
22/10/07
Outro grandioso disco de 07, e
você nem sabia
Sexto disco do Spoon mostra
de vez a cara do som da banda, ao mesmo tempo em que carimba
o grupo como uma das grandes "escondidas" da década
De Bauru - São Paulo
O quarteto texano não
é muito conhecido no Brasil. Talvez porque o Spoon
passe longe das FMs, hypes e modinhas. Por cá, a
banda ganhou certa visibilidade ao estrelar canções
no filme Stranger than fiction (de tradução
literal). Entretanto, quem passa a conhecê-la aprecia.
E muito. Principalmente após ouvir os seus dois últimos
trabalhos: Ga ga ga ga ga (07) e o imbatível Gimme
Fiction (05).
Formada em 1994, na cidade
de Austin - Texas, dos forasteiros cowboys de westerns,
Britt Daniel (vocais e guitarras), Jim Eno (baquetas), Rob
Pope (baixo) e o multi Erci Harvey (piano, percussão,
backings e guitarra) tiveram que esperar os anos 00 chegar
para se consolidarem e, sobretudo, conseguir a sua marca
sonora.
Depois de dispensados pela
Elektra Records, a banda parece ter se trancado no estúdio
para um ano e meio depois lançar Girls can Tell,
em 2001, o terceiro deles, que contém a ótima
"Believing is Art". Foi o primeiro passo de três
jovens talentosos que sabiam fazer boas músicas e
o principal: a personalidade. À época do lançamento,
a Rolling Stone americana soltou: "three good-to-great
albums between '01 and '05". Bem, onde é que
eu estava, ou melhor, o que estava ouvindo que ainda não
conhecia a banda?
Já no ano seguinte,
em 02, produzem Kill the Moonlight. O disco mostra novamente
boas canções, mantém melodias pops
(o que de melhor conseguem fazer, sem soar comercial) e
ainda naquele espírito indie de ser alternativo,
do "faça você mesmo", mesmo que não
tenha o luxo de uma grande gravadora ou um selo que o produza.
Talvez por isso diz-se por aí que Spoon é
indie-rock, mas a sonoridade corre léguas do rótulo.
Aliás, para os ouvidos
distraídos é rock, algo como power pop, pois
mistura rock, folk, com guitarras cruas, pianos desconexos
e até psicodelia, criando climas sonoros incríveis.
Importante ressaltar alguma influência de Pixies ou
Wire (nos ruídos e barulhos das guitarras, por exemplo).
E o pop, dito anteriormente, é no sentido de batidas
simples, "fáceis" de tocar, mas com o grande
diferencial: "coisas" e inserções
sonoras que enchem as músicas de energia. Algo parecido
com o que faz o John Ulhoa no Pato Fu. Espantou-se? Só
ouvindo.
Uma sugestão é
iniciar com dois principais anteriores à Ga ga ga
ga ga (Gimme Fiction - 2005 e Girls Can Tell - 2001). Os
discos parecem pedaços perdidos de uma obra de arte
sonora, cujo artista, não se sabe o porquê,
passa despercebido. Ouvindo a seqüência que caminha
para o fim de Gimme Fiction, as faixas 8 e 9 (respectivamente
"Infinitive Pet" e "Was it You") compreende-se
não só o talento criativo (e delicioso de
ouvir), mas principalmente o absurdo sonoro que é
a troca dessas faixas, de uma para a outra, com direto a
chuvas e trovões.
O lançamento
Ga ga ga ga ga. Foi por este que tudo começou. A
classe, a começar pela capa, lembra uma mistura de
vermelho em Preto & Branco que só o diretor Lars
Von Trier sabe fazer.
O sexto da banda, lançado
em julho passado é tipo uma síntese zipada,
que quando você abre e põe pra tocar, fica
ainda maior. Há nele (bem distribuídos) lisergias
(descarada na faixa 2, "The ghosts of you Lingers"),
metal, muitas jams, percussão dosada, canções
grudentas (como "Don´t You Evah") e claro,
os já citados "barulhos" dispostos. Além
disso, há imersões sonoras de baquetas, vozes
conversando - passando a impressão de que os caras
estão aqui do lado tocando.
Ouvindo o disco, o talentoso
vocal de Britt Daniel se faz notar em "My Little Japanese
Cigarette Case", onde também se observa facilmente
seu carteado musical no solo de guitarra no meio da canção.
E não pára por aí: some a isso ótimos
elementos percussivos (e vozes aleatórias) que se
encaixam na música "como uma luva". É
o mesmíssimo caso da outra candidata a melhor do
álbum, "Finner Feelings" - um arrebatamento
de sons e sensações.
Bom, mas voltemos ao início. "Don´t Make
me a Target", a canção primeira já
de cara é um hit legal que termina numa jam session,
como se desse um aperitivo do que está por vir.
E se o Spoon já fazia
passagens criativas de faixa-para-faixa no disco de 2005,
neste quase extrapola. Ouça a empolgada troca "You
got Yr. Cherry Bomb" para a quarta faixa "Don´t
you Evah" - uma das 4 fortes candidatas a melhor trilha
do disco.
Em Ga ga ga ga ga, o quarteto
consegue trabalhar a percussão da maneira "incrementada"
aos anteriores. Como exemplo a sétima faixa, "The
Underdog" (a outra concorrente), que ainda por cima
tem metais e um vídeo-clipe muito legal: é
tudo que queríamos saber acerca do som que a banda
agrupa, de onde e o que é cada um dos infinitos objetos
sonoros.
Outra que esbanja é a calma "Rhthm & Soul".
Com uma bateria incomum, descompassada, além do solinho
afinadíssimo das mesclas entre piano e guitarra.
A derradeira Black like me,
é o ponto fraco do álbum - que se findasse
na anterior (Finner Fellings) - nem faria diferença.
Ei, e qual é a quarta candidata a melhor faixa do
álbum? Bem, há dúvidas, peço
a sua ajuda.
Com tantos grupos aparecendo e sumindo a toda momento, a
mensagem subliminar que talvez Ga ga ga ga ga queira transmitir
é: "viva a liberdade criativa sonora",
sem preocupações se serão notados ou
não. Quem bom, veio aí outro grandioso disco
de 07.
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Gabriel
Pansardi Ruiz é jornalista ainda não
graduado, reside em Bauru-SP e gosta de rock ´n roll.
É editor do jornalístico cultural "Revista
Ponto e Vírgula", veiculado pela
web rádio Unesp Virtual, onde também produz
reportagens para os programas "Raiz Social" e
"Ecoando". Mais escritos no seu
blog. Escreve todas as segundas. E-mail: gabrielpruiz@yahoo.com.br
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