OPPERAA
 
Baby Boom
     
 
 
     
A impressão que se tem, ao ler um livro destes, é que nós mulheres somos seres neuróticos, doentios, submissos, masoquistas e que, quando não estamos gastando mais que podemos nas liquidações dos shoppings, estamos nos matando para agradar (ou contrariar) aos homens. E só.
 

15/10/07
Leila, volte para a entrevista

Mulheres: por que será que elas aceitam ser taxadas de loucas? É o que eu, representante legítima do gênero (garanto!), estou me perguntando desde que li o livro “Mulheres. Por que será que elas...?” (Ed. Globo), da jornalista Leila Ferreira, pela qual até nutro certa simpatia. Aliás, foi devido a esta simpatia e motivada pela promessa de me divertir horrores com as peripécias femininas, que me dediquei à leitura da obrinha em questão. Mas, para minha surpresa (não digo decepção porque também não esperava por um best seller), o que eu encontrei ali foi uma coletânea de relatos deprimentes, costurados por comentários altamente machistas da autora.

A impressão que se tem, ao ler um livro destes, é que nós mulheres somos seres neuróticos, doentios, submissos, masoquistas e que, quando não estamos gastando mais que podemos nas liquidações dos shoppings, estamos nos matando para agradar (ou contrariar) aos homens. E só. “Continuamos inseguras e a insegurança, como se sabe, é um forte aliado da submissão”, escreve Leila, estranhamente, com segurança.

Não me identifiquei nem um pouco com isso e nem com quase nada do que li naquelas 245 páginas de puro dramalhão, que deixa claro: ser mulher é, definitivamente, um karma. Não me vi ali. Nem eu, nem as mulheres que tenho em minha vida. E são muitas. Tenho mãe, avó, irmã, amigas, primas, tias. Mas nenhuma delas fica com a inteligência comprometida quando a vaidade está em jogo. Coisa que Leila jura ser um fato (só se for no planeta das malucas em que ela vive). Muito menos compram tudo o que vêem pela frente como se fossem doentes descontroladas, como parecem ser as mulheres retratadas na frase: “Compramos de tudo: o que devemos comprar, o que não devemos nem podemos, o que é essencial para nós e o que é absolutamente supérfluo”.

Sinceramente, acho que se um ET pegar um livro desses para ler desiste de qualquer incursão terráquea por medo de dar de cara com esse “monstro”, que, de tão pobre coitado, preferia ter nascido de outra espécie. Pelo menos é o que diz a jornalista lá, em sua página 174: “O jeito é a gente ir rebolando e torcer para na próxima encarnação nascer chimpanzé”. Agora, se você não for ET, nem chimpanzé e, sim, homem e heterossexual, nunca leia este livro. A menos que você pretenda mudar de paradigmas. Pois é bem capaz que uma leitura dessas te faça desistir do convívio com eesse ser mal-feito que parece ter vindo ao mundo apenas para te dar dor de cabeça. Só para exemplificar, mais palavrinhas de sabedoria: “Falamos ao mesmo tempo em que eles, fingimos que estamos prestando atenção, paramos assumidamente de prestar atenção e ainda temos o hábito de completar ou ‘corrigir’ a história que estão contando” (e pensar que o pobre do Adão deu uma costela por essa cruz). Sabe, Leila, eu aprendi a falar e aprendi bem, falo muito. Mas, antes disso, aprendi a ter educação.

Mas, se a vida te castigou e te fez encarnar neste universo nem como ET, nem como chimpanzé, nem como homem, mas como mulher mesmo, evite a leitura caso você tenha a menor tendência depressiva que seja. É provável que você queira se jogar do viaduto Santa Tereza ao constatar que faz parte de um grupo de criaturas irremediavelmente doidas. Sendo você uma mulher como eu, sem qualidades extraordinárias mas, ao menos, normal, creio que a leitura não trará grandes traumas, apenas alguns questionamentos, como o que abriu este texto e outros do tipo “onde estão escondidas todas essas psicopatas?”.

Questionamentos para os quais eu mesma tentei achar respostas. Mas não consegui. Me esforcei muito para ver o livro com bons olhos e até consegui enxergar ali uma tentativa de Leila Ferreira de retratar a tragicomédia que, de fato, é a vida de cada uma de nós. Mas acho que ela valorizou apenas o trágico. Ficou caricato e deprimente.

Não sei se é porque eu ainda tenho 24 anos, se porque não suporto shopping lotado aos sábados à tarde, ou se porque sou o tipo de mulher que não conhece onze tonalidades de azul. Fato é que não consegui evitar a náusea ao ler frases como: “Homens amadurecem (dignamente, como os vinhos) e mulheres vencem (deploravelmente, como as margarinas e os queijos)”.

Patético.


Leia também:

01/10/07 - Dona Branca e seu tesouro

17/09/07 - Já abraçou uma árvore hoje?

03/09/07 - Tudo numa coisa só

20/08/07 - Literatura para uma vida melhor

06/08/07 - Se Clark Kent era repórter...



_________________________________________________
Fernanda é jornalista, pós-graduanda em Gestão em Comunicação Corporativa. Trabalha como assessora de imprensa e ainda não sabe ao certo o que quer fazer da vida. Certeza, só uma: gosta desse negócio de escrever. "Tem que ter porquê?".
E-mail: ferdipinho@gmail.com



   
 

O melhor álbum de 2008 já?
A Rolling Stone(USA) sugere alguns. Votaria em qual? (Clique para ouvir)

Cat Power
Vampired Weekend
Hot Chip
Snoop Dogg
Black Mountain
Nenhum destes
                                  VOTAR!
 

Expediente::: Quem Somos::: Parceiros :::: Contato:::Política de Privacidade:::Patrocine nossa idéia
Copyright © 2008 O Binóculo On Line All rights reserved