18/11/07
A necessidade de
chafurdar
-Tá, eu tô feliz.
-Tá mesmo?
-Tô!
-Mas você está com uma cara...
-Tô bem sim!
-Ah! Mas eu o vi com outra pessoa!
-Que bom!
-As pessoas tem vida social. Sabia?
-Mas eles estavam ficando!
-É mesmo? Que coisa, hein?
-Você não fica preocupada?
-Não.
A expressão da amiga agora ficava fechada, como se
tivesse mordido sua própria língua.
-Quanto tempo vocês não se vêem?
-Porque você quer saber disso?
A expressão se torna
um misto de ódio e inveja.
-Ele é seu primeiro
namorado?
-Não!
Já sem saco de responder
as perguntas...
- Por que vocês não
terminam? Ele está longe.
Nós, seus amigos, nunca gostamos muito dele.
-E acho que você não gosta dele.
-É??
-Meus amigos??
-É! Nós.
-Imaginei que gostassem, sempre elogiando, sempre nos convidando
para sair...
A raiva, agora, mudava de rosto,
como doença venérea.
-Mas, por que eu deveria terminar
se eu gosto dele??
Nunca terminei com ninguém por causa dos outros...
Principalmente por causa de amigos meus.
Falando com uma explosão irônica.
-Mas você confia nele?
Insistindo no assunto...
-Olha, você não tem mais o que fazer?
Tipo cuidar só um pouquinho da sua vida?
-Que isso? Mas por que você esta me tratando assim?
Sou sua amiga.
Só quero seu bem! E acho que ele não te merece.
-E quem me merece? Já que você sabe tanto quem
é melhor para mim?
-Carla. Que isso, que agressividade.
Carla mostrava-se impaciente, verdadeiramente puta com a
intromissão de sua "amiga".
-Como sua amiga, eu acho que o Julinho émelhor para
você.
-Ah, é?
-É sim!
Puta com a situação, Carla levanta-se da mesa
do bar e diz:
-Faz o seguinte, "amiga".
Fica com ele. Dê para ele. Goze, gostoso, e me deixe
em paz.
Seu problema e falta de alguém. Pare de cobiçar
o namorado dos outros.
Arrume um por conta própria.
-Que absurdo! Eu não quero roubar ninguém
de ninguém.
Levantou pegando a bolsa e jogando na mesa uma nota de 20
reais.
Abismada com a reação da amiga.
Lia levanta-se e paga a conta. No caminho de casa abre o
porta luvas e
tira uma foto. Era do Júlio, namorado de Carla.
Sem nada dizer põe contra
o peito o retrato. E segue o caminho sorrindo.
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Fred Caiafa é
uma pessoa como outra qualquer, que escreve algo que pensa
ser legal. Algo que pensa contar para cada um, para àqueles
que possam tirar algo de, sei lá, pessoal. Ele também
é bruxo, magista, caótico, muitas vezes, louco
para uma sociedade, normal para ele mesmo, um escritor,
estudante de letras, neófito nas artes escritas,
aprendiz. “Mas deus em mim mesmo, e em todas as coisas
que vejo e respiro, sou fragmentado em um todo.Sou Fred
para muitos, Frederico para poucos”.
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