
12/11/07
Conspiração submarina
Aconteceu um dia desses. Naturalmente.
Tudo acontece num dia desses. Entrei no meu Orkut e vi que
havia recebido um scrap. Li, respondi e apaguei. Como eu
faço com TODOS os meus scraps. Tudo normal. Até
eu atualizar minha página e dar de cara com dez recados
de feliz aniversário. E, não era meu aniversário.
A primeira coisa que pensei foi: trata-se de uma hostilização
coletiva dos meus amigos que estão tentando me enlouquecer.
Hipótese que foi por terra após eu ler os
recados e me recordar que eu já havia os lido naquele
em que foi, de fato, o dia do meu aniversário. É,
vivenciei um dejà vú cibernético. Por
algum motivo obscuro, meu Orkut vomitou de volta dez recados
que já haviam sido deletados dois meses atrás.
Matutei, matutei, matutei
e cheguei a uma única conclusão, inspirada
em tese de uma amiga minha: isso só pode ser coisa
do Christof . Minha amiga sustenta a idéia de que
vivemos como o personagem de Jim Carrey em O Show
de Truman e que todos os fatos bizarros da nossa vida
são friamente planejados pelo diretor do nosso show.
O Christof, que conta com uma equipe de ajudantes megaeficientes
da qual certamente fazem parte as pessoas que controlam
o Orkut e, claro, os atendentes de tele-marketing.
Em outras palavras: somos
todos vítimas do sistema. Talvez seja por isso que
me identifiquei tanto com o sitcom O Sistema,
estrelado por Selton Mello, que estreou na Rede Globo, na
sexta-feira, dia 02 de novembro. Os roteiristas Fernanda
Young e Alexandre Machado estão sendo muito perspicazes
ao retratar os dramas psicológicos que podem acometer
os seres-humanos prejudicados pelas artimanhas deste universo
virtual-paralelo onde habitam seres que ninguém nunca
viu, mas que estão sempre por perto.
Eu sou praticamente uma perseguida.
O episódio scraps fantasmas não
foi nada diante da batalha que venho travando contra um
site de compras (não vou dizer o nome para não
mexer com a ira de ninguém. Mas se refere a uma embarcação
que trafega pelo fundo do mar). O pior é pensar que
todos os dias, milhares de pessoas passam por semelhante
tortura.
No início é
tudo lindo. Se não fosse, ficaria muito mais difícil
perturbar os pobres mortais. O Christof, ou o sistema, sei
lá, é bem esperto. Você pensa num produto,
digita no buscador do site e pimba. Ele está lá.
À sua disposição. As facilidades são
tremendas. Um clique ali, outro aqui e pronto. Em três
dias o produto chegará ao conforto do seu lar. Mas
ele não chega! Passam-se os três dias, e mais
cinco, e mais dez. Aí você apela e decide reclamar
no Atendimento on-line do próprio site
com nome de embarcação marítima. Que
modernidade, nem vou precisar gastar um interurbano,
você pensa. Doce ilusão. Você não
precisará gastar um interurbano, mas uns quinze,
talvez. Depois de enfrentar uma fila virtual de 248 pessoas,
você recebe, incrédula, a seguinte mensagem:
O tempo máximo na fila de espera foi excedido.
Como assim??? Eu não fiquei esse tempo todo
na fila porque eu quis!!. Dane-se seus apelos. Ninguém
vai te ouvir. Simplesmente porque eles não existem
não nessa mesma dimensão. Pelo menos
é o que você irá concluir após
passar para a etapa dos telefonemas. As vozes e os vícios
de linguagem são todos iguais. Os nomes variam. Cíntia,
Inara, Vanessa, Ana Karina, Luiza. Você quer qualquer
coisa. Uma resposta, uma explicação, uma satisfação,
uma risada na sua cara. Qualquer coisa! Mas elas não
fazem nada. Transferem para uma, depois para a outra. Pedem
para aguardar um momentinho e fazem a ligação
cair oito minutos depois.
Nessa novela toda, lá
se vão semanas. Você não recebeu seu
produto e não tem a menor garantia de que um dia
receberá. A vontade era de ir reclamar pessoalmente.
Mas você não pode. Não sabe onde eles
ficam. Ninguém sabe. E ainda que soubessem, pouco
adiantaria. Você é só mais um que teve
o azar de ser vítima do sistema. Um entre tantos.
Então você rir.
Faz conjecturas sobra a teoria da conspiração
e imagina que essa foi só mais uma gracinha do Christof
pro seu lado. É mais lúdico pensar assim,
do que acreditar que você vive num lugar onde ordem
é apenas palavra decorativa de bandeira.
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Fernanda é mais uma
daquelas que fez faculdade de jornalismo porque gosta de
escrever. Então escreve. Muitas vezes, para dizer
o que pensa. Menos vezes do que gostaria, por dinheiro.
Suas palavras estão por aí. Mensalmente na
Revista da Leitura, quinzenalmente aqui no site. A qualquer
momento, em seu blog (www.blogdaferdi.blogspot.com).
E-mail: ferdipinho@gmail.com
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