19/11/08
GET
OFF YOUR CLOSET
Descobriu o
nome por acaso. Ouviu um sussurro de algum lugar. Estava
no ônibus que pegava diariamente e nele passava grande
parte do dia. Sempre que entrava no lotação
via aquele rapaz, sempre como o mesmo ar de insinuação
para qualquer um que passasse ao seu lado. Alto, moreno
e muito bem apessoado. Assim era o homem por quem havia
se interessado. Nunca pensou em ter qualquer tipo de relacionamento
homossexual, porém, esse cara mexia com alguma coisa
muito profunda dentro dele. Algo que não havia sentido
por ninguém. Ao vê-lo suas pernas constantemente
vacilavam, de forma que, qualquer coisa poderia causar sua
queda, mesmo uma curva do transporte. O coração
bate de forma acelerada e a sensação de torpor
toma lhe de assalto.
Metódico, o alvo,
ou melhor, o objeto de desejo deste nosso personagem que
por si só já era um homem que precisava de
atenção e Pablo, nome do michê, que
sempre estava a encarar os passageiros do ônibus sempre
no mesmo local do transporte, ou melhor, sempre estava na
porta do meio, perto da roleta. Ali, ele tinha uma visão
privilegiada e por várias vezes cruzaram os olhares
buscando saciar àquilo que neles faltavam. O vazio
eterno que preenche a vida dos indivíduos e o pensamento
em seu umbigo. Seu próprio mundo, ao ego, antigo
como a civilização humana. Desde o seu surgimento
e a preocupação consigo próprio. E
parte da formação da mente do homem. Portanto,
a procura de um outro indivíduo está relacionada
a reação e carências do próprio
individuo. Em Pablo estavam todas as carências, de
nosso personagem carente e, cada detalhe daquele corpo talhado
em mármore, de perfeições gregas, atraía
o jovem homem. Este que sonhava todas as noites com seu
companheiro de viagem não agüentava mais a distância
e a troca de olhares, ou melhor, apenas ter os olhares daquele
"Deus".
Um dia resolveu aproveitar
do trânsito e deixou ser levado para cima do corpo
do rapaz, que ficou observando todo o estratagema e achando
graça da situação, compreendeu de pronto
que aquela atitude era na verdade uma forma de o homem se
aproximar dele.
- Desculpa! Disse nosso
personagem.
-Que isso! Em tom irônico e risonho. Respondeu Pablo.
-Não esperava que o ônibus fizesse uma curva
tão acentuada.
-Eh! Mesmo?! Disse Pablo sorrindo.
E àquele sorriso entorpercia nosso jovem que começou
a ter certeza de
suas duvidas, naquele instante.
O coração batia acelerado.
Pablo disse:
-Tenho reparado em você dentro do ônibus e vejo
que desce sempre no
mesmo local. Você é vendedor?
Nosso personagem respondeu:
-Não sou empresário, só não
gosto de usar roupas muito sérias.
-Mas você? Empresário? Nunca imaginaria. Você
não parece empresário!
E que não gosto de dirigir durante a semana. Ainda
mais porque a
cidade fica muito cheia.
-E eu ultimamente tenho tido motivos para pegar ônibus,
sabe? Em tom irônico.
-Sei! Disse Pablo.
Vestindo camiseta branca quase transparente deixando seus
músculos, extremamente, destacados e rijos, a calça
clara e justa deixava nítidos e definidos os músculos
das pernas, exatamente como uma estatueta grega. Como o
corpo de Davi. O que dava uma sensação de
segurança. Chegaram ao ponto de Pablo, ele abriu
um enorme sorriso e pegou a mão de nosso indeciso
personagem e, a partir daí, ele nem pensou em nada
seguiu o jovem esculpido em beleza e foi até sua
casa.
Lá resolveu
o que queria de sua vida!
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- O Náufrago
Urbano
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Frederico Caiafa é
Estudante de Letras - Born in 80s. Daqueles curiosos
que não desistem de conhecer algo desconhecido. Tento
transcrever em cada linha aquilo que vivo ou crio, não
tenho muita certeza do limite nesta relação,
porém, me arrisco na corda bamba sem pensar duas
vezes.
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