OPPERAA
 
Baby Boom
     
 
 
     

Instantes de silêncio. Romperam. Você não curte nada? Nada. Nada? Nada. Impossível. Nem cigarro? Nem. Só álcool. Só? Só. Nem remédio? Nem.

 



17/06/07

Você não curte nada?



João descia a rua calçando meias por debaixo das sandálias de couro barato. Ao seu lado, Alice. Os cabelos embaraçados. Ao retornar para o lar encontrou um aspecto maluco um tanto quanto mendigo caminhando. Pouco distantes um do outro. O rapaz um tanto quanto mendigo disse, e aí? E aí, replicou João em seguida. Pediu um gole daquilo que João carregava numa garrifinha de água, debaixo do braço. Nunca negava pinga, não seria desta vez. Pode tomar. Tomou e proseou. Eu sou músico, Gaetaninho do Teclado. Sério? Sério. Não acredita? Eu canto para vc ver. Então canta. E cantou:

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim

Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada...

Bom. Fitou Alice; ela apenas observava. Desconfiou que o maluco um tanto quanto mendigo fosse mesmo o músico, Gaetaninho do Teclado. E então, o que achou? Interessante. Com teclado seria melhor, João disse, dando passos à frente, querendo finalizar o papo.

Instantes de silêncio. Romperam. Você não curte nada? Nada. Nada? Nada. Impossível. Nem cigarro? Nem. Só álcool. Só? Só. Nem remédio? Nem.

O maluco um tanto quanto mendigo desconfiou: com essa cara? Duvido. Nem ...? Nada, já disse. E você?, perguntou erguendo a cabeça, virando-se para Alice. O que? Também não curte nada? Curto. O que? Tudo. Como assim tudo? Tudo. Não é possível. Pois é. Tudo. À que você se refere? Tudo. Abismou. Nós vamos indo sabe, queremos ficar juntos, escorando a cabecinha no ombro e chora. Ah tá, entendi, já passou da minha hora. Foi um prazer. Seria uma honra vê-los apreciar Gaetaninho dos Teclados. Por estas bandas? Por aquelas; apontou com o dedo. Farei o possível. Meneou a cabeça e finalizou, muito agradecido, bom descanso pra vocês. Igualmente. Desceram a rua de paralelepípedos; escorreu o braço até a cintura dela. O aspecto maluco um tanto quanto mendigo dobrou a esquina, preparou-se para atravessar a via. Não deu. Antes de pisar a faixa de pedestres um terráqueo acelerava o novo lançamento da moto que você compra em 187 parcelinhas. Deu um rasante. Aterrissou o maluco um tanto quanto mendigo na capa do noticiário do dia seguinte ao sábado.


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Gabriel Pansardi Ruiz é jornalista ainda não graduado, reside em Bauru-SP e gosta de rock ´n roll. É editor do jornalístico cultural "Revista Ponto e Vírgula", veiculado pela web rádio Unesp Virtual, onde também produz reportagens para os programas "Raiz Social" e "Ecoando". Mais escritos no seu blog. Escreve todas as segundas. E-mail: gabrielpruiz@yahoo.com.br


   
 

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