, que é o Cleópatra e o Sábado à noite posso ter duas maneiras de encarar a sessão: a primeira é pelo número de pessoas que saíram dela, que foram em um número expressivo; a segunda maneira é contar quantas pessoas ficaram e dentre essas como foi a reação via aplausos, comentário, debates. Assim, a percepção do filme do Ivo, por exemplo, muda muito, porque o debate desse filme foi extremamente emocionante e emocionado, com pessoas agradecendo a ele por ter feito o filme. As pessoas que lá ficaram até o final pareceram dar um retorno muito positivo, mas ao mesmo tempo foi um filme que saiu muita gente. Então a gente também tem que pensar que cada filme que saem 200 pessoas, pode sobrar 300 e são essas que estão me interessando naquele momento, porque é para elas que aquela sessão foi feita.

Na exibição do filme Críticos do Kleber Mendonça, observei que estava no fundo da Tenda de pé. Para você, como já viu os filmes e é o responsável por ele estar sendo exibido, a reação da platéia é mais importante naquele momento?

O filme é uma função para a curadoria até a seleção, já no momento da exibição, não mais. Quer dizer: porque que vou selecionar? O que me interessa nesse filme para eu colocá-lo na grade? Porque vou colocá-lo na Mostra Aurora disputando prêmio? Essas questões todas são muito afetivas, pois você tem um número limitado de sessões, a gente está com a grade muito inchada de longas metragens, não dá para escolher mais para ser exibido, então é um sofrimento na hora da escolha.

Agora, claro, me interessa o retorno do público, sempre entro faltando 15 minutos, pois não dá para ficar na sessão inteira, afinal estou sempre resolvendo problemas pra cá ou pra lá, mas de qualquer forma minha preocupação é sim com o público, ver se o público aplaude ou não. A gente tem também um contador de quantas pessoas têm na sessão, assim fico contando, faltando cinco minutos, quantas pessoas sobraram, pra poder saber quantas pessoas saíram. Então eu tenho um controle bem rigoroso sobre esse funcionamento das sessões, isso me ajuda muito a pensar para frente, as próximas Mostras, e claro, preciso saber se os filmes são bem recebidos para ter uma noção também de como reage esse público a cada filme. Afinal isso também é um termômetro para outras organizações de grade. É um termômetro pra eu saber onde estou pisando, não significa que haja da minha parte na hora de compor a programação uma preocupação em que se é necessário apenas selecionar filmes que acho que serão muito aplaudidos, que vai ter uma adesão total ou que as pessoas não saiam do cinema, de forma nenhuma. O primeiro filme que foi selecionado para a Mostra Aurora foi o filme do Ivo, Sábado à noite. Quando eu vi tinha certeza que era ele e mais seis, era preciso descobrir os outros seis, mas ele já estava dentro. E sabia desde o início quando eu escolhi que ele poderia terminar com a sala vazia, dessa forma, imaginava que iria sobrar os dois júris que são onze pessoas no total, mais uns dez críticos de cinema, com isso 21 pessoas, e mais uns dez malucos. Estava totalmente na cruel expectativa que a sessão poderia acabar com 30 pessoas e assim, como ela acabou com quase 200, eu fiquei aliviado. E as pessoas que ficaram aplaudiram, o debate lotou, quer dizer, claro que tinha uma certa tensão, não é legal ver pessoas saindo do cinema, não é legal ter o realizador aqui e ele testemunhar pessoas saindo do cinema, mas em contrapartida o Ivo sabe do filme que fez, sabe que não é um filme para 700 pessoas ficarem até o final. Acho que a gente tem que ter um certo bom senso, mas não perder jamais a energia, inspiração, para usar, tentar, provocar, para causar estranhamentos. Se por exemplo, há uma sessão que começa com 700 pessoas e é um filme que sai muita gente, mas em contrapartida, “bate” muito forte em 20, a sessão já cumpriu a sua tarefa, pois esses estão sendo trazidos para o universo de um cinema mais estranho, singular, único, talvez mais difícil, se a gente tomar como parâmetro a formação cinematográfica, nosso repertório cinematográfico. Então a gente deve trabalhar mais ou menos como formiguinha: não a larga escala de querer agradar a 700 pessoas, mas talvez de provocar umas 300 e atender as 400 que ficam.

Me surgiu uma indagação agora: você prefere um filme como Sábado à noite, que tem essa incerteza em relação ao público, ou um filme como Ainda orangotangos que é um filme de mais fácil digestão, que o público permanece, gosta mais?

Não tem muito disso. O caso específico do Ainda orangotango me interessa não pela comunicação com o público, mas pela ousadia de fazer o filme inteiro sem cortes. Talvez se ele fizesse o filme todo cortado, me interessaria menos ter ele aqui. Mas o atrevimento, a ousadia, o risco de se fazer um filme deslocando pela cidade, por personagens, com situações sempre muito insólitas, bizarras, no limite da caricatura é que me chama a atenção e que justificou ele ter sido selecionado. Se ele fosse um filme muito organizado, sem esse risco, ele teria menos sentido de estar aqui, porque estaria um pouco dissonantes dos outros Auroras. Poderia até exibi-lo, mas não no Aurora, acho que esse é um espaço, de estreantes, sobretudo, que tem uma certa coragem de trabalhar no limite do erro, no limite do desacerto, de não ir no caminho mais fácil, mas sim no caminho mais arriscado. Aliás, esse é o tipo de cinema que os co-produtores europeus estão interessados em co-produzir, mas não encontram aqui no Brasil, pois os filmes que vão tentar ser co-produzidos na Europa são filmes com orçamentos maiores, que são meio engessados enquanto produção e falsamente pequenos. E os filmes que a gente trabalhou aqui são realmente pequenos, afinal, quatro filmes desses, por exemplo, sem nenhum orçamento, sem nenhum edital, em que todos trabalharam de graça ou que os diretores pagaram do próprio bolso, ou se endividaram, o que é uma marca dessa geração. O pessoal da década de 90 ou de 80 não fazia filmes se não tivessem edital, se não tivesse dinheiro público. Ninguém ia fazer um esquema alternativo de produção. Agora está surgindo uma geração que, se não encontra o caminho oficial de concursos, busca uma outra maneira de fazer, porque eles querem fazer. Assim, desse ponto de vista, essa é uma geração com mais tesão pelo cinema do que a geração que estreou na década de 90, claro levando em conta que hoje você tem o digital, que é uma diferença fundamental para realizar sem dinheiro de edital. Dos sete do Aurora, seis foram captados em digital, sendo que dois fizeram ampliação para película, os dois pernambucanos, Críticos e Amigo de risco, o filme do Bruno Safadi (Meu nome é Dindi) e do Ivo (Sábado à noite) são digitais, captado e exibido e só o Corpo foi captado em película. É interessante isso, pois esses filmes não serão exibidos em muitos festivais que só exibem película. O filme do Bruno, por exemplo, não poderia passar no Festival de Brasília, porque lá não exibe projeção digital, o que é um problema, porque você condena determinado filme a invisibilidade, às vezes por uma questão de hierarquia financeira. O filme não tem dinheiro para passar para uma película, não tem dinheiro para ter sido feito em película, e fica condenado a margem da exibição, a margem da visibilidade.

Abordando a questão do Prêmio para o Aurora, você não acha que a disputa por um prêmio, que não acontecia até ano passado, pode fazer com que o encanto de Tiradentes seja quebrado?

Vamos ver, ao longo de toda semana não. Tivemos os diretores convivendo o tempo inteiro, se cumprimentando, vindo aos debates uns dos outros. Na penúltima noite estavam todos jantando na mesma mesa em um restaurante, por isso acho que não. Não é uma premiação que estabelece um mau clima num evento, mas a maneira como você conduz a situação. Em Tiradentes a energia é muito positiva, as pessoas se encontram, as pessoas, sobretudo, adoram o Festival. Os diretores saem daqui sempre com elogios intensos, muitas vezes dizendo que foi a melhor sessão que eles tiveram. O Gustavo (Spolidoro – diretor do filme Ainda orangotangos), por exemplo, disse que essa sessão em Tiradentes foi a melhor sessão de qualquer filme dele, incluindo os curtas, o que é maravilhoso. Isso é importante, pois assim, quando tiverem um novo filme teremos uma facilidade maior para convidá-los a ter uma primeira exibição aqui. A idéia é que a gente se construa como uma plataforma de lançamento de diretores jovens. E acho que a premiação, prefiro falar na premiação e não na competição, é importante no sentido de que esses filmes precisam de uma legitimação qualquer. E o caso de ser dois júris justamente para abrir um pouco o leque de possibilidades, para não ter um prêmio só, pois pode acontecer de um júri escolher um filme e o outro escolher outro, assim, pelo menos teríamos dois premiados. E isso é uma maneira da gente dar uma alavanca, vamos dizer assim, para esses filmes e diretores, afinal, se eles só forem exibidos aqui vai ser bonita a exibição, eles vão ficar satisfeitos, enfim, mas não vai dar uma continuidade. Já com o prêmio o ganhador terá um senhor apóio para realizar o segundo longa metragem e para esses novos diretores que trabalham sem dinheiro público, sem edital, é uma tremenda economia.

São duas coisas importantes: a primeira é um prêmio material, um estímulo para o diretor apressar um segundo longa ou encurtar o período da espera, e isso é uma intervenção concreta na produção cinematográfica. A segunda, porque se só passar na Mostra, ele não sai daqui com uma legitimação, uma alavanca. Acho que o prêmio é uma alavanca para um ou dois filmes que sejam premiados. São cinco prêmios: dois destaques livres e dois melhores filmes, um de cada júri, além do júri popular, sendo que o Júri Popular pode premiar qualquer filme, não necessariamente precisa ser do Aurora. E se tratando do Júri de Críticos não é um júri qualquer, são pessoas gabaritadas para tal, o que não existe em nenhum outro Festival, um júri exclusivamente de críticos. Às vezes até tem o Prêmio da Crítica para jornalistas que cobrem o Festival, mas em geral participa da votação desse prêmio jornalistas que cobrem o Festival e que não necessariamente são críticos. Aqui a gente estabeleceu uma comissão, quer dizer, esses críticos são escolhidos a dedo, num certo perfil que nos interessa, e são eles que vão legitimar. E mais que isso: essa foi uma demanda dos próprios realizadores no ano passado, dos jovens realizadores, que estavam em seus primeiros e segundos filmes. Eles pediam para ter um prêmio oficial da crítica, não um prêmio do quartinho do fundo, porque num Festival que promove tantos encontros, tantos debates e reúne tantos críticos parecia um pouco incoerente que na hora de dar o prêmio só o público possa dar. Claro que o público pode e vai continuar dando, pois ele é absolutamente participativo também, mas se você deixa só o público, acaba premiando um certo tipo de cinema mais acessível ao público, quando o barato de Tiradentes é justamente uma discussão sobre os filmes que não são tão acessíveis e que precisam ser discutidos para ser minimamente entendidos, compreendidos, debatidos, assim é necessário um júri de críticos.

Já o Júri Jovem é necessário para fomentar o olhar crítico do jovem com ainda mais intensidade. Acho que essa iniciativa estimula ainda mais os jovens que sabem da existência desse júri e queiram fazer parte em Mostras futuras a estudar ainda mais sobre cinema, afinal é uma seleção através de uma oficina ministrada em Belo Horizonte. Em relação a esse Júri é muito interessante observar a discussão deles e como eles evoluíram durante esse tempo, como o nível do debate melhorou dia a dia. Alguns integrantes começaram o primeiro dia ainda meio verde na hora de argumentar e ontem, na hora de decidir o prêmio, já estavam absolutamente a vontade para discutir, para discordar, tentar impor sua opinião. Dessa maneira, acredito ser um bom estimulo para a gente tentar incendiar uma nova geração de cinéfilos, uma nova geração, quem sabe, de futuros críticos.

Queria que você falasse um pouco mais da oficina realizada em Belo Horizonte e da participação dos integrantes dos Júri Jovem?

Bom, a gente abriu as inscrições, teve mais de 30 selecionados para a oficina e desses a gente tirou os seis. As aulas foram ministradas por mim e comecei mostrando imagens do primeiro cinema no século IXI no objetivo em começar a pensar como a linguagem do cinema foi fundada, como ela foi sendo construída, esse lado histórico do cinema, quer dizer, como evoluiu ou se desenvolveu a linguagem cinematográfica e depois comecei a trabalhar coisas mais contemporâneas, entretanto sempre filmes um pouco complicados de serem analisados, afinal os selecionados iriam analisar filmes com características semelhante no Aurora. Como já sabia os filmes selecionados procurei trabalhar com filmes de mesmo nível de estranhamento, de rebuscamento, de sofisticação, para eles estarem com um olhar provocado e aguçado para lidar com objetos que às vezes eles não conseguem necessariamente num primeiro momento decodificar, decifrar. Minha intenção era trabalhar no workshop com momentos de filmes, longas ou curtas, que plantassem dúvidas nas percepções e eles ficassem meio sem saber o que eles viram, pois era esse tipo de filme que iam lidar aqui. E foi ótimo, pois souberam lidar muito bem com essas manifestações menos facilmente decodificáveis, tiveram um empenho brilhante para lidar com elas, tiveram várias interpretações nos textos que escreveram, originais, interessantes, assim como aconteceu aqui. Acho que eles têm leitura dos filmes interessantíssima e é uma pena que não virem textos para a gente circular. Aliás, esse é um segundo passo para ano que vem, ver esse júri produzir textos de cada filme, porque essa turma é realmente especial, não sei se vai se manter esse nível sempre, mas foi muito bem sucedida, sabe? Como eles se deram bem, como eles se entrosaram. Fiquei até sete horas da manhã hoje com eles para decidir o prêmio, depois a gente foi tomar café e aí eles viraram moleques depois da responsabilidade que foi decidida, pois estavam meio tensos com a importância daquilo e, uma vez feita a tarefa dos escolhidos e o texto de justificativa de cada prêmio, eles voltaram a ser quase adolescentes, e mesmo com sono se comportaram como verdadeiros moleques saindo por aí quase pulando amarelinha pela rua de tão cansados e tão felizes que estavam. Por isso posso dizer que foi uma experiência muito bacana, essa galerinha teve unida o tempo inteiro, discutiam cinema de manhã, a tarde, a noite, no café, na pousada, ninguém se conhecia e de repente criou-se um grupo muito fechado, muito afetivo entre si.

 

Leia também

26/01/08 - Ainda Orangotangos

25/01/08 - Cidades possíveis

22/01/08 - Tiradentes transborda cinema

2007

.
__________________________________________________
João Paulo Teixeira é jornalista, pós graduando em “História da Cultura e Arte”. Tendo estudado na Escola Livre de Cinema, participou de inúmeros filmes como continuísta. Acredita que a continuidade é responsável direta pelo olhar mais crítico para o fazer e analisar obras cinematográficas. Escreve mensalmente para a Coluna Retalhos Culturais. Contato: jpteixeiras@yahoo.com.br


   
 

O melhor álbum de 2008 já?
A Rolling Stone(USA) sugere alguns. Votaria em qual? (Clique para ouvir)

Cat Power
Vampired Weekend
Hot Chip
Snoop Dogg
Black Mountain
Nenhum destes
                                  VOTAR!
 

Expediente::: Quem Somos::: Parceiros :::: Contato:::Política de Privacidade:::Patrocine nossa idéia
Copyright © 2008 O Binóculo On Line All rights reserved