OPPERAA
 
Baby Boom
     
 
 
     

Amy Winehouse (e todo o seu exagero, que vai muito além de abusar do indefectível delineador negro) despertou sim admiração em mim, trazendo à tona meu lado mais sombrio, que quase sempre é relegado por minha maioria politicamente correta.

Foto: http://www.flickr.com/photos/tom_oxley/
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25/07/08
Sobre Winehouse e o velho Rock ‘n’ Roll

A presença de Amy Winehouse na abertura da terceira edição do Rock in Rio Lisboa, chamando as atenções do mundo para si (outra vez, decerto não pela última) por sua atuação “singular”, talvez tenha sido um déjà vu de um movimento que praticamente não existe mais. Era dia 30 do maio último, sexta-feira: bêbada (copo na mão) e afônica, Amy se atrasou, esqueceu-se das letras (e improvisou), dançou (e quase caiu), bebeu (e bebeu novamente), pediu desculpas dizendo que deveria ter cancelado o show (mas continuou cantando e bebendo e tropeçando) e, por fim, com menos de uma hora de apresentação, despediu-se e foi-se embora. Em seu pescoço, um hematoma; em uma de suas mãos, uma atadura.

Ao descobrir a magnífica mistura entre jazz, blues e soul de Amy – iniciado, como quase todo mundo, pela pegajosa Rehab – e em seguida tomar conhecimento de sua desprecatada forma de “arrastar” a vida, percebi que essa inglesa de 24 anos provavelmente simboliza um último suspiro do velho e quase extinto rock and roll, idealizado no início da segunda metade do século passado; movimento que, ancorado no trinômio “rock, sexo e drogas”, fundamentou - nem sempre de forma concomitante e nesta mesma ordem - o salto (ao fundo do poço) de nomes como Elvis Presley, Janis Joplin, Eric Clapton, Steven Tyler, Renato Russo, Kurt Cobain e Cazuza, por exemplo. Alguns pularam e voltaram; outros ficaram para sempre. Como bem disse o jornalista Rodrigo James, em artigo sobre Amy publicado no jornal Estado de Minas no final do ano passado, “a vida errante é um dos clichês do rock”. Pois bem. Errante que ela só, completamente rock´n roll (já que o rock é uma equação formada por incontáveis fatores que, muito além do ritmo, perpassam questões como rebeldia, política, sexo, drogas e liberdade), Amy salta ao poço de cabeça, sem bungee jump nem pára-quedas, e a perspectiva é de que muito em breve ela esteja cantando ao lado da turma do “ficaram para sempre”.

Pela entonação de meu texto, talvez você possa ter percebido algo que beira admiração na construção de meu discurso. Como n’O Binóculo tudo é “puro juízo de valor!”, permito-me confessar que Amy Winehouse (e todo o seu exagero, que vai muito além de abusar do indefectível delineador negro) despertou sim admiração em mim, trazendo à tona meu lado mais sombrio, que quase sempre é relegado por minha maioria politicamente correta. Aos olhos desse meu eu obscuro, a forma intensa e descomedida como Amy toca sua vida remete-me àquele velho jargão de que a vida é uma só para não ser vivida em sua plenitude. Vá lá, o que é plenitude para Amy em nada coincide com o significado atribuído a essa palavra pela maioria das pessoas – maioria na qual me incluo. Mas se para ela o sentido da vida reside nessa doidice toda, como julgar? O velho rock (que o lado negro de minha força tanto admira) sobrevive nessa inglesa maluca. Muito provavelmente uma sobrevida curta, é verdade, haja vista os abusos da moça, que deixam claro que sua vida deve durar bem pouco.

Pois bem. Escrevo este primeiro texto, feliz pelo espaço cedido a mim por Alan Terra e Rodrigo Saturnino, para dizer, finalmente, que: abandonada pelo empresário, tatuando-se com gilete, cancelando shows, ora presa, ora batendo em fãs, ora proibida de entrar nos EUA, afundando-se nas drogas (“Rehab? No!”) e com enfisema pulmonar, a minha querida Amy ganhou um lugar ainda mais destacado em minha discoteca particular: a prateleira especial para onde vão somente aqueles seletos artistas que sentem o rock (e a vida) pulsar intensamente em suas veias. Ou seja: aqueles sujeitos malucos que tocam a vida não preocupados em compor um “filme” bonito (como se dela fossem tirar um enlatado de Hollywood), mas sim interessados (já que a vida é uma só) em experimentar a existência humana em todas suas possibilidades, principalmente nas que mais lhes convém e agrada — doa (leia-se mortifique) a quem doer, a começar por si mesmo. Sem medo de soar funesto, cito Nelson Rodrigues, conclusivo: é a vida como ela é. Se for para ser assim, que seja. E um viva a esta sobrevida do rock´n roll!

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Ewerton Martis é Jornalista e escritor (pretenso),, autor de vários contos interminados, romances sem personagens, poesias e crônicas renegadas, petardos ainda à espera do tempo que é escasso e da preciosa mas furtiva inspiração para serem enfim terminados — e, quiçá, publicados. Nesse meio-tempo, escreve um blog: www.pretensoliterato.blogspot.com Fale com ele: ewerton.martins@ymail.com


   
 

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