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"São 25 anos sem fazer sucesso e de não saber tocar e, além disso, a verdade é que nós somos muito feios!” – Mao, vocalista dos Garotos Podres

 



15/06/07

ENTREVISTA/ GAROTOS PODRES
Mais Podres do que nunca!



Há 24 anos, quando ainda se falava em ditadura militar, os Garotos Podres faziam sua primeira apresentação num show em prol da greve dos metalúrgicos no ABC, região da grande São Paulo. Mas, “todo esse tempo não significa absolutamente nada, pois o sucesso nunca veio”, ironiza Mao.

O grupo faz parte da trilha sonora dos subúrbios paulistanos da década de 80. Nesta época o som que ecoava das ruas era o punk rock. Bandas como Inocentes, Olho Seco e Cólera marcaram este cenário. Na mesma década, foram produzidas manifestações artísticas retratando o movimento punk paulista, como por exemplo, um documentário de Fernando Meirelles, “Garotos do Subúrbio”, datado de 82, além do curta “Rota ABC” - que incluiu uma música (“Subúrbio Operário”) dos Garotos Podres - do cineasta Francisco César Filho, premiado no Festival de Cinema de Brasília.

Ao todo os Garotos fizeram 8 discos, segundo o site oficial da banda. O último é de 2004, “Garotozil de Podrezepam – 100mg”, que imita a caixa de um fármaco tarja preta. Com letras raivosas, irônicas e politizadas, a banda se reúne apenas algumas vezes por ano para tocar, pois não vivem unicamente de música.

Crédito – Gabriel Ruiz
“O grande problema da geração mais nova é se espelhar na nossa geração” - Mao

Aos 17 anos tive a primeira experiência com bandas. Sabia tocar pouquíssimas coisas. Olhei o repertório e, entre outras, havia umas tais “Anarquia oi, oi”, “Expulsos do Bar” e “Papai Noel Filha da Puta”. Gostei das músicas, embora não soubesse quem eram os Garotos Podres. Hoje as toco por aí, quando encontro algum punk como o Nasi...

No começo do mês de junho (2007) fui ao Porão do Rock, festival de música independente de Brasília. E a banda que abriu o evento foi, nada menos que a lendária punk rock paulistana: Garotos Podres, do barrigudo Mao. O show foi bom pra caralho. Na seqüência, fui para a coletiva com eles. No caminho refletia que atualmente são reduzidas os grupos que fazem letras com algum teor político, como os Garotos ou Inocentes ou...

O que é ser uma banda punk num país como o Brasil hoje?

Mao: olha, no fundo a gente não está muito preocupado se a gente é punk, se o que tocamos é música clássica, ópera; no fundo a gente faz o que a gente gosta. E eu acho que todo músico, todo ser humano deve estar preocupado em fazer o que gosta. E a arte é uma forma de expressão humana muito profundo e acho que as pessoa devem estar descoladas dessa coisa que é o modismo. Por exemplo, quando nós começamos a nossa banda, punk rock era uma coisa do gueto; quando começamos queríamos tocar em festivais de colégio!

De repente só o fato de montarmos a banda e estarmos ensaiando no fim de semana, já era uma coisa prazerosa pra gente né. Então acho que o principal em uma manifestação artística é realmente você ter prazer naquilo que você faz. E, gostem ou não, nós não estamos nenhum pouco interessados na opinião dos outros, nós gostamos do que fazemos e ponto.

Vocês trouxeram aqui um tipo de rock que expressa muito bem a realidade do Brasil hoje, apesar de serem músicas antigas, mas no ligar certo: Brasília. Você não acha que para as bandas novas falta essa consciência que vocês esbanjaram aqui?

Mao: Bem, eu acho que têm muitas bandas novas e, serei sincero, muitas delas eu não conheço e gostaria de conhecer melhor. O problema é que você entra naquela vida de peão cara, de trabalhar de segunda à sexta, de manhã, tarde e noite e você perde um pouco a noção da realidade. Mas eu vou fazer uma crítica: o grande problema da geração mais nova é se espelhar na nossa geração. O pessoal se espelha muita nas bandas dos anos 80 e acho que eles deviam nos superar. Alguém fala, “olha só, os caras imitam vocês!” Que bosta!. Os caras deviam estar fazendo uma coisa diferente, uma coisa melhor e esquecer a gente.

Em termos de manifestação artística, um pessoal que não gosto musicalmente, mas em termos de letra nos supera, é o pessoal do rap, de São Paulo, principalmente dos Racionais. E se de alguma forma, nós somos filhos da aristocracia operária, o pessoal realmente é um pessoal da favela etc. Então o que eu mais quero é que as bandas novas sejam melhores do que nós e não fiquem se espelhando.

Sukata: só para complementar o Mao, a realidade deles na favela hoje é uma realidade mais amarga no convívio diário pela própria relação de vida deles no dia a dia e na nossa época já era uma questão mais política; a nossa luta era mais política. Então o punk acaba levando a questão para um lado mais politizado. E esse pessoal [do rap], ele acaba pegando o seu cotidiano e falando da sua relação no contexto social. E por outro lado, essa nova geração de bandas, infelizmente, eles estão mais preocupados em se mostrar fotograficamente de uma forma romântica do que realmente participando de uma questão política-social.

Divulgação


Só nos encontramos quando o pessoal chama para tocar, umas cinco ou seis vezes por ano” - Sukata

 

Nesse sentido, o punk ainda ocupa o seu lugar na periferia do ABC ou já perdeu o lugar pro rap?

Mao: Olha, eu sou um grande admirador do rap, claro como eu disse, não musicalmente, mas as letras é uma coisa que impressiona. Eu acho que de alguma forma, ele abrange um outro setor social. Eu quando era pequeno sempre via bandas de rock no meu bairro. Eu morava num bairro de aristocracia operária, quer dizer, eram operários, mas tinham carteira de trabalho assinada. Já o pessoal do rap é um pessoal que vive uma outra realidade que está longe dos elementos básicos da cidadania, que pode ser apenas uma carteira assinada e isso é uma coisa da CLT [consolidação das leis do trabalho] dos anos 40. Então, acho que o rap atua num outro setor da sociedade mais popular do que em relação à nossa origem.

Os Garotos já haviam encerrado a coletiva e estavam tirando fotos com camisetas do evento. Então, a colega Viviane que edita o zine VALROCK na web pediu que eu fizesse a gentileza de gravar rapidamente perguntas que ela faria ao Sukata...

Você tem alguma lembrança da cena punk de Brasília?

Sukata: Viemos pouco pra cá, mas tínhamos contato com o pessoal da década de 80, com a Denise Vargas, com o pessoal do Plebe Rude, mas de uma forma geral, as recordações são boas.

Mas tem algumas bandas que já têm um tempinho, quatro, cinco anos...

Sukata: não temos contato, porque a gente trabalha e estuda igual uns loucos, então o pouco tempo que a gente tem, só pra você ter uma base, há quatro anos não ensaiamos; então só nos encontramos quando o pessoal chama para tocar, umas cinco ou seis vezes por ano.

A grande sacada, se a idéia é boa, é no mínimo fazer um trabalho de bactéria, procurar se alastrar, que é o que a gente vem fazendo durante os último anos.


Antes ainda da banda deixar a sala de paredes brancas de alvenaria, o Michel Stamatopoulos, mais conhecido como Sukata mostrou pro pessoal um livro de sua autoria, “Você quer ser Johnny?” que fala sobre o processo de crescimento dos jovens inseridos no movimento punk. Provavelmente, algo que ele viveu na pele. Depois, troquei uma idéia com o Mao acerca do movimento estudantil atual já que ele é professor de história, com doutorado pela USP.




E isso aí Mao, que tá rolando na USP, qual a sua visão?

Mao: Os estudantes estão corretíssimos. A postura deles não se via há anos e anos. Pensava-se até que o movimento estudantil tinha morrido. Aliás, isso é o que eles querem né. Acho que o caminho é esse mesmo, pois a única coisa que restou hoje de qualidade, em todos os setores públicos, são as universidades.

E a mídia?

Mao: pô, acho que eu nem preciso responder né, você saca. Só falta a mídia pedir para os caras baterem em todo mundo.

Formação:
Mao: Vocal e gaita
Sukata: Baixo
Mauro: guitarra
Caverna: bateria


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Gabriel Pansardi Ruiz é jornalista ainda não graduado, reside em Bauru-SP e gosta de rock ´n roll. É editor do jornalístico cultural "Revista Ponto e Vírgula", veiculado pela web rádio Unesp Virtual, onde também produz reportagens para os programas "Raiz Social" e "Ecoando". Mais escritos no seu blog. Escreve todas as segundas. E-mail: gabrielpruiz@yahoo.com.br


   
 

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