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As “Velhas” lançaram o disco Cubanajarra (ver foto acima ), em 2006,inédito e produzido por sua própria gravadora. Já é o sétimo trabalho do grupo, conhecido como a maior banda independente do Brasil.

 



09/03/07

Cerveja na veia
Comemorando 20 anos de carreira, as Velhas Virgens falaram com exclusividade sobre o que mais gostam: música, rock ´n roll, mulher e bebedeiras...

A banda Velhas Virgens (www.velhasvirgens.com.br) está em plena forma. Apesar dos vários vinte anos de estrada, o grupo não se alinhou aos ultrapassados moldes da indústria fonográfica. Ao invés de gravar um “greatest hits”, as “Velhas” lançaram disco (Cubanajarra – 2006) inédito e produzido por sua própria gravadora, a Gabaju Records (http://www.gabaju.com.br/). Já é o sétimo trabalho do grupo, conhecido como a maior banda independente do Brasil. “Sobreviventes” da cena underground do País desde 86, as Velhas Virgens também inovaram. Trabalharam pela primeira vez o formato em bancas de jornal com direito a revista, pôster, um HQ, além do cd. Em 2005 lançaram o livro “Velhas Virgens: 18 anos de Bar em Bar”, escrito por Alexandre Dias, o “Cavalo” das Velhas, em parceria com o jornalista Ricardo Gozzi. A obra resgata a memória de várias “estórias” ocorridas com a banda. Entre umas e outras, entre viagens, hotéis e shows, as “Velhas” retornaram a Bauru após dois anos sem tocar na cidade.


Divulgação


As Velhas Virgens e seus integrantes

Meia noite e vinte, eu e o amigo Jean adentramos o bar do Espanhol, local que receberia as Velhas Virgens naquela noite. O lugar estava abarrotado. Descubro que as Velhas ainda não haviam chegado. Sou informado de que apenas a uma e meia da manhã “elas” estariam por lá. Perto desse horário, nos deslocamos até a Jaqueline – a moça que nos guiaria ao camarim novamente. Somos levados até o os fundos do bar, passamos pelo banheiro masculino e atravessamos um biombo descendo três degraus. Logo à direita uma porta de madeira, era o camarim. Entramos na sala, poucas pessoas além dos integrantes do grupo. O Paulão convida-me a sentar à mesa, cheia de comes e bebes diversos. O vocalista por sua vez, veste fantasia de Pirata, usa uma bengala de plástico com uma caveira na ponta, tênis “all star” de cano longo e chapéu típico como aquele que o Johnny Deep usa no filme “Piratas do Caribe”.

Paulão, de onde surgiu a idéia de fazer um som falando de bebedeira, sexo, letras machista e com a sonoridade que as Velhas Virgens tem?

Paulão: Letra machista é o caralho! A gente dá é receita para as mulheres saberem lidar com a gente. Elas deviam agradecer. A gente diz exatamente como a gente funciona. Agora eu quero ver alguém montar uma banda e dizer exatamente como as mulheres funcionam. Ela vai ter que lançar pelo menos 80 discos pra mostrar que elas estão de tpm. Mas respondendo a sua pergunta...

Nathalia La – festaembauru.com.br

O pirata Paulão, durante a
entrevista no camarim

Nesse instante uma moça entra no camarim e distrai por alguns instantes a atenção do pirata Paulo; ele desvia o olhar e comenta com o rosto entusiasmado: “Nossa que maravilha ein? Deus seja louvado!” –. E nós em coro respondemos “amém”.

Olha, a banda inicialmente não era pra falar exatamente de putaria, boemia, bebedeira. Não era nesse estilo. A gente montou a banda, mas eu nunca achei que ia conseguir tocar, aí quando eu consegui tocar, naturalmente vc já pensa em montar uma banda, juntar alguns amigos e tal. E a coisa começou a ter mais corpo quando eu conheci o “Cavalo” em uma escola de música. Então eu descobri que poderia compor e a banda começou a trabalhar mais em cima de músicas próprias do que “covers”, semelhante aos Ramones quando eles começaram. Eles não conseguiam tocar nada, então começaram a compor, porque no final das coisas quando vc toca a sua música, ninguém sabe como ela é, então vc pode tocar de qualquer jeito. O Radiohead tem uma história parecida com isso de vc juntar amigos que não são músicos e irem atrás de aprender a tocar para fazer um trampo, muito se fala disso em mesa de bar e poucos fazem andar. A gente fez.

E como ficou o som da banda daí para frente então?

P: A gente foi andando e a banda tinha essa coisa de bebedeira, alguma coisa de putaria, mas tinha também de influências da Legião Urbana, uns papos mais cabeça e tal. Mas na verdade, esse negócio de cabeça da gente nunca funcionou muito legal. Mas foi se sobressaindo algo que a gente falava com mais certeza, como a bohemia, desejos naturais de adolescentes naquela época. Querer falar de coisas que vc faz, que curte, porque aí vc consegue convencer as pessoas, porque é real.

E tiveram coisas que facilitaram também. Eu fui estudar gaita de boca em 90 na Universidade Livre de Música em São Paulo e aí a gente fez com que a música fosse mais pro blues, porque o blues é uma música mais voltada pro remelexo, para a diversão né. Vc não vê, por exemplo, blues de protesto. Vê blues até social, mas não de protesto.

Você também não faz um som para tocar no quarto e as pessoas acharem uma merda, vc sempre quer que as pessoas curtam né? Ao mesmo tempo, não faz um som que vc não curta. Então chegamos à conclusão de que gostávamos mais dessa parte, fazia bem e as pessoas gostavam. Era um diferencial, nem todo mundo teve até hoje a manha de fazer.

O som da banda, na minha opinião, saiu de “Sílvia” do Camisa de Vênus [do disco “Viva” de 86] e de “Rock das aranhas” do Raul. São músicas que eu sempre gostei e que falavam de bebedeira e sacanagem, de uma forma até direta. E eu curtia essas músicas e pensava: “pô! Se eu for falar de algo parecido com isso, tenho que dar um passo a frente, tenho que ser mais explícito.

São temas que as pessoas falam no dia-a-dia né? Apesar da televisão banir isso, da mídia banir, mas são termos usados. Eu não acho necessariamente que falando “buceta”, por exemplo, seja uma palavra chula ou um palavrão. Eu acho só que vc está se referindo ao orifício vaginal de uma forma popular. Acho que todo mundo faz esse tipo de coisa. Do mesmo jeito que vc fala “caralho” e ninguém reclama, por que é que não pode falar “buceta”? Aí sim eu acho que é machismo. As mulheres deveriam discutir mais essas coisas ao invés de ficar reclamando da nossa música que a todo momento as elegem o nosso objeto de desejo. Se as mulheres forem espertas elas lêem o que a gente diz e é uma receita para saber lidar com homem.

Tem um e-mail que circula na internet que é assim: para saber lidar com uma mulher, ouça o que ela diz, dê uma flor, faça um agrado sempre. São duas páginas falando como vc se dará bem com uma mulher. E, duas linhas falando como funciona com o homem: venha pelada e traga cerveja! E elas sabem que é verdade. Agora elas são sensacionais, elas são maravilhosas, mas não tente entender.

Você falou que cresceu ouvindo música. Qual foi o primeiro disco que comprou ou que lembra de ter comprado?

P: É assim. Eu sou o filho mais novo, meu irmão mais velho era Beatle-maníaco, então cresci ouvindo Beatles, Stones, Creedence, Roberto Carlos, Jovem Guarda. Os primeiros discos pelos quais me apaixonei foram Deep Purple, Led Zeppelin. Então comprei o que tinha “Starway to Heaven” [Led IV], comprei uma coletânea do Deep Purple. Mas o primeiro disco foi AC/DC – que na primeira vez que eu vi o Angus Young chaqualando a cabeça, eu falei “porra, é isso que é o rock ‘n roll! Eu nunca fui fanatizado por essa gente que “frita pra caralho”, que tem técnica pra caralho. Respeito quem faz, mas acho que a nossa onda sempre foi rock ‘n roll e ouvia pessoas dizendo, mesmo exagerando um pouco, mas é legal, falaram que nós éramos o AC/DC brasileiro. Achei legal, porque se vc prestar atenção em algumas letras deles, “You Shook Me All Night Long” ou nas primeiras letras do primeiro vocalista, elas falam muito de sexo e putaria. Porque o inglês tem muito duplo sentido, então vc não precisar ser tão específico, mas a língua portuguesa é complicada. Tipo, cú é cú né? “Ass” é bunda, mas é e cú. No português vc precisa ser literal. Acho que o AC/DC é uma influência poderosa no nosso trampo. Mas não foi o primeiro disco que eu comprei, foi a primeira banda que era minha assim, que não foi apresentada pelos meus irmãos mais velhos, que eu ouvi por osmose. Foi um grupo que eu falei que queria conhecer, queria ouvir. E eu os conheci vendo vídeo-clipe. Sou um sujeito de 65 e vendo o Angus Young tocar era uma coisa fantástica.

www.curitibaunderground.com.br

Paulão e Lili em um dos momentos
ápices do show

Sobre o mais recente trabalho da banda, o disco “Cubanajarra” (2006), vcs disseram que a sonoridade é mais ou menos parecida com os dois primeiros trabalhos, inclusive com o mesmo produtor...

P: A gente voltou a trabalhar com o Paulo Anhaia e basicamente tentamos fazer o disco meio como fez os primeiros. Não ficar gastando muito tempo em estúdio, não ficar inventando muito em passagens e tal. Não que em alguns momentos a gente tenha feito isso e não fosse legal, mas a vontade era fazer um disco de 20 anos dizendo pras pessoas: “aí, a essência está toda aqui; se estamos fazendo outras coisas mais rebuscadas é porque estamos experimentando”. E é foda porque algumas pessoas acham que vc está perdendo o culhão, que íamos completar 20 anos e faríamos um disco de coletânea com os melhores sucessos. Não. A gente fez um disco inédito e estamos muito contentes com o retorno dele em relação aos fãs. Trocamos bastante idéia com pessoas na internet que curtem o nosso trampo e essas pessoas, a gente ouve muito. E em tempos de pirataria véio, elas se dispõem a comprar um disco sem piratear. Não que a gente não seja pirateado, mas é uma pirataria de rodagem que é muito legal. Vc que não conhecia e alguém te apresentou e vc gravou pro seu amigo, entendeu? Isso faz as coisas andarem. O nosso amigo Gilberto Gil que fala muita bosta, falou uma coisa legal pra caramba que foi “não há como reverter a pirataria, porque ela é uma pirataria de inclusão, as pessoas que não tinham grana pra comprar cd, agora têm. Agora ele tem acesso, compra três cds por dez reais. Antes ele não tinha, então isso não tem como voltar. A indústria fonográfica que vendia cd caro pra caralho, que pagava jabá pra rádio está estourada, as rádios não estão tendo mais a audiência que tinham antes. Hoje é essa coisa, a internet, o boca-a-boca que funcionam. Então, esses caras estão fora do mercado. A gente sobrevive, porque temos um modo de trabalhar hoje, que tem a ver com o que as pessoas fazem que é ouvir músicas na internet, então deixamos no site para download, porque quando o cara é fã da banda, ele compra mesmo. Nem que seja na banquinha quando a gente traz. Mas vou te dizer: não chegamos onde a gente queria, mas estamos muito felizes com o que a gente já fez.

Bom, pra finalizar...

Paulão me interrompe e diz: “antes que o Espanhol tenha um chilique, olha lá ó! O Espanhol já tá com o coração por aqui! – mostrando a garganta com a mão”. E o Espanhol retruca, “vamos logo, vcs tão folgando já caralho, tão sentados aí já faz meia hora meu!”. “É a última, relaxa Espanhol, relaxa, ó o coração!” – brinca o vocalista das Velhas Virgens. Literalmente no meio da discussão, prossigo para ouvir uma resposta, no mínimo, brincalhona...

O fígado de vocês ainda tem muito tempo de vida?

P: Não sei se vocês sabem, mas eu sou um X-Men, tenho três fígados. Então, não tenho problema com isso...

Mas vou te falar, isso é um problema meu cara, porque a gente gosta muito de beber e eu pessoalmente montei a banda pra beber e tentar comer as mulheres. Não comi tantas mulheres quanto eu queria, mas até que deu certo. Eu bebi pra caralho, mas ultimamente a gente tem que tomar cuidado, porque se a gente bebe tudo que queremos, a gente não faz o show, e quando os contratantes não tem o show eles não ficam felizes. E nem a platéia quando vai ver um show e ele não ocorre, o povo não gosta. Igual vc não ter dinheiro e ir numa festa de casamento de algum desconhecido pra beber de graça. Era isso que a gente pensava quando fez a banda também, pelo menos eu que sou o mais bêbado. E hoje a gente tem que tomar cuidado, no hotel ficamos cada um num quarto, evitando se encontrar, pra beber na hora do show, pra fazer um show legal. Na verdade, tudo isso foi inventado pra gente beber de graça, nada mais.

O Paulão já vai se levantando para tirar fotos com a banda para um site e com poucos fãs que estavam no camarim. Enquanto isso, dirijo-me na direção da única mulher do grupo, a Lili. Ela é bonita, mestiça de cabelos longos, lisos e pretos, calma, e um pouco tímida. Não vestia nenhum dos figurinos usados no show, usava calças pretas e uma blusinha cor-de-rosa. Nesses ambientes a presença feminina é rara.

Naquele instante, apesar de supor, mal poderia imaginar o sucesso que ela faria no palco, com o público (masculino)...

Como é viajar e tocar com esses caras aí?

L: ah é legal, divertido, tudo que está nas músicas, é isso mesmo. Mas faz muito tempo que a gente não viaja, antes também era em um ônibus, iam todos juntos, agora separou em dois, são duas vans, mas no geral é uma bagunça mesmo.

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Lili, em uma de suas performances
durante o show das Velhas

E quando você entrou na banda, não ouviu críticas por causa das performances, por causa do que você fazia no palco, nunca falaram nada?

L: Não, é tranqüilo. É um lance de palco mesmo, a galera é normal, a convivência é normal, não tem nada de machismo, pelo contrário.

Concordo Lili, mas é porque a sociedade de uma forma geral é machista, então as pessoas comentam...

L: Não, não tem nada a ver não.

Alguns integrantes da banda já haviam saído do camarim. Não deu muito para conversar com a Lili, o show estava para começar. Como não tinha tirado fotos dialogo com a Nathalia Lazari que estava fazendo cobertura para ver se ela poderia me passar algumas. Anoto endereços eletrônicos. Enquanto isso o Jean prepara um drink com suco e vodka bem gelado pra nós. Estávamos mesmo precisando. E lá no palco ouvíamos os primeiros acordes de uma apresentação empolgante e digna de rock ‘n roll de mais ou menos duas horas...

Velhas Virgens são:

Paulão: vocal e gaitista. Na banda desde sempre;

Cavalo: guitarra e co-fundador das Velhas junto com o Paulão;

Tuca: baixo, na banda desde 98;

Caio: guitarra, entrou em 93.

Lili: vocalista, é a mais nova integrante das Velhas.



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Gabriel Pansardi Ruiz é jornalista ainda não graduado, reside em Bauru-SP e gosta de rock ´n roll. É editor do jornalístico cultural "Revista Ponto e Vírgula", veiculado pela web rádio Unesp Virtual, onde também produz reportagens para os programas "Raiz Social" e "Ecoando". Mais escritos no seu blog. Escreve todas as segundas. E-mail: gabrielpruiz@yahoo.com.br


   
 

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