
10/09/08
Máquina de Pinball:
Game over
Clarah Averbuck. Assunto
batido e rebatido, mas, de certa forma, necessário
— principalmente agora que jornais fluminenses, paulistas,
mineiros e até mesmo Bravo! e Carta Capital conferiram
a essa autora ares de coisa importante. Ademais, quero verter-me
de vez para os assuntos da literatura por aqui, já
que estreei no mês passado aventurando-me entre notas
musicais, área em que meu conhecimento é ainda
mais circunscrito.
(Aqui não tem
lead: se você quer a notícia antes da "conversa",
fique à vontade para saltar para o quinto parágrafo).
Mas, retomando a prosa,
eu falava sobre Clarah ser assunto necessário. Explico
aos possivelmente desavisados: é que foi lançado
há algumas semanas o filme "Nome Próprio",
película indie de Murilo Salles protagonizada por
uma "maturada" Leandra Leal — "maturada",
não escapo de dizer, no denotativo, no figurado e
com uma baita exclamação.
O filme conta a história
de uma jovem escritora na iminência de escrever seu
primeiro livro, mas que encontra dificuldades para dar vazão
à sua obra em função de sua vida ser
um caos. O caso é que o filme é baseado livremente
em dois livros da moça Averbuck, "Máquina
de Pinball" e "Vida de Gato", e em textos
de seu blog "www.adioslounge.blogspot.com".
Meu propósito aqui é comentar o livro "Máquina
de Pinball", que li há pouco.
De início, tenho
que confessar que, apesar de ter tomado "Máquina
de Pinball" emprestado de uma querida amiga com o compromisso
de devolvê-lo de um dia para o outro (não porque
eu o leria de uma só vez, madrugada afora, mas porque
eu já pressupunha convicto que não passaria
da sexta página), tive uma grata surpresa ao só
lembrar de meu pressuposto após ter vencido, distraído
e sem lá grandes sofrimentos, mais de metade da novela.
Irresoluto, decidi terminar a leitura para ter mais uma
obra no hall dos "livros lidos inteiros" —
e para escrever esta crítica com mais propriedade.
Terminada a empreitada,
saí de "Máquina de Pinball" com
um amargo na boca, apesar da facilidade para deglutir. Ao
ler o "Apaguei todas as luzes, deitei e fui dormir"
com o qual a autora encerra a novela, senti de imediato
a sensação de que a história já
havia se encerrado antes mesmo do momento em que venci a
primeira página, e que eu havia insistido até
a derradeira em função de uma inglória
esperança de encontrar, em meio a uma narrativa inerte
e a personagens redundantes, uma história. Acabei
encontrando apenas catarse adolescente (a mesma catarse
adolescente em primeira pessoa que até então
veio abastecendo os blogs da blogosfera 1.0, mas que aos
poucos — felizmente — vem sendo subjugada por
uma literatura, por assim dizer, "antiumbiguismo")
travestida de literomania.
O texto de "Máquina
de Pinball" é punk, arredio e fugaz, uma mistura
entre chick lit e beatnik. De início pungente e de
certa forma interessante, não tarda para que a partir
dele se perceba a limitação do enredo. A narrativa
se encerra antes mesmo de seu início, pois Rio, São
Paulo ou Londres são a mesma cidade, apenas em continentes
diferentes; Camila Chirivino, em qualquer página
da novela, é a mesma garota de 22 anos que, entre
sexo e drogas e reflexões (sic) e drogas e sexo,
tem sua história de mulher limitada a esse tripé
coxo; seus amores/namorados/transas, da mesma forma, são
todos os mesmos, apesar da autora ter sabiamente providenciado-lhes
nomes diferentes.
A sensação
que se tem é a de que, fosse o livro aberto aleatoriamente,
a leitura de quaisquer cinco parágrafos seria mais
que suficiente para o leitor abarcar completamente a personagem
principal, sua realidade e sua personalidade — o que,
obviamente, alforria o legente da tarefa de, assim como
eu, insistir até a setuagésima quinta lauda
à procura de um "algo a mais". Pois fora
o texto ter me deixado excitado algumas vezes (lembranças
de Leandra Leal em "Nome Próprio"?), não
encontrei nada no decorrer do livro que já não
houvesse encontrado nas primeiras letras da novela.
Mas que se registre:
é possível e até mesmo provável
que eu esteja tão mal-humorado ao resenhar o livro
de Clarah pelo fato de ela (e não eu! E não
eu!) estar fazendo todo esse sucesso enquanto blogueira
e escritora. Fora a velha e já diagnosticada pretensão,
tenho também me descoberto um puta de um invejoso.
E se a moça está fazendo esse sucesso todo,
é bem provável que minha ranzinzice tenha
sido mais forte do que a razão na composição
deste texto. Então, caso queira tirar suas próprias
construções, "Máquina de Pinball"
está (agora, pós-entrada na agenda da mídia)
nas melhores livrarias. E, como já disse, apesar
da crítica, ele desce fácil. O problema é
que, no meu caso, não encheu estômago. Talvez
o buraco do dente.
Quem é Clarah
Averbuck: Escritora gaúcha, mantenedora do blog adioslounge
(www. http://adioslounge.blogspot.com/)
e autora dos livros "Máquina de Pinball",
"Das Coisas Esquecidas Atrás da Estante"
e "Vida de Gato".
De positivo: parece
mesmo que foi, conforme a crítica (eles devem ter
como averiguar isso, não?), a primeira blogueira
(talvez uma das primeiras, vá lá) a migrar
com sucesso, em função de sua produção
on-line, dos blogs para o velho e bom e tradicional livro
impresso.
De negativo: ao
que parece, o principal "positivo" passível
de ser apontado, até então, é o já
explicitado acima.
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25/07/08
- Sobre Winehouse e o velho Rock ‘n’
Roll
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Ewerton
Martis é Jornalista e escritor (pretenso),,
autor de vários contos interminados, romances sem
personagens, poesias e crônicas renegadas, petardos
ainda à espera do tempo que é escasso e da
preciosa mas furtiva inspiração para serem
enfim terminados — e, quiçá, publicados.
Nesse meio-tempo, escreve um blog: www.pretensoliterato.blogspot.com
Fale com ele: ewerton.martins@ymail.com
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