
14/08/07
Você
conhece Ban Ki-Moon?
Uma nova era começou
em janeiro de 2007. O fim do reinado de Kofi
Annan à frente da Organização das Nações
Unidas trouxe à baila o nome de um sul-coreano que,
mesmo tendo contra si vários narizes torcidos, acabou
sendo alçado ao cargo de líder da mais importante
organização internacional do mundo contemporâneo.
Após cerca de oito meses, a pergunta não se
cala. Afinal de contas, quem é Ban Ki-Moon?
O ganês Annan presidiu
a ONU por dois mandatos, de 1997 a 2006. Passando por fases
difíceis no pós-Guerra Fria, teve momentos
tensos, como o conflito no Kosovo (antiga Iugoslávia),
as intermináveis guerras no continente africano,
a segunda Intifada na Terra Santa, armas nucleares em países
como Coréia do Norte, Paquistão e Irã,
os ataques terroristas às Torres Gêmeas e seus
desdobramentos invasão ao Afeganistão,
guerra e ocupação do Iraque. Na última
foi morto Sérgio Vieira de Mello, diplomata brasileiro
que, além de seu amigo, era o mais cotado para assumir
o lugar de Annan. Apesar de algumas denúncias de
corrupção, Kofi Annan saiu de cena com a imagem
de defensor da legalidade e dos direitos humanos, além
de ostentar um prêmio Nobel da Paz.
Boa parte da boa impressão
deixada por Annan deve-se à veemência com a
qual ele rebateu interesses norte-americanos. Não
cedeu às pressões para permitir o ataque dos
EUA à nação de Saddam Hussein sem que
fossem apresentadas provas concretas da cooperação
entre iraquianos e terroristas. Mesmo assim, levou a missão
da ONU ao país após a queda do ditador, para
tentar normalizar a situação de completo e
irrestrito caos. Esse é o papel da organização,
por mais paradoxal que possa parecer.
Entretanto, o carismático
Annan não poderia ficar mais tempo como secretário-geral.
O momento trouxe a necessidade de escolha de um novo nome.
De origem humilde, Moon formou-se na Universidade de Seul
em Relações Internacionais, fazendo depois
Mestrado em Administração Pública na
prestigiosa Harvard. Tornou-se diplomata aos 26 anos.
Clube de elite
O sul-coreano foi levado ao
cargo por uma pressão aberta da China, que afirmou
que não aceitaria a indicação de um
nome que não fosse asiático. Contudo, Moon
foi um nome extremamente bem visto pelos norte-americanos,
que não agüentavam mais Annan e sua laia
de terceiro-mundistas: antes dele, o egípcio Boutros
Boutros-Ghali e o peruano Javier Pérez de Cuéllar
haviam ocupado o cargo, num período que inicia-se
em 1982. Que melhor maneira de entrar o novo século
do que com um secretário-geral escolhido a dedo pelas
superpotências?
É ponto pacífico
entre os analistas internacionais que, ao contrário
de Annan, Moon não irá se desgastar em embates
contra as decisões diplomáticas norte-americanas
e de outros países fortes. O que importa saber é
até onde as pressões destas nações
surtirão efeito. Se a invasão dos EUA ao Iraque
foi um ato que provocou o questionamento da legitimidade
da ONU no mundo inteiro, o que irá acontecer se as
deliberações de Washington forem adotadas
de forma acrítica pela Organização
das Nações Unidas?
Chegando a esse nível,
o futuro da instituição estará seriamente
comprometido. A eleição do insosso Ban Ki-Moon
não se mostrará apenas um exemplo de poder
de barganha das superpotências: será também
a afirmação de que a ONU deixou de lado a
pretensa preocupação com os países
em desenvolvimento e tornou-se abertamente o Clube de Elite
que, de certa forma, sempre foi. Não custa lembrar
que a Liga das Nações fracassou em manter
a paz após a Primeira Guerra Mundial em grande parte
por possuir pouca legitimidade, tornando-se uma caricatura
de organização entre Estados. Algo familiar?
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Ivan Bomfim
é jornalista, graduando em História e pós-graduando
em Relações Internacionais. Busca compreender
o mundo contemporâneo, mas sempre com um olho na História,
afinal "o presente é o reflexo do passado".
Fale com ele pelo email: ivanjornalista@yahoo.com.br
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