
22/07/07
Descubra por que você deveria ouvir o novo disco do Autoramas
Se você ainda não conhece o Autoramas, essa é a hora. A banda acaba de lançar doze faixas no novíssimo Teletransporte. A boa composição do trabalho anterior, Nada pode parar os Autoramas (2003), com músicas “surfs”, baladas, tapas na orelha e outras de riffs e letras grudentas, manteve a classe.
A sonoridade do álbum parece ser coisa dos anos 2000 (seja lá o que signifique isso), com a sugestão, inclusive, de uma “nova engrenagem” numa das faixas (“Faz acontecer”). A banda - que acaba de completar dez anos de vida e tem a manha de fazer mais de 100 shows por ano (só não toca mais que o Calypso!) - dá as caras novamente com um disco vibrante e carregado de boas canções de palco. E marca a estréia de Selma Vieira, na co-produção de um álbum. No anterior, Simone “Dash” ainda empunhava as quatro cordas.
Quem freqüentou as apresentações do trio formado por Bacalhau (bateria, programação), Selma Vieira (baixo e voz) e Gabriel Thomaz (guitarra e voz) no ano passado, já conhece a trilha de abertura de Teletransporte: “Mundo Moderno”. Ela segue uma “pegada” surf / new wave que a banda curte fazer. Com um riff poderoso, curta, direta e, como vários outras do disco, extremamente dançante. É daquelas que coloca a galera para “polgar” logo quando as primeiras notas são tocadas. O álbum inicia-se também como no trampo de 2003 (“Você sabe”), com muito gás.
Na seqüência “Faz acontecer” coloca os famosos (pra quem já conhece o trio) efeitos que parecem “tiros de uma arma espacial”, mais ou menos como a faixa “Nada a ver” do Nada pode parar os Autoramas.
“A 300 KM/H” é uma balada trabalhada, repetitiva, calma e romântica, dessas que o Gabriel costuma fazer (Estou a 300 km por hora, sem freio / na sua direção). “Marketeiro” retoma o clima surf e dançante do álbum. Coloca na letra a ironia (?) de que somente o profissional que dá nome à faixa, é o salvador da pátria (Marketeiro / marketeiro/ só você pode me salvar!). “Hotel de Cervantes”, que já tem vídeo-clipe e tudo, se não tivesse letra, poderia ser uma trilha dos Dead Rocks – a melhor banda de surf music do Brasil, atualmente.
“Já cansei de te ouvir falar” é uma baita pedrada no ouvido, dessas boas para tocar ao vivo. Os vocais mesclados de Gabriel em contraste com a voz de Selma se encaixam perfeitamente à toada dançante da faixa, para perna nenhuma ficar parada. A letra revela mais ou menos como os Autoramas conseguem misturar tantas influências (Jovem guarda, rockabilly, punk, surf music, entre outras tantas) e ainda assim ter um som original (Eu quero ser o que nunca existiu / ter ambição pelo que nunca ninguém viu / imitar alguém que eu nunca conheci). Sem dúvidas, uma das melhores do disco.
“Identificação” é também balada de letra melódica e clima anos 50, talvez. Lembrou-me Blitz que tocou na FM. Tem um solinho com um desses pedais que o Gabriel achou sabe-se lá onde. Mas, é fraca, passa despercebida.
“Surtei”, apesar do refrão ruim (Surtei/ E daí?/ Agora foda-se!), possui vários e bons timbres de guitarra, alternados conforme a música vai se esticando.
“Eu mereço” é outra faixa que certamente pega fogo ao vivo. Tem cara de FM, justamente porque é grudenta.
Em “Muito mais” podemos perceber bem o peso do baixo de Selma e o dedilhar veloz de Gabriel (escute o solo dela e saberá por que).
Já “Digoró” é o herói (ou anti-herói) da música, que parece ser fruto do flanar de Gabriel pelas vias urbanas, com um toque “viajado” das películas de nave espacial: um tipo de crônica ficcionista, baseada em garotos que jogam flippers. Cheia de frases soltas e efeitos sonoros (entre outros tantos, também na voz de Selma), é o ponto alto de criatividade do álbum.
“Panair do Brasil” é instrumental e a antepenúltima faixa, com cara de praia havaiana. O título remete à uma das pioneiras companhias aéreas do Brasil. Mas, nesse caso, melhor nem falar de aviões atualmente.
“O inesperado” já de cara mostra uma combinação de pedais com sons e ecos legais, além de uh uh uhs que caíram bem atrás do voz do Gabriel.
A derradeira “Guitarrada” é a própria essência de seu nome. Depois de ligado o motor, a música é praticamente instrumental, de uma “guitarrada” intensa, faz tipo uma apresentação do trio e deixa um clima de partida no final: “felicidade e prazer!”.
Pronto, as doze músicas foram e você nem viu. O quarto de estúdio dos Autoramas surge depois de quatro anos sem um disco de inéditas, ao mesmo tempo em que chega para consolidá-los como uma das bandas brasileiras atuais “que realmente importam”. Assim, eles devem continuar com um pé no mainstream – pelo alto respeito nos festivais nacionais e um grande e fiel público no exterior (já vendeu 40 mil cópias lá fora) - e outro pé no cenário independente, de onde o grupo nunca saiu.
Leia também
15/07/07 - O roqueiro é um chato. Mas ele não sabe.
01/07/07 - Éramos fome e xixi no banheiro
25/06/07 - Anota outra boa banda nacional: Superguidis!
17/06/07 - Você não curte nada?
15/06/07 - Entrevista: Garotos Podres
10/06/07 - Uma porta aberta e um corpo no chão
27/05/07 - Vai um vinil aí, companheiro?
20/05/07 - Espirrando cores, se lambuzando delas!
06/05/07 - Assim como ler Aldous Huxler
29/04/07 - O bar das putas II
22/04/07 - A vida pós-admirável mundo novo
15/04/07 - A farsa de Don Juan
08/04/07 - O causo da pane no coletivo
01/04/07 - Pá de servente de pedreiro nas mãos
25/03/07 - À espera do novo
09/03/07 - Cerveja na veia
26/02/07 - Morte parcelada
12/02/07 - Rodo cotidiano
___________________________________
Gabriel
Pansardi Ruiz é jornalista ainda não
graduado, reside em Bauru-SP e gosta de rock ´n roll.
É editor do jornalístico cultural "Revista
Ponto e Vírgula", veiculado pela
web rádio Unesp Virtual, onde também produz
reportagens para os programas "Raiz Social" e
"Ecoando". Mais escritos no seu
blog. Escreve todas as segundas. E-mail: gabrielpruiz@yahoo.com.br
|