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Não haveria sobremesa. Na verdade, ela seria a sobremesa. Era o que esperava. Já tinha rolado uns quatro encontros. Com a casa vazia, hálito fresco, perfumado e um jantar a luz de velas, mulher nenhuma resistiria.

 



15/04/07

A farsa de Don Juan
Mulheres sempre podem ser seduzidas. Essa é a primeira regra do jogo.
Ovídio, poeta Italiano

Convidou-a para jantar em sua casa. Claro, este era o pretexto. Afinal, todas as ações de um ser humano são guiadas por segundas intenções. Ainda que não sejam segundas, mas terceiras, quartas, quintas...

Não haveria sobremesa. Na verdade, ela seria a sobremesa. Era o que esperava. Já tinha rolado uns quatro encontros. Com a casa vazia, hálito fresco, perfumado e um jantar a luz de velas, mulher nenhuma resistiria. E abusaria ainda mais das velas. Usaria no quarto para deixar um climão romântico e também incensos. Ela se deixaria levar, certamente. As “iniciadas” não passavam do quarto encontro a sós. Era fato, 97% funcionava assim. Pura experiência.

A campainha tocou. Sentia-se um don Juan. Ela era uma dama. A sala perfumada, música ambiente, tudo conspirando a favor. Sentaram-se ao sofá. Conversas. Toques.

- Quando foi ao cinema pela última vez? Perguntou o farsante don Juan.

- Acho que no mês passado. Fui ver Deja-Vu, por quê?

- Ah, por nada, pra saber, o meu foi...

Precisava manter um diálogo cult, ela era letrada. E se fosse um pouco mais ou um pouco menos, não seria diferente. Também não importava muito.

- Nossa, luz de velas!

- É querida, mulheres especiais merecem atenção e, claro, jantares especiais.

- Ai, que doce! Muito obrigada.

Serviu-a de pé, encheu seu copo, enquanto olhava-a fixamente nos olhos. Sentou-se em seguida.

Jantaram o cardápio anunciado ao mesmo tempo em que começavam a embriagar-se de vinho. Isso também fazia parte do plano. Com álcool correndo pelas veias elas costumavam soltar-se um pouco mais...

Ela quis ir para a cozinha lavar os pratos, mas ele impediu-a. Ela insistiu sem sucesso. Migraram para uma conversa na sala. Trocou o CD, colocou algo mais agitado e ao mesmo tempo romântico. Jack Johnson. Já por entre as almofadas, por sugestão dele desceram pro chão, num tapete branco confortável. Trouxeram as almofadas.

Beijos. Calor. Tirou o casaquinho. Beijo intenso. Mão nos seios. Apertos na bunda. Fogo. Química. Vontades. Taras. Pensamentos perversos passando pelas cabeças. Uma pausa. Faces com gotículas de suor.

- Ah, eu nem comentei, mas o jantar estava ótimo!

- Muito agradecido. Um sorriso médio e os olhos brilhando. Sabia que tinha acertado na mosca. Agora era questão de saber conduzir a situação. Alguma coisa teria de rolar. Nem que fosse apenas para vê-la nua.

No quarto tudo pronto para o “finish him”. O rádio a postos, bastava apertar o play. As velas dispostas uma a uma em lugares estratégicos para deixar o aposento com pouca iluminação. As camisinhas na gaveta da cômoda ao lado da cama já destacadas uma das outras.

Como qualquer outra naquela situação sentiu-se importante e especial. Era tudo o que ele precisava. Outra garrafa de vinho tinto foi aberta. Corpos quentes. Sentia a impressão de que a farsa de don Juan, quando na realidade 92,7% dos homens não passavam de conquistadores baratos tentando devorar outra maçã, daria resultados. E não deu outra.

Acordou de manhã e no instante seguinte após abrir os olhos lembrou da noite anterior. De pensar, ficou excitado. Mas agora estava fácil, bastava apenas uma ligação.



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Gabriel Pansardi Ruiz é jornalista ainda não graduado, reside em Bauru-SP e gosta de rock ´n roll. É editor do jornalístico cultural "Revista Ponto e Vírgula", veiculado pela web rádio Unesp Virtual, onde também produz reportagens para os programas "Raiz Social" e "Ecoando". Mais escritos no seu blog. Escreve todas as segundas. E-mail: gabrielpruiz@yahoo.com.br


   
 

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