
10/01/08
Aos 17 e 33 anos
- Mas você é
jornalista mesmo?
* Sim, sou!
* Estranho, você conversa tão pouco!
* Converso o necessário.
* Mas, então,como você pode ser jornalista?
Conta-se que a conversa foi
ouvida dentro de um ônibus. O rapaz que inicia o diálogo
tinha 17 anos. O jornalista 33; era conhecido naquela pequena
cidade.
* E quem lhe disse que pra
ser jornalista tem que conversar muito?
* Não!?
* Penso que seja mais função do jornalista
ouvir muito.
* Por quê?
* Porque assim pode compreender melhor as pessoas e os fatos.
* E daí?
* E daí pode elaborar melhor suas idéias e
expressá-las.
* Pra quê?
* Para assim, errar menos.
Nesse ponto, o rapaz começou
a se zangar.
* Você está dizendo
que jornalista erra?
* Sim, todos erramos.
* Você tá doido cara?
* Acredito que ainda não!
* Jornalista fala a verdade...
* Ele interpreta os fatos.
* Como assim?
* Ele narra o que aconteceu, conforme a bagagem que adquire
com suas experiências.
* Quer dizer que ele não é imparcial?
* Pra ser sincero, penso que essa tal de imparcialidade
nunca existiu.
* Tem certeza?
* Não, nunca quis ter.
* Annhh?
* As verdades são coisas estranhas...Será
que são mesmo verdades?
Muitos alegam que era possível
ver a frustração nos olhos do rapaz.
* Cara, você já
procurou um psiquiatra?
* Por quê? Deveria?
* Com urgência.
* Gosto de ter minhas dúvidas e questionamentos!
* Primeiro você diz que pra ser jornalista não
precisa falar muito; depois que não existe imparcialidade;
qual a próxima bobeira que falará?
* A vida é uma eterna escola.
* E daí?
* Bom, se concorda com isso, deveria estar mais aberto para
aprender coisas novas.
* Mas eu aprendo coisas novas todos dias.
* E o que você aprendeu hoje?
* Que você é muito estranho!
Nessa altura, o rapaz já
nem olhava para o jornalista.
* Pois é, temos a tendência
de não acreditar naquilo que nos incomoda.
* Saiba de uma coisa, meu pai é jornalista. Ele é
imparcial e fala pra caramba.
* Que bom!
* Não zombe cara, se você não é
um bom jornalista, não tente enquadrar os outros
no mesmo patamar.
* É, penso que seja melhor assim.
* Assim como?
* Acreditar que a diversidade é ótima.
* Não dá pra continuar a conversa; você
não entende nada!
* É, também acho. Vivo num eterno desentendimento!
* Saiba que vou prestar vestibular para jornalismo.
* Tomara que passe!
* Vou passar e mudar o mundo...
* Torço por você.
* Não preciso de sua torcida.
* Foi boa a conversa...
* Só se for pra você!
* Pra você também será, daqui a 4 anos.
O rapaz desceu do ônibus
e nem olhou pra trás.
O jornalista sorriu...
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Gledson
José Machado é jornalista, amante
da literatura, da poesia e das escritas. É assessor
de comunicação da Açoforja. Escreve
todas as quintas-feiras. E-mail: gledsoncd@gmail.com
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