
04/12/07
Pelea de perros (parte
2)
Existe um país ao norte do Brasil. Um país que, por centenas de anos, foi, por nós, praticamente ignorado. Uma terra rica em petróleo, coberta parte pela frondosa selva amazônica, parte por planícies. Praias deslumbrantes, uma porta para o Caribe. Seu nome, “Venezuela”, significa “pequena Veneza”, em homenagem à cidade italiana. Ao contrário do que acontece no Brasil, existe pecado nesta terra localizada acima da Linha do Equador.
O resultado do referendo sobre as mudanças constitucionais propostas pelo governo de Hugo Chávez foi rejeitado pela população. A derrota não pode ser considerada uma surpresa: os últimos acontecimentos que envolveram Chávez, tanto internos quanto externos, mostraram certo desgaste de sua administração. Apesar de ter o poder fornecido pelos petrodólares, o presidente venezuelano, ao forçar a implantação do “Socialismo do século XXI”, acabou arregimentando uma rejeição e, destacadamente, um medo muito grande por significativa parte da população. A sociedade do país, que desde a subida de Chávez ao Palácio Miraflores se divide, está, cada vez mais, rachada. Desta vez, a oposição venceu.
Mas, o que esperar do futuro de Chávez e, principalmente, dos cidadãos venezuelanos? Difícil dizer. É provável que o presidente perca força e margem para manobras políticas. Todavia, como a base de sustentação do governo é formada por uma significativa parcela da população, imaginar a diminuição da força de Chávez, pelo menos por enquanto, é como ser adepto de uma ingenuidade mal-intencionada.
Desde que chegou à presidência, em 1999, Hugo Chávez sempre apareceu nos braços dos “descamisados”, pois estes foram atendidos pelas políticas sociais do líder bolivariano. É inegável, também, que Chávez sempre exibiu veias autoritaristas, buscando a centralização do poder nas mãos de seu partido. Essa posição dual, no entanto, não foi característica apenas sua. A oposição, em sua maior parte formada pelo empresariado e classes média-alta e alta, não se furtou a mostrar a possibilidade de levantes armados, como no caso do golpe de 2003. Passou despercebida notícia publicada no jornal O Globo, da quarta-feira da semana passada, na qual um dos principais opositores de Chávez diz que, caso o referendo mostre a vitória do Sim, “não podemos dizer que não pegaremos em armas”. Imaginem se o presidente tivesse feito tal declaração?
Nesta segunda, ao reconhecer a derrota, um visivelmente desgastado Hugo Chávez afirmou que esta não era propriamente uma derrota, mas um “por enquanto”. Podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que se a vitória do Sim se concretizasse, os tempos na Venezuela estariam muito mais sombrios, tanto pelo lado autoritário do governo Chávez quanto pela violenta reação que poderia ser deflagrada pela oposição. A vitória do Não dá um relativo alívio à tensa situação venezuelana, mas está longe de tê-la resolvido. De qualquer forma, apesar do cheiro de golpismo no ar, a nação ao norte do Brasil continua com suas lindas praias, seu clima tropical e com o petróleo jorrando. Por enquanto.
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Ivan Bomfim
é jornalista, graduando em História e pós-graduando
em Relações Internacionais. Busca compreender
o mundo contemporâneo, mas sempre com um olho na História,
afinal "o presente é o reflexo do passado".
Fale com ele pelo email: ivanjornalista@yahoo.com.br
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