
31/07/08
Ainda é tempo
A ânsia obscena
de tua imagem, tal qual o lírio que brota na imensidão
afora. Arrastam-se os meus pés com sede de chão
e o vento sem ironia chora pelas risadas que dou. Meu gesto
traz o gosto tênue de uma nudez e o sexo que grita
em minhas entranhas não é luz, cavalga na
escuridão azul do orgasmo que busco entre tuas pernas.
Lá fora a estrela
canta, é madrugada. O sereno da vida cai e se se
transforma em um outro ser, que nasce do meu, que germina
de tua cor cintilante, fogoso ventre carregado de ternura.
A dor que aniquila os pássaros é a ausência
do som. Bailam soturnos vigilantes espalhados no último
tom que banha as águas da loucura. O grito da agonia
se chama futuro e permanece onde a alegria se perdeu.
Sempre vi em teus olhos
a dimensão perdida do meio termo. Um carinho é
tudo que peço, no desejo infinito que brota do universo
e se espalha por aí, talvez pedindo um sorriso. Abro
as entranhas e a idéia se assanha, amassando a forma
da velha moral bendita. Malditos são todos aqueles
que roubam o caminho do nosso povo. Perdido em teu verso
imagino os passos que a História dará para
preencher o espaço em branco. E me refaço
criando a certeza de uma outra sorte para Tereza.
A hora se apressa e
inquieta refaz o mel. As palavras emitem ruídos e
sussurros. A ante-sala da tragédia é feita
de vestes que apanho em cada palmo de terra. A poeira do
passado revela as relíquias que hoje guardo em minha
memória, com medo de perder para sempre o significado
do que foi teu amor. Como o pão que me será
alimento se refaz a tua esperança. Já não
é cor de rosa o Deus que te ensinou a escrever nos
cadernos a forma do Diabo. E se transformam metáforas
mal ditas, que anseiam ouvir aquela metamorfose do Raul,
enquanto o sereno pronuncia a próxima sílaba.
O sol acendendo
o horizonte brinca com as gotas que sobraram na cama mal
arrumada. As crianças embalam as tardes nas nuvens
cinzas de julho. Ainda há em algum canto um resto
de poesia e apesar do frio que reveste os teus lábios,
o encanto seduz a borboleta no instante em que em silêncio
a vida me repete, que ainda é tempo.
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Hamilton Reis
edita o jornal Fato em Contagem, gosta de política,
cinema, fotografia. É formado em jornalismo pelo
Uni-BH. Fale com ele: hrjornal@uol.com
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