OPPERAA
 
Baby Boom
     
 
 
     

Ilustração: Marcelo Carreiro

Conheça mais:

Flickr

Revista OFF LINE

 

02/09/08

Sem título
Quisera saber quando estivera envolvido com qualquer questão social, com qualquer pessoa que estivesse precisando de sua ajuda. Não se envolvia mais com ninguém, fechou-se para todas as pessoas. Havia se magoado muito com todas as situações tristes que vivera e com as decepções vividas por ele. Afastou-se, assim, de tudo que poderia lhe fazer mal. Ficou apático com o mundo, sem graça, sem praça, sem lugar pra poder ir ou pessoas para ver. Não tinha mais porque estar ali, nem aqui e nem em outro lugar qualquer. Não tinha mais nada a não ser ele mesmo.

Sua preguiça mundana era generalizada, quase uma doença crônica, nenhuma das pessoas lhe interessava, muitas vezes, nem seus familiares e a loucura parecia tomar-lhe de assalto. Não se controlava mais, muito menos se concentrava bem como antes nas coisas que sempre fez bem. Sua vida social foi atrofiando e seus amigos pararam de procurá-lo, afinal, não devia ser mais uma boa companhia para ninguém.

Queria ter asas como as tatuadas em suas costas, mas eram, infelizmente, fictícias e não poderiam fazer com que ele alçasse vôo. Ficou de tal forma, libertário, que não conseguia mais se prender a nada nem a ninguém. Tinha certeza que seu amor havia passado por ele e o abandonado.

Tinha certeza que em algum país deste mundo absurdo estaria seu amor, que o deixou esperando por várias vezes em estações de trem, em festas sem graça ou em algum cinema, só que do outro lado da fileira e, portanto, não pôde ver por causa da luz escura da sala de projeção. Um eterno romântico que esperava encontrar alguém que o completasse. Mas não via ninguém que pudesse esquentar seu coração, que o tirasse da mesmice, da triste sina de um vivente em um mundo cinza, onde ninguém se preocupa com o outro.

Não assistia mais filmes românticos, tinha ficado incrédulo e com vergonha, pois se achava sempre o último amante, debulhava-se em lágrimas por causa da história, principalmente quando a relação era impossível, sentia-se em uma destas produções cinematográficas. Foi se fechando em uma alcova cavada por si mesmo, onde apenas o que lhe interessava era perpetrado. Assim, conseguia manter seu humor razoavelmente suportável. Começou a se perder em ilícitos que usava para desafogar sua mente inconstante e desequilibrada, além de serem seus companheiros para todas as horas. Estava preso em si mesmo, algoz de sua própria vida social, não procurava se socializar. Definitivamente, essa não era sua intenção.

Incrédulo que seu envolvimento com algo social pudesse trazer gás a seus pensamentos e sofrimentos, considerava desnecessária sua presença em qualquer questão relacionada a esse assunto.

A única coisa que fazia fora de sua casa era caminhar com seu fone de ouvido pelas ruas da cidade. Aliás, achava que assim tudo havia começado. Foi depois que passou a usar, constantemente, aqueles fones de ouvido, que anulou toda a realidade ao seu redor. Perdia a noção de cidadania, não auxiliava mais ninguém em ônibus e lugares públicos, não se importava com o próximo e preferia essa sua realidade pessoal, sem intromissões de outras pessoas e/ou seus comentários. O que ficava na cabeça era apenas: por que esses fones nunca ficam bem no ouvido? E qual é o motivo de virem fios tão curtos, muitas vezes nem conseguimos colocá-los no bolso da calça sem que fiquem sendo repuxados a todo o momento que caminhamos.

Percebera que não era o único a andar com seus fones, muitas pessoas faziam o mesmo. Pensou em como a tecnologia que até então serviria para tornar o mundo globalizado muito mais próximo estava de alguma forma tornando as pessoas muito mais distantes e atormentadas.

Já parou pra pensar no seu dia-a-dia e nos outros ao seu redor? Qual é a música de seu mp3?


Leia também

27/05/08 - No espelho quebrado do muquifo onde morava Mirela

23/04/08 - Setor de descartáveis

31/03/08 - Plano aberto para um corte de sequências

18/02/08 - O pior do dia

14/01/08 - Crítica caduca

24/12/07 - Bolhas

18/11/07 - A necessidade de chafurdar

01/10/07 - A inexorabilidade do ser

12/09/07 - O Náufrago Urbano


___________________________________
Frederico Caiafa é Estudante de Letras - Born in 80’s. Daqueles curiosos que não desistem de conhecer algo desconhecido. Tento transcrever em cada linha aquilo que vivo ou crio, não tenho muita certeza do limite nesta relação, porém, me arrisco na corda bamba sem pensar duas vezes.


   
 

O melhor álbum de 2008 já?
A Rolling Stone(USA) sugere alguns. Votaria em qual? (Clique para ouvir)

Cat Power
Vampired Weekend
Hot Chip
Snoop Dogg
Black Mountain
Nenhum destes
                                  VOTAR!
 

Expediente::: Quem Somos::: Parceiros :::: Contato:::Política de Privacidade:::Patrocine nossa idéia
Copyright © 2008 O Binóculo On Line All rights reserved