
08/11/07
Temperos
Por favor!
Hoje preciso de palavras doces.
Daquelas recheadas de açúcar, cobertas de
paixão e com doses certas de lucidez. Preciso distribuir
algumas, deixar outras sobre a mesa. Quero colocar um monte
dentro da bolsa e levar para casa dos meus pais, da minha
irmã. Se uma ou outra cair pelo caminho, não
tem problema. Quem achar poderá pendurar na geladeira,
colocar no forno para dar uma coradinha, jogar dentro do
pote de açúcar para ficar irresistível
ou com sabor do beijo de namorados apaixonados.
Também preciso de palavras
de sal. Dessas que dão o tempero especial, que deixam
na boca o gosto de quero mais. Algumas jogarei no mar para
que levem aos peixes uma boa piada. Outras fritarei com
ovo e farei um delicioso omelete. Desses bem grandes que
a gente sabe que não da conta de comer tudo de uma
vez, mas mesmo assim insiste... Pois é, farei um
omeletão. Não serei egoísta, dividirei
com alguns amigos.
Uns três quilos de palavras
apimentadas seriam ótimos para temperar o livro da
vida. De vez em quando, ele parece um tanto insosso. Tem
muita gente que gosta de pimenta permeando seus pensamentos,
seus livros de idéias e suas escritas de amor. Conheço
alguns que não dispensam a pimenta para temperar
suas crônicas, seus poemas, suas loucuras. Também
sou assim. Preciso achar a dose certa da pimenta para que
você, leitor, consiga saborear o prato que eu preparar.
Para que possa relembrar do cheiro da minha escrita.
Então, separe também
uma porção daquelas palavras perfumadas. Vou
levar para cama esta noite. Pretendo enlaçar minha
amada; deixá-la perfumada e me perfumar. O prazer
é mesmo assim, os dois precisam estar perfumados.
Pese, por favor, 500 gramas
daquelas amargas. Vou deixá-las no armário
para quando eu precisar. Sei que logo logo precisarei. Então,
vou levar de uma vez. Pode ser que amanhã não
tenha mais, pois pelo visto essa aí tem boa saída.
- Cristina, quanto é?
- É barato... coloque
tudo isso na panela e faça pratos deliciosos.
- Tudo bem, mas nem sempre
haverá fogo para cozinhar...
- Não se preocupe, há
pratos que precisam ser servidos frios.
- Obrigado! Mande lembranças
ao Rodrigo... lá pras bandas de lá.
- Pode deixar. E vê se
não some...
Peguei tudo, botei na
sacola e fui viajar.
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Gledson
José Machado é jornalista, amante
da literatura, da poesia e das escritas. É assessor
de comunicação da Açoforja. Escreve
todas as quintas-feiras. E-mail: gledsoncd@gmail.com
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