
29/10/07
Bodas de prata com música
São quatros horas da
madrugada, do dia 28 de outubro. Acabo de chegar em casa.
Há pouco mais de duas horas eu presenciava um dos
shows mais emocionantes da minha vida. A celebração
de uma história que começou antes mesmo de
eu nascer. Titãs, Os Paralamas do Sucesso e convidados
(Arnaldo Antunes e Dado Villa-Lobos), subiram ao palco de
um Chevrolet Hall lotado para a abertura oficial da turnê
25 Anos Rock, que marca o terceiro grande encontro
de duas das principais bandas de rock nacional, que despontaram
nos férteis anos 80. O primeiro se deu em 1992 quando,
juntos, fizeram o encerramento apoteótico do Hollywood
Rock, quebrando um paradigma da época de que
bandas nacionais não eram escaladas para encerrar
grandes festivais e, ao mesmo tempo, desfazendo rumores
de rivalidade. Sete anos mais tarde, Titãs e Paralamas
se juntaram novamente para uma turnê que passou por
diversas cidades do Brasil. Daquela vez, BH não foi
visitada pelas bandas mas eu, então com 15 anos,
tive a sorte de poder vê-los em Londrina-PR e, a partir
daí, não quis mais perdê-los de vista.
Desde então, muita
coisa aconteceu. De mudanças evidentes nas sonoridades
das bandas, passando por conflitos internos (em 2002, Nando
Reis se desligou dos Titãs), até tragédias
pessoais (como o acidente de avião sofrido por Herbert
Vianna, em 2001, e a morte do titã Marcelo Fromer,
no mesmo ano). Titãs e Paralamas não são
mais os mesmos que fecharam o Hollywood Rock, nem os mesmos
que rodaram o Brasil, juntos, oitos anos atrás. Mas
são os mesmos de sempre.
Foi o que pude presenciar
nas mais de duas horas de show, que teve início com
Herbert Vianna, Bi Ribeiro, João Barone, Branco Mello,
Charles Gavin, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony
Bellotto entoando o hino Diversão. Depois
veio O Calibre na voz de Miklos, Marvin,
na interpretação de Herbert, Selvagem,
por Sérgio Britto, e uma seqüência de
outras dobradinhas que evidenciavam o respeito que uma banda
tem pela outra.
Quando os três paralamas
ficaram sozinhos no palco, o público se emocionou
com a execução de baladas. Das clássicas,
como Lanterna dos Afogados, às mais recentes,
como a linda Cuide Bem do Seu Amor. O primeiro
titã a voltar ao palco foi o baterista Charles Gavin,
dessa vez, empunhado um pandeiro e acompanhando o power
trio em Alagados, que Herbert emendou com Sociedade
Alternativa, numa referência a Raul Seixas,
que possivelmente fez parte da formação das
duas bandas. Com Aluga-se, Raul também
foi mencionado no bloco dos Titãs, ou bloco
dos bichos escrotos, como sugeriu o irreverente Paulo
Miklos. Os fãs presenciaram ainda um momento pseudo-acústico
das duas bandas que, juntas, e com cada um sentado em seu
banquinho, mandaram A Novidade, Homem
Primata e Loirinha Bombril. Sentados,
é verdade, mas com as guitarras devidamente plugadas.
O auge do show, no entanto,
se deu, quando Branco Mello anunciou a presença do
ilustre convidado Arnaldo Antunes, que como nos velhos tempos,
assumiu os microfones para cantar a emblemática Comida.
Super à vontade, assim, como quem está se
sentindo em casa, foi o próprio Arnaldo quem anunciou
a chegada do outro convidado da noite, Dado Villa-Lobos.
Para o momento de todos eles no palco Lugar Nenhum
foi a escolhida. Arnaldo se despediu, mas voltou no bis,
quando depois de Flores e Meu Erro,
os dez músicos se reuniram novamente para cantar
Que País é Esse?, um clássico
da Legião Urbana.
Um show de hits, de ponta
a ponta, é verdade coisa que pode até
desagradar aos fãs mais xiitas. Mas numa época
em que uma banda de um hit só fatura todos os prêmios
numa festa democrática da música
brasileira é necessário que se faça
a observação inevitável: montar um
show inteiro só com hits é para poucos, pouquíssimos.
Os Titãs conseguem. E os Paralamas também.
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Fernanda é jornalista,
pós-graduanda em Gestão em Comunicação
Corporativa. Trabalha como assessora de imprensa e ainda
não sabe ao certo o que quer fazer da vida. Certeza,
só uma: gosta desse negócio de escrever. "Tem
que ter porquê?". E-mail:
ferdipinho@gmail.com
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