24/12/07
Bolhas
Hoje não quero fantasiar, porém, vou tratar
de uma obra de ficção, sem esquecer, é
claro, de que esta retratação pode ser uma
versão de uma realidade de indivíduos que
vivem uma vida completamente diferente e, por muitos, não
imaginada. Há alguns meses ouço falar do filme
Bubbles, isso mesmo, "bolhas", um filme lado b que podemos
encontrar apenas nos cinemas alternativos e de cenário
Cult de Belo Horizonte. Não gosto de me considerar
Cult, aliás, acho um saco esse rótulo social.
Mas gosto de filmes bons e nunca me interessei pelo roteiro
pop dos filmes hollywoodianos.
De temática homoerótica,
sim, trata-se de um filme que fala sobre o amor de dois
homens. Como assim? Você talvez se pergunte. É
um filme que fala de um amor que é visto pela sociedade
como um distúrbio social e não um fato normal,
que pode ser tema para uma história de sucesso para
a sétima arte. Eytan Fox, diretor do filme, dá
este nome para fazer uma alusão à sociedade
que é segregadora, que mantém seus indivíduos
separados por bolhas imaginárias, onde cada um tem
seu espaço e que dele não pode sair. Desta
forma, o filme é ambientado em Tel Aviv, cidade árabe
que sofre com a disputa entre palestinos e israelenses por
causa do território. É exatamente esta que
é uma analogia ao romance shakespeariano, visto que
o amor entre os dois é uma afronta aos ditames, ou
melhor, às regras sociais.
Três jovens
que dividem um apartamento em Tel Aviv, dois homens e uma
mulher. Yali e Noam são gays e Lulu heterossexual
que não consegue se entregar para o amor, só
é tratada com desprezo. O filme começa quando
Ashraf chega ao apartamento. Noam e Ashraf se conhecem na
barreira entre as duas cidades, Noam é um dos soldados
que presta serviço obrigatório ao exército
e Ashraf é um dos transeuntes que tentam passar pela
barreira para sair da pressão de se casar com a irmã
de seu cunhado, que é um dos líderes do Hamas.
Durante toda a história,
o expectador vai se envolvendo com as mais variadas situações
antagônicas que surgem nas telas, da alegria desmesurada
de uma rave que os protagonistas preparam a favor da paz
a um ataque terrorista do Hamas, onde Yali, um dos dois
amigos de Noam, fica paraplégico, não esquecendo
que este ataque foi ordenado pelo cunhado de Ashraf, tentando
matar Noam. Não dá para não ficar sensibilizado
com a estonteante Lulu, amiga de Noam, que leva a vida de
uma forma muito impulsiva, aquele famoso ditado: viva cada
momento como se fosse o último, pode ser piegas,
mas reflete totalmente a personalidade da jovem.
Não poderia me esquecer
do Café onde Yali é o gerente é que
a trilha sonora deste café é Bebel Gilberto,
sim! A trilha é brazuca. Ao ouvir achei que estava
louco, porém, Eytan Fox, adora o Brasil. Não
somente no bar, mas as outras músicas são
maravilhosas. Além do sentido humano que cada personagem
exala durante a trama, a história tem um fundo crítico
à política local intrincada na trama. A fotografia
é muito boa, boa quanto filmes franceses.
E aconselho a todos os interessados
em filmes bons e que não tenham tabus, ou melhor,
este é um daqueles filmes para pessoas bem resolvidas
quanto a sua opção sexual e que não
tenham preconceito. Bem, depois de tudo isso queria pedir
desculpas a meus colegas que escrevem exclusivamente sobre
cinema. Fiquei muito tocado com este filme, confesso que
fiquei mais de trinta minutos tentando para de chorar. E
por isso decidi escrever este texto para incentivar todos
a fazerem o mesmo, ir ao cinema assistir Bubble. Quem sabe
quebraremos, assim, tabus pessoais que muitas vezes incomodam
quando nos relacionamos com os indivíduos na sociedade,
o preconceito mata. Mata quem amamos e a nós mesmos.
Ele nos prende em bolhas e destas, muitas vezes não
podemos sair. É. Eu choro!
Cine clube savassi - Bubble (ha-buah)
Rua Levindo Lopes, 358
16h20m 21h
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Fred Caiafa é
uma pessoa como outra qualquer, que escreve algo que pensa
ser legal. Algo que pensa contar para cada um, para àqueles
que possam tirar algo de, sei lá, pessoal. Ele também
é bruxo, magista, caótico, muitas vezes, louco
para uma sociedade, normal para ele mesmo, um escritor,
estudante de letras, neófito nas artes escritas,
aprendiz. “Mas deus em mim mesmo, e em todas as coisas
que vejo e respiro, sou fragmentado em um todo.Sou Fred
para muitos, Frederico para poucos”.
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