
11/02/08
0,5 ml de lágrima
Enquanto ouço essa canção
que gosto e que já não lembro o nome, vou
pensando em acender um cigarro e ir a cozinha servir-me
de uma xícara de café. Dois vícios
legais, que me tiram da condição de marginal.
Vou pensando nas leituras que passaram em branco, nos livros
que se amontoam na estante de plástico branco, esquecidos.
Devo folhear a revista ou permitir
o corpo jogado (e desolado) no sofá da sala. Devo
olhar pela fresta da janela por onde escorrem as águas,
à beira da calçada. Chuva.
O ruído torrencial ou
o a TV falando às paredes notícias do pânico,
que não satisfazem, que não dão tesão.
Mudar o canal ou ir à busca do telefone: ligar para
alguma alma, selvagem de preferência, libertar do
marasmo de ficar pensando nos traços da sua pessoa.
Nem o telefone soa e muito
menos a campainha. Nada.
Um filme ou um disco, uma música
para acalmar, ou ligar o ventilador.
Deitou no sofá e por
lá ficou a vagar, pausado, em silêncio. Agarrou
a almofadinha azul escuro, encolheu os joelhos até
a barriga, e sentiu o coração apertar, bem
forte, como se fosse o último segundo de sua existência,
a última cena de um filme vagabundo.
Duas lágrimas escorreram.
Apenas duas. E não mais que duas.
O sujeito não valia
mais do que 0,5 ml de lágrima.
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Gabriel
Pansardi Ruiz é jornalista ainda não
graduado, reside em Bauru-SP e gosta de rock ´n roll.
É editor do jornalístico cultural "Revista
Ponto e Vírgula", veiculado pela
web rádio Unesp Virtual, onde também produz
reportagens para os programas "Raiz Social" e
"Ecoando". Mais escritos no seu
blog. Escreve todas as segundas. E-mail: gabrielpruiz@yahoo.com.br
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